Do sonho*



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(Pintura: A Noite Estrelada, de Van Gogh)

Por João Ernesto

Era uma enorme feira e por algum motivo aquele sonho não me era estranho. Eu sabia a quem procurava, mas não sabia o porquê a procurava… mas sabia. Era uma enorme feira e o que menos se via eram frutas, verduras ou telefones celulares. Os vendedores eram os produtos e justificavam seus preços através de suas virtudes. Um me chamou atenção: “sou uma boa companhia para um banho de chuva”, dizia. Poderia ser, mas para além de companhia ele era pista. Perguntei por ela e a resposta foi rápida e um pouco vaga: “ela parou de vender. Saiu daqui com uma mão segurando a sacola e a outra na cintura, não voltou mais”. Mas essa enorme feira que parece não ter mais fim, ela só podia estar aqui… não existe nada mais pra além dessa feira. O homem ficou calado como quem guardasse um segredo. Não me ative a resposta, procurei na sessão de desejantes de casinhas brancas, nos observadores de lusco-fusco e até na de vaidade e aparência… “ela foi pro mar”, concluí. Fui no caminho do litoral sem nenhuma sacola, nem roupas, nem ansiedades. Nem senti os calos escorrerem na sola dos pés, nem o sal ardendo e sarando as feridas.Com um olhar lacrimoso avistei o horizonte. Chorei por alguns segundos, depois esbafori um sorriso e deixei perder o chão.

João Ernesto acredita que as reticências ainda querem dizer muita coisa…

Publicado na Revista Berro – Ano 01 – Edição 03 – Dezembro/Janeiro 2015 (aqui, versão PDF)


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