“O crime nunca vai acabar por causa da polícia”: a participação policial decisiva nas relações criminais



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(Ilustração: Lara Albuquerque)

Vale observar que os acordos entre polícia e “bandidos” são extremamente frágeis e implicam apenas, de antemão, uma permissão para funcionar, não uma proteção total e irrestrita. A fluidez orgânica do sistema de relações sociais do crime impede que algumas pretensas regularidades se imponham de modo durável no tempo-espaço, sempre abrindo clareiras a tensões, rupturas, traições etc., embora estes fluxos de mudanças não alterem a solidez organizacional e hierárquica da rede.

Numa conversa com Pango, ele me contou sobre um desses episódios: “Macho, tinha vez que eles vinha pegar de duzentos conto por semana, aí foi crescendo… setecentos, aí depois eles queria já um dinheiro muito elevado, queria dois mil por quinzena. Aí a gente pagava, eles descia pro beco, via a gente tudo armado, mas num fazia nada, via a negada andando armada dentro do Tranquedo, deixava passar, mas saía caro pra gente isso. Aí teve um tempo que trocaram de comandante, aí o comandante cobrou muito deles, preles agir, vir pegar eu e meu irmão, o foco deles era eu e meu irmão. Nós andava muito escondido, ninguém via a gente não, nós só se apresentava à noite e era mesmo só pra organizar as coisas, e eu mesmo já me sumia, eu sumia, ninguém me via não. Aí eles traíram a confiança da gente, vieram pegar um dinheiro, aí com meia hora fizeram uma operação, só que nesse dia eu e meu irmão escapou, porque veio um cana [policial] na frente e me avisou: ‘Sai fora, que vai rolar uma operação e os homi vão querer pegar vocês’. Aí eu peguei e saí fora”.

O caso mostra o prestígio do qual se reveste Pango nas relações do crime no GTN. Geralmente, apenas os “patrões” são informados com antecedência de “botes” policiais. O próprio Pango me conta um episódio em que estas assimetrias salientam-se mais nitidamente. Um de seus principais fornecedores de drogas é do Rio de Janeiro e escoa as substâncias Brasil afora pelas rodovias federais. Pergunto como é o caminho que a droga percorre para chegar em Fortaleza: “Macho, ela passa por aí de caminhão, tem vez que vem é pela mão dos homi mesmo. Eles sempre arranja uma pessoa pra ir buscar, eles paga 10, 15 mil [reais] pra pessoa trazer, mas ali é só a isca, é o laranja, por detrás dele tá vindo uma tonelada, duas… sempre tem que botar um pra cair mah”.

Quero pontuar que os agentes criminais com parcos recursos materiais e simbólicos são as mais expostas e vulneráveis vítimas sacrificiais do sistema de relações sociais do crime. Vou ilustrar a análise com o caso empírico de Papagaio: “Os homi [policiais] levaram tudo, eles chega nas casa e leva tudo… eu cheguei a perder foi dois cordão aqui de prata pra eles numa abordagem, cheguei a perder mil reais aqui pra eles [se refere ao local onde ocorre a entrevista, lugar onde vendia a droga para a clientela]. Eles me levaram na viatura, aí quando chegou na avenida, eles dobrou na rua, aí pronto, ‘vão pedir dinheiro’. Os homi comeram foi tudo. Foi lá em casa, arrastou mil real meu, me pegou no meio da rua, arrastou quinhentos, pegou aqui, arrastou mais mil, levou mais mil real de droga meu. Entraram dentro da minha casa, sem mandato [mandado judicial], sem nada. Botaram a arma na minha cara, aí me espancaram, me jogaram dentro do banheiro, me deram altos chutes, altos murros, quebraram meu guarda-roupa, minha cama. Pediram seis mil real, o resto do dinheiro que o [Raposão] tinha roubado, disseram que eu tinha participado, [mas] eu não tinha participado. Queriam droga… ‘meu chapa, vou levar tu preso’, [ele retruca] ‘cadê o mandato?’, puxou lá e não tinha mandato de prisão ainda, não tinha. Os homi foram lá em casa duas vezes e quase me mataram de peia, na frente da mãe. E a mãe chorando, ó, mas eu num chorava não, eu achava era graça eu, eu tirava era onda eu… Aí eu tive que pagar os traficante, tá entendendo? [Aqui, ele imputa ao “arrendador” das drogas e do ponto, no caso, Raposão, o papel de verdadeiro traficante] Tive que trabalhar pra poder pagar, uma burocracia doida. Se num pagar, morre na mão dos outros traficantes, tá entendendo?”

