A Seca



0 Comentários



(Pintura: João Barcelos)

 

Débora Suelda

Quando eu nasci ele já estava lá.
Nasceu para matar a sede dos animais,
para refrescar a alma
(das mulheres que se cansaram de lavar roupa
ou se cansaram de tudo).

Nasceu para que os homens pudessem
colocar água nos galões e abastecer a casa.
Para que as crianças fizessem piruetas,
mergulhos profundos e travessias.

Nasceu para que outras vidas
surgissem.
Peixes, sapos
e perfumadas vitórias-régias.

Dentro dele,
Vivi brincadeiras,
as primeiras tentativas de nadar,
mergulhos desajeitados,
Risos, descobertas.

O olhar não resume mais a paisagem,
Agora ele faz parte das recordações,
Do movimento da vida,
da história do povo.

Há tempos, não o vejo fora dos sonhos ou recordações.

As lágrimas ainda não secaram.
É triste saber,
Dizer ou escrever,
que o açude secou.

Débora Suelda é professora, psicóloga nas horas vagas, e expressa os sentimentos que tem do mundo, quase sempre, através de poemas


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *