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Cuba, 9 de janeiro de 2020
Querido Ardilla,
Cuba convida a um colonialismo inacabado misturado a um guevarismo permanente, e é difícil manter o perfil civilizado(r) por muito tempo. As pernas passam lentas. O tempo sem cabos e sem intermediários faz recuar o ímpeto imediatista.
Sua gente se defende o tempo todo, e é uma tarefa extenuante esquivar-se das tentativas de “enturistamento” que, às vezes, são tão agressivas que se assemelham à obrigação que tem cada pessoa cubana de defender-se a vida face à montanha de privações e dificuldades que fazem com que uma se transforme no velho do mar de Hemingway.
Entre aromas de Fricassê de Porco, Arroz Moro e da merda que abunda pelas ruas dos bairros (populares?), Cuba vai revelando-se; linda e decadente.
Suas águas calmas e límpidas são encantadoras e miram com olhos de inocência, com a mesma inocência das crianças a caminho da escola com seus uniformes cor vinho e seus lenços celestes sobre o pescoço; presenteando sorrisos e curiosas saudações a essas pessoas que parecem ser diferentes delas.
Já não existe a tradicional Salsa, substituída pelo latino Reguetón “tipo exportação”. E tudo o que foi sonhado por Diego em “Fresa y Chocolate” parece ter sido vencido pela agonia interminável de passar o tempo buscando uma forma de ganhar a vida; fazendo todo tipo de negócio e a qualquer custo.
“Hey man, how much would you pay for this lady? A hundred?“, pergunta um homem a um turista; supostamente europeu. Meus olhos perguntam porque eu me espanto com a oferta. Teria eu sido cooptada pelo moralismo burguês que tanto condeno? Ou seria só uma constatação consternada de que a exploração dos corpos não conhece ideologias?
Enquanto escrevo essas linhas — desde a cidade de Cienfuegos —, chega pela janela da casa que me abriga um Granma que traz na capa o título “La caravana de la libertad en La Habana; Y en eso llegó Fidel“…
Cuídate, Ardilla.
Beijos muitos,
Andreia
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Este texto é o primeiro da série Cartas a Ardilla, de Vanessa Dourado.
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