Após estas palavras, percebe-se a desigualdade de tratamento policial entre Pango, um “patrão”, e Papagaio, um “avião”. Se de um lado, há no limite um mercado de proteção que, embora não esteja assentado em alicerces totalmente seguros e confiáveis, ainda assim alerta previamente sobre um “bote”; do outro, o que predomina é a insegurança e a instabilidade no dia a dia da atividade ilícita.

A tortura psicológica e as agressões brutais sofridas por Papagaio representam de certa forma uma “morte psíquica” do indivíduo, como pontua Axel Honnet, em Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Este autor adverte que a tortura e a violação, bem mais do que outras formas de desrespeito, provocam uma humilhação que intervém de maneira destrutiva na subjetividade da pessoa, uma vez que estes tipos de agressão não se resumem à dor corporal, mas têm uma ligação com a sensação desesperadora de estar à mercê do outro, totalmente desprotegido e vulnerável às vontades e disposições sádicas alheias, chegando até mesmo à perda de sentido de realidade. Ainda de acordo com Honnet, “o sofrimento da tortura ou da violação será sempre acompanhado de um colapso dramático da confiança na fidedignidade do mundo social e, com isso, na própria autossegurança”.

Vou contar um relato que me surpreendeu pelo ineditismo. Nas conversas com os interlocutores, sempre foi lugar-comum histórias de extorsão policial, praticada sobre traficantes varejistas e seus clientes usuários de drogas ilícitas. No entanto, a história que me foi contada por Saci, 26 anos, um ex-assaltante, que hoje trabalha informalmente de vigia e apenas “agiliza” pequenas quantidades de maconha e cocaína para os moradores da área onde exerce função de vigilância, foge aos padrões que estava acostumado a ouvir. Ele começou a assaltar ainda muito jovem, na virada da infância para a pré-adolescência, aos 11 anos: “Pegava um ferro e parava dois, três carro… ali na [fala o nome da rua]”. Nessa mesma época, começou a trabalhar de “avião” para “traficantes” do GTN. E, como ficou conhecido na mão da polícia, era sequestrado pelos agentes policiais, colocado na viatura e intimado a praticar assaltos “saidinha bancária” em benefício destes.

Segue parte da minha conversa com Saci:

— “Aí como fiquei conhecido mesmo na mão da polícia, né, mah, aí os cana foi lá em casa, mah. Às vezes quando eu tava dormindo eles iam me acordar pra mim ir roubar, mah. “Tem uma fita ali de 10 mil real, mah”, aí me davam um revólver, aí eu ia pro mato, aí ficavam me esperando na esquina.

— [Mentira, mah?]

— Ó… Tem muito cana corrupto, tô dizendo pra tu.

— [E como era? Conta aí essa história. Os cara ia na tua casa…]

— Me acordava… “Eu só quero quatro mil real e o resto tu fica”.

— [E eles sabiam dessa fita de onde?]

— Sabia, que uma mulher ia saindo com envelope na mão.

— [Era não, mah, sério mermo isso aí?]

— Tô dizendo pra tu. Eles diziam tudim, a roupa que ela tava, tudo. Aí eu ia, na hora que ela tava saindo metia [o assalto], entregava o ferro a eles…

— [Aí tu atalhou ela aonde?]

— Na Caixa [Econômica] da [avenida] Washington Soares…

— [E eles te levavam na viatura?]

— Levava. Aí ficavam na esquina.

— [Macho, num acredito não, mah.]

— Ei, macho, tu tá é por fora. [Quando voltava à viatura,] eles pegava o envelope, né. Eles tiravam cinco mil e me davam cinco mil, mandava eu sair fora, “vá simbora”.

— [Mas isso é a galera do [nome de um policial conhecido por corrupção no GTN]?]

— Também. Do [ele fala o nome de outro policial]. É, mah, tudim. Esses cana tudim é corrupto, mah.

— [Mas essa parada aí foi uma vez, ou teve outras?]

— Teve outra, mah. [Dessa vez] eles me levaram pra Aldeota [bairro das camadas médias e altas de Fortaleza]. Nesse tempo o revólver era barato, mah, 400 conto nóis comprava um oitão [calibre 38], mah. Aí eles entregavam na minha mão.

— [Esse tempo aí tu ainda era de menor?]

— Era de menor, mah. Roubei muito pra eles, mah. Dei muito dinheiro pra eles.

— [Como assim?]

— Nóis pagava era eles, mah, pra eles sair ali da [fala o nome de uma avenida]. Cheguei a pagar muitas vezes pra eles saírem dali pra mim roubar lá, mah.

— [Cês davam quanto, mais ou menos?]

— Se fosse três [assaltantes], nóis dava 300 conto, eles pegava o beco [iam embora]”.

Diante do exposto, apoiado em dados empíricos, endosso a perspectiva do sociólogo do Sri Lanka Stanley Tambiah, em Leveling crowds: ethnonationalist conflicts and collective violence in South Asia, de que as polícias praticam violência e tortura, física e psicológica, principalmente quando os sujeitos coagidos pertencem às camadas estigmatizadas.

Como vimos, são muitos os casos de violência policial relatados pelos interlocutores da pesquisa, envolvendo toda sorte de violações a acordos internacionais sobre os direitos humanos e às normas jurídicas constitucionalmente estabelecidas. Reitero, portanto, que para estabelecerem uma relação corrupta com os sujeitos criminais das favelas, as agências estatais, que têm a polícia como sua executora, acionam uma rede permanente e cíclica de extorsão, na qual os policiais lançam mão de recursos de poder simbólico próprios ao Estado – a condição de agentes “da lei e da ordem social” – para negociar acordos plenos de ilicitudes as mais diversas.

Embora as rupturas dos acordos entre policiais e “bandidos” ocorram com certa frequência, há também períodos de relativa estabilidade nesses arranjos, nos quais a polícia assume uma função bem peculiar: ela funciona como combustível que energiza a luta territorial pelo domínio do comércio de armas e drogas entre grupos criminais, incitando grupos rivais a desencadearem conflitos belicosos uns contra os outros.

Raposão me relatou que, na “época da guerra”, em que quadrilhas da Vila Cazumba, do Tancredo Neves e do Tasso Jereissati digladiavam-se para controlar o mercado de ilegalidades no GTN, policiais com seus “alvarás de funcionamento” muito bem pagos, insuflavam-no a guerrear: “[Diziam os militares] ‘Ó, mah, tô sabendo dos homicídio aí tudim, mas não é nenhuma não, pode ficar até com canhão aí, quando for com a minha rota, eu num lhe dou geral não, pode ficar aí’, e eu ficava 24 por 48, era uma 9 milímetro nas costas, um buldogue no bolso e dois pente chei aqui”.

Pango também me contou sobre uma situação semelhante, mas dessa vez os policiais foram mais explícitos: “Aí os homi chegava aqui e dizia: ‘Diabéisso? Quando é que isso vai parar mah? Quando é que isso vai parar?’. Aí eu ‘até nós matar tudim’. Aí eles ‘pois se mata’. Aí eles vinha, pegava o dinheiro deles e saía fora”.

Há diversas maneiras nas comunidades pobres com as quais os policiais ganham lucros econômicos que incorporam aos seus parcos salários. Estes modos de operação para obter dividendos “extras” variam de acordo com a dinâmica sociocultural local, a estrutura das relações que se estabelecem no território, a forma como está organizado o aparelho policial em determinado espaço etc.

Porém, duas destas maneiras se sobressaem como se fossem inerentes a todos os locais onde vivem populações marginalizadas. Uma delas é a política de “alvará de funcionamento”. A outra é o contrabando de drogas e armas, muitas destas de uso exclusivo dos aparatos militares.

