O presente de domingo



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Bárbara Braz

Passando por um certo bairro na periferia de Fortaleza, meu coração alargou-se.

Crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos. Bola de futebol, balão, skate, carrinho de pipoca, algodão doce, churrasquinho. Tudo junto, numa noite bonita.

Me alegrei ao ver aquela cena, todas aquelas pessoas reunidas, uma multidão diria! Todos em volta de um praça recém-inaugurada. Nunca vi tanta gente junta numa praça só. Parecia que há muito a comunidade esperava por esse momento, por esse domingo diferente.

Que lazer temos nas periferias? Que espaço eles ocupam?

As ruas irregulares, com esgoto a céu aberto? As calçadas velhas?

A periferia me alegra. Embora com os parcos espaços que lhe são oferecidos, não se morre o desejo pelo outro, o desejo da sociabilidade. Eles, criativos como ninguém, redescobrem lugares, que a classe média shoppista jamais o faria.

Fico muito feliz ao vê-los sempre em bandos, nas calçadas, embora velhas e sujas, vejo o diálogo, a fofoca, a cervejinha, o riso. Vejo o ser humano sendo humano, sendo coletivo, sendo outro.

Acho isso um paradoxo maluco. Num mundo onde a sociedade é permeada pelo dinheiro, onde o entretenimento tomou o lugar da cultura, e ainda exige dinheiro para desfrutá-lo, deparar-nos com uma sociabilidade para além disso é ter esperança, é reacreditar no homem.

No entanto, longe das flores, isso acontece fora dos olhos das políticas públicas, política de saneamento básico, política de moradia, política de segurança, enfim, política de uma cidade digna. A periferia ainda não conheceu a dignidade.

Mas nesse domingo, ela conheceu a praça. E essa praça, seguramente, os fará ainda mais humanos. E quem sabe espelhos de uma cultura – que enxerga o tempo livre para além do consumo!

Bárbara Braz é assistente social e vê muita beleza no sorriso de uma criança

 


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