Sexo, drogas e rock’n’roll: o movimento hippie 



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(Ilustração: Levi Noli/Revista Berro)

Continuamos discutindo acerca dos movimentos advindos da contracultura para entender e contextualizar o momento histórico em que a imprensa alternativa dos anos 1960 emerge forte no Brasil. Como já dissemos em artigos anteriores, não é possível entender o fenômeno da explosão de jornais alternativos no país sem referenciá-lo com as mudanças comportamentais e culturais que espalhavam-se pelo planeta.

Nenhum outro movimento assimilou tão bem os valores e ideias da contracultura quanto o hippie. As pessoas hippies representaram, sem dúvida, a vanguarda do movimento da contracultura e foram as maiores responsáveis pela irradiação das idéias “contraculturais” mundo afora. O movimento hippie foi o motor central da crítica à sociedade do consumo, à cultura empresarial arraigada ao trabalho, aos costumes burgueses, e aos padrões e valores pré-estabelecidos – e aceitos, sem questionamentos, pela grande maioria: a sociedade burguesa unidimensional – fazendo uso de um termo marcuseano.

Na sua pegada, faziam apologia ao amor livre e à paz universal, bem como estimulavam o uso de drogas – principalmente maconha e LSD – enquanto ampliadoras da consciência. Uma das muitas utopias daquela época era a de que o “uso das drogas expandiria estados de consciência e ampliaria ‘as portas da percepção’”, diz Zuenir Ventura, em 1968: O que fizemos de nós. Segundo Ventura, “embalada pela efervescência hippie a geração de 1968 assumiu em relação ao problema uma atitude de condescendência, em nome da liberdade de experimentação existencial”.

Pegando carona com o movimento, a maconha e o LSD tornaram-se as drogas mais populares dos anos de 1960 em muitos lugares do mundo. De acordo com Mark Kurlansky, em 1968 – O ano que abalou o mundo, nos campi universitários fumar maconha era mais natural do que hoje é fumar um cigarro comum. O LSD, por sua vez, que “foi inventado acidentalmente num laboratório suíço, na década de 30, por um médico, Albert Hofmann, quando uma pequena quantidade do composto, nas pontas dos seus dedos, resultou num ‘estado alterado de percepção do mundo’”, relata Kurlansky, caiu no uso comum durante a geração sessentista.

O ácido teve como um de seus principais apologistas o professor de psicologia de Harvard, Timothy Leary, que o estudou, tomando-o e também dando-o a outros. “Foi Leary quem proclamou as ‘energias sagradas’ da droga, e passou a ser tratado como seu descobridor”, conta Zuenir Ventura. Quando morreu, em 1996, aos 76 anos, sua cabeça foi guardada para estudos, a seu pedido.

O ácido tornou-se tão popular e venerado enquanto revelador dos estados da consciência e por sua capacidade de transcendência que o poeta estadunidense da geração beat, Allen Ginsberg, “insistiu para que todas as pessoas com mais de 14 anos experimentassem o LSD ao menos uma vez”, sublinha Kurlansky. Um dos fundadores do new journalism americano, Tom Wolfe, ajudou ainda mais a popularizar a substância ao publicar, em 1968, o best-seller The Eletric Kool-Aid Acid Test, “que louvou e popularizou o LSD”, comenta o autor.

Seguindo essa tendência apologética ao LSD e à maconha, a música, sobretudo o rock, também incorporou-se ao movimento, na medida em que as bandas à época, como Beatles, The Doors e Rolling Stones, caprichavam bem mais numa comunicação visual psicodélica em seus álbuns.

Kurlansky comenta que “os novos álbuns de discos vinham com capas cada vez mais elaboradas, muitos com abas duplas, as fotos com curiosos trajes e encenações postas em grafismos rodopiantes e pulsantes. As capas de álbuns eram projetadas para que os jovens fumadores de maconha ou que ‘tomavam ácido’ passassem horas examinando-as. Sob a influência das drogas, tudo parecia ter um duplo sentido, com profundos significados escondidos”.