Samurai, 30 anos, que trabalha vendendo maconha e cocaína em um território do GTN, me ajuda a contar essa história. Pergunto-lhe quem é seu fornecedor de arma e droga:

— “Macho, tem um cara né, que ele é lá da serra. O cara tem muita arma lá.

— [Mas ele é o quê?]

— Cara, ele é polícia. Pega ali, aí “tam”, vende aqui. Quando a polícia acerta [pega] uma arma, parceiro, óia, comemora. Quando pega uma arma… vixe, eles tava era falando: “égua, acabou a guerra, não vou pegar ninguém armado”. A polícia é traficante mah. A polícia é patrão mah. Vai numa festa de traficante pra tu ver. Numa festa quando tu entra já se bate com três policial.

— [É mermo é?]

— Ahh… é mah. O [Pivete] conhece vários. O [Pivete]… a segurança dele é polícia mah. [Mas ele num tá preso?] Tá preso mah, mas é policial que… [Têm vários policial por ele né?] É mah”.

Nas palavras de Samurai, fica claro que, em muitos casos, a relação entre policiais e “criminosos” ultrapassa o campo dos “negócios” e alcança uma cumplicidade amistosa; no entanto, não percamos de vista: sempre mediada pela força das armas de ambas as partes.

Raposão também comenta sobre o tráfico de armas comandado pelas polícias: “Porque tráfico de arma rola assim, você conhece um cara que trabalha na parte onde fica guardado os armamento, o armeiro do exército, da delegacia, seja onde for, em todo canto desse tem um armeiro, é onde fica guardado as arma que são apreendida, pra dali ir pro exército pra ser incinerada. Ali você paga quinhento pro [inaudível], quinhento pro permanente e quinhento pro delegado. Um pacote de mil e quinhento, dois mil. Aí te dá uma pistola, uma TA e um budogue, é o kit. Você se acaba de ganhar dinheiro, tráfico de arma começa aí, que a polícia fornece. É tipo, vamo supor, tu tem um depósito de brita pra fazer concreto, aí um cara chega lá: ‘Ei, mah, vou te dar 10 centavo por uma brita’, aí você pensa…  ‘vai lá, não custa nada, pegue, meu filho, vá simbora’, tudo muito fácil, tudo muito simples. Daí é o tráfico de arma… a polícia, o governo que fornece, a troco de dinheiro, pra ver você se matar, os inimigo e eles se beneficiarem. Inteligente, né, os cara? Tudo muito escondido. Aí ele vai, fornece arma pra tu, fornece arma pros teus inimigo, vocês se mata, eles se beneficia e continuam mais rico e os pobre mais pobre e assim sucessivamente. Por isso o Comando Vermelho tem tanta raiva do sistema, entendeu? Porque apesar de ser uma facção criminosa nóis tem muita gente inteligente”.

A fala de Raposão me incita a pensar algumas questões. De antemão, mesmo com todas as hipérboles que sua história apresenta, ela me parece factível em muitos aspectos. O mais próximo do inverossímil que sua narrativa alcança, na minha ótica, é o valor irrisório pelo qual um delegado se corrompe. Continuo desconfiando dessas quantias: por cerca de dois mil reais obter “uma pistola, uma TA e um budogue” me transmite certa irrazoabilidade. É muito “maquinário” para pouquíssimo investimento. Por mais que, na analogia com o depósito de brita, ele tenha tentado explicar os baixos recursos empregados na “compra” com a justificativa de que há uma abundância descartável de armas e munições nos “armeiros”, penso que a polícia ou o exército têm uma expertise histórica nessas transações, e não se furtariam – com o perdão do trocadilho – à oportunidade de conseguir lucros mais vultosos. Contudo, se de um lado os valores me pareceram distorcidos, por outro, a maneira como se realiza a operação é bastante verossímil. O segundo ponto que eu queria destacar de sua fala é que há uma idealização ética do Comando Vermelho (CV), não sei se realizada estrategicamente para efeito de florear a entrevista ou por uma possível ingenuidade dele em relação à facção à qual pertence. Se a análise sociológica fosse uma ciência exata, acredito que a fórmula matemática me levaria à primeira opção.

Pango reitera as falas de Samurai e Raposão. Indago-lhe sobre o fornecimento de armas: Macho, é os cana [policiais] mesmo. A polícia apreende uma arma aqui, dá prum fulano que é conhecido dele vender ali, e assim vai adiante. As armas [que eles apreendem] volta tudo. Delegado, advogado, policial, eles tudim vende. Num tem um que não venda mah. Arma e bala. Até droga eles vende. Só que quem compra num vai dizer que tá comprando de cana né, fica só entre eles ali. Nunca vai acabar não mah, o crime nunca vai acabar por causa da polícia mah, muito corrupto, muito corrupto mesmo, num dá nem pra contar… agora eles se escondem dentro da farda deles, eles se esconde. Mas os vagabundo mais vagabundo são eles mah, que usa a farda deles”.

Um jovem de apenas 15 anos, entrevistado para o livro Cabeça de porco, envolvido em atividades criminais em um morro no Rio de Janeiro também mostra uma azeitada percepção sociológica dessas relações entre criminalidade pobre e polícia: “Eu não vejo chance do crime acabar, porque, se acabar o crime, acaba a polícia. Se acabar o crime isso acaba com a polícia, porque quem dá dinheiro pros polícia somos nós. […] Se não fosse o tráfico de drogas, hoje, os policiais iam tirar só o salário deles e eles tiram o salário e também o dinheiro da propina que nós pagamos. Se acabar o tráfico de drogas, eles vão ter de acabar com a polícia; então, o tráfico de drogas não vai acabar tão cedo”.

Pango e o jovem do morro carioca fazem uma leitura empírica pertinente do sistema de relações sociais do crime. Quando afirmam convictos que o “crime nunca vai acabar por causa da polícia”, eles empreendem uma interpretação analítica que, longe de ser lugar-comum, caminha na contramão do senso comum. Cabe a reflexão de Celso Athayde, extraída de Cabeça de porco:

“Quem é o verdadeiro bandido dessa história? Qual é o ato criminoso mais vil? Vender produtos proibidos ou montar a farsa hipócrita que encobre os crimes do Estado e estigmatiza toda uma população? Vender drogas e armas sem farda ou com farda?”.

As políticas públicas pensadas para o sistema de segurança estatal respondem a anseios da sociedade por mais policiamento ostensivo nas ruas. No Brasil, o simplório aumento do efetivo policial transformou-se automaticamente em sinônimo de êxito governamental. Se o desemprego generalizado é a tônica dos últimos anos, por outro lado, na ilha de fantasia do estatismo, as autoridades vão à imprensa gabar-se de que, sob sua gestão, duplicou-se ou triplicou-se o quadro de soldados, como se isso, por si só, tivesse a eficácia mágica de solucionar os problemas relacionados às muitas violências físicas e simbólicas da sociedade brasileira. Um rap do grupo RZO ilustra perfeitamente essa questão: “Sistema sabe onde investe: só tem vaga pra trampar na polícia militar, corrupção vai aumentar”.

A análise de Pango é a mesma que eu faço: nas relações sociais do crime, a função da polícia não é estancar o sangramento, mas irrigar as veias do sistema para que ele produza cada vez mais sangue.

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A série “Antropologia do crime no Ceará” é publicada semanalmente no #siteberro. Veja abaixo os textos anteriores. 

i. A dimensão ética na pesquisa de campo

ii. Pesquisando o “mundo do crime” e inserindo-se no “campo”

iii. Grande Tancredo Neves: formação dos territórios

iv. As relações sociais das camadas populares

v. A feira como arte da oralidade popular

vi. O favelês cearense

vii. Estabelecidos e outsiders: a favela dentro da favela

viii“Trabalhadores” e “bandidos”: entre separações e aproximações

ix. Sistema de relações sociais do crime: uma rede de ações criminais hierárquicas

x. “O dinheiro fala mais alto, [com ele] se torna mais fácil de fazer justiça”: A violência do aparelho judiciário

xi. “Não confio na polícia”: A relação de descrença entre a classe trabalhadora e os policiais

xii. A economia da corrupção que move a relação entre polícia e “bandidos”


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