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Por João Ernesto
Dos 49 mortos
O que contraria a estatística é o filho de afegão
Que poderia muito bem ser um morador do castelão a próxima vítima
Ou algoz.
Se 49, ou cinqüenta,
Configura atentado
No mesmo dia, o mesmo dado
Colocado lado a lado
Muda a retórica
De quem absurda o número
e desconsidera a história.
Em um fuzil cabem algumas balas
Um corpo cravejado de hematomas por escolher ser
O que se é.
Em uma boate cabem, além de pessoas,
Tantos amores, afetos.
Corpos abertos por escolher ser o que se é.
Um dia desses uma travesti foi espancada, desfigurada.
Teve seus cabelos arrancados a faca.
Outro dia, outra travesti em Aracaju,
Outra em Manaus, Sobral, Juazeiro.
Rostos desfigurados à pedra.
Atentados por ser o que se é.
Atentados. Atentadas.
Numa tentativa simples em ser o que se é.
É simples.
Ser o que se seria se
um tanto mais tolerantes.
Aceitar o normal
desejo e afeto
Como sendo simplesmente como… Normal.
Como sendo se seríamos
Nunca vi cachorro mordendo outro por estar pinando em perna alheia.
Nunca vi elefante dando trombada por que seu filhote tá rolando no chão de forma afeminada.
Sejamos bem honestos quanto a isso:
Atentado é coisa de bicho gente
Que mata e maltrata
Maldiz
outra gente apenas por ser gente.
de sentir e partilhar o que se sente
enquanto gente.
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Poesia publicada na coluna Lusco-Fusco na Revista Berro – Ano 02 – Edição 05 – Julho/Agosto 2016 (pg. 27) (aqui, versão PDF)
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