Combinar música, maconha e ácido era o grande barato daqueles tempos entre os hippies. A segunda metade da década de 1960 é lembrada “por sua música pesadamente amplificada, cheia de vibrato eletrônico, lentos e declinantes sinais e outros truques agradáveis aos usuários de drogas”, sublinha Kurlansky.

Consonando com todo esse pujante momento de “sex, drugs and rock and roll”, o fim da década reservaria um festival que teria seu lugar entre os grandes acontecimentos daqueles agitados anos: Woodstock, a lendária celebração dos hippies, que ocorreu em agosto de 1969. O Festival de Woodstock conseguiu atrair, para uma fazenda perto de Nova York, durante três dias, cerca de 500 mil jovens. Woodstock transformou-se, com o passar dos anos, “em símbolo da contracultura e apogeu da filosofia paz e amor, diametralmente oposta à Guerra Fria e à oposição direita e esquerda, um culto à liberdade individual que afetava, de forma indireta, a sociedade como um todo”, ressalta o músico e escritor Cadão Volpato, no artigo Paz e amor, bicho.

Por ter sido um festival tão grandioso, que atraiu meio milhão de pessoas, artistas de prestígio como Janis Joplin e Jimi Hendrix, imagina-se que Woodstock foi um megaevento bem planejado e organizado. Ledo engano. O festival foi uma bagunça, “o lamaçal mais icônico da história do rock and roll”, resume Volpato.

Zuenir Ventura traz um relato de um participante do evento: “O problema é que não tinha jeito de aquela área abrigar tanta gente; então, quando os músicos começaram a chegar, o engarrafamento ficou gigantesco. Com todas as estradas bloqueadas, os organizadores tiveram de alugar helicópteros do Exército para trazer os músicos. Havia também o problema do tempo, que às vezes ficava pavoroso. Na sexta-feira, caiu muita chuva. No geral, mais de 5 mil atendimentos médicos foram documentados, muitos deles em razão do uso de drogas. É difícil acreditar que algo assim poderia acontecer espontaneamente. Era como uma tempestade perfeita: o tempo perfeito do movimento da contracultura, o local perfeito, o zumbido perfeito, a ingenuidade e a inocência perfeita Foi um perfeito fiasco em quase todos os aspectos, exceto um: a música funcionou. Foi esse sucesso essencial que tornou Woodstock mundialmente famoso”.

O establishment não conseguia compreender, na essência, a cultura e a filosofia dos hippies. Um editorial da Paris Match, datado de 1968, pontuava que “eles condenam a sociedade soviética da mesma forma que a sociedade burguesa: organização industrial, disciplina social, a aspiração pela riqueza material, os toaletes e o trabalho. Em outras palavras, eles rejeitam a sociedade ocidental”.

As críticas aos adeptos do movimento hippie pareciam bem simplistas diante da subjetiva e profunda escolha de vida dos “bichos-grilos”.  Para Kurlansky, a rejeição ao materialismo e o repúdio à cultura empresarial não significavam, de maneira nenhuma, uma negação ao trabalho, como muitos reacionários diziam. “Uma persistente alegação de falta de higiene era usada para minimizar uma maneira diferente de se vestir”, frisa o autor.O que se sabe é que aqueles tempos ficarão eternamente marcados pelo lema hippie que espalhou-se pelo mundo todo: “sex, drugs and rock and roll”.

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A série O jornalismo alternativo na ditadura militar é publicada sistematicamente no #siteberro.

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Clique no link abaixo para acessar os textos anteriores:

I. O contexto sócio-histórico do nascedouro da imprensa alternativa no Brasil

II. A revolução dos “bichos-grilos”: o nascimento da contracultura

III. O movimento dos direitos civis: as lutas feministas e negras


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One Reply to “Sexo, drogas e rock’n’roll: o movimento hippie ”

  1. eu sou muito gay e amo ser gay. Minha vida inteira se baseia em ser gay. Dar o cu para homens musculosos é meu maior hobbie, porém eu não sou fã nem de drogas de de rock and roll. Você acha que se eu começar a ouvir mais rock and roll eu conseguiria mais homens fortes para me foder? Tudo o que eu quero é dar o cu, não consigo fazer nada sem antes dar o cu, é uma preocupação constante em minha vida. Por favor me ajudem

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