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Vi pela primeira vez algo sobre Orlando Zaccone – delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro – numa entrevista audiovisual que ele deu a uma das muitas páginas antiproibicionistas e pela legalização das drogas que curto no Facebook. Achei suas ideias iradas e avançadas pra quem fala a partir da “autoridade” e do status de um delegado.
Ele também atua na LEAP Brasil (Law Enforcement Against Prohibition), organização internacional de agentes policiais e do judiciário que defendem a legalização e regulação das drogas – de todas! Ficou nacionalmente conhecido porque foi o responsável pela investigação do midiático caso do pedreiro Amarildo, que foi torturado e morto por policiais militares da UPP da Rocinha, no Rio. Ao todo, 25 policiais foram considerados culpados pela morte de Amarildo.
Quando soube de sua vinda pra Fortaleza, a convite do Comitê Cearense pela Desmilitarização, pensei que uma entrevista dele pra Berro seria massa! Após um debate muito bom na ADUFC (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará), convidei-o e ele topou: seria depois de uma atividade na Associação das Vítimas de Violência Policial do Estado do Ceará (AVVPC), no bairro Ellery, onde em 2013 duas pessoas morreram e duas ficaram feridas após disparos de policiais numa festa de pré-carnaval.
No dia combinado, éramos quatro: eu, João Ernesto, Joana Borges e Sarah Coelho. Atrasamos um pouco. O trânsito na Sargento Hermínio estava caótico. Acendemos um pra relaxar e abstrair daquele engarrafamento. Quando chegamos à Associação, na roda de conversa Zaccone falou com os moradores do bairro sobre violência policial e do Estado, e no final disse que faria a interlocução da AVVPC com associações afins no Rio. Mas queríamos mesmo era entrevistá-lo. Surpresa: a conversa com o delegado não poderia ser ali, na Associação, porque àquela hora, perto das nove da noite, ficava perigoso manter o espaço aberto, disseram os moradores do bairro. E foi um deles, o Rafael, membro da AVVPC, que gentilmente disponibilizou sua casa pra gente fazer a entrevista.
Mesmo com os percalços, a entrevista rolou. A gente ainda foi deixar o entrevistado num restaurante pelas bandas da Aldeota e rumou naquela sexta à noite pro Ferro Velho, nosso lar/bar no Benfica, com a finalidade de comer um baião-de-dois com moela e tomar algumas brejas pra lavar! Ao chegar, mais um beque pra apaziguar e arejar a cabeça!
No fim das contas, apesar do improviso – e dos pivetes que jogavam bola no meio da rua e gritavam o tempo todo (vocês vão perceber isso nos vídeos) -, a entrevista ficou massa! Vocês vão perceber várias marcas de oralidade na nossa escrita, mas é assim mesmo que pensamos o jornalismo: despojado, de bermudão e chinelo, sem apego às exigências quadradonas e excêntricas da gramática normativa. Quanto ao conteúdo, somos suspeitos pra falar, mas botem fé que o delegado tranquilão desconstrói diversas questões que estão arraigadas no senso comum. Ao longo da conversa, do alto de sua paciência Hare Krishna (a entrevista era pra ser de 25 minutos e se estendeu por mais de uma hora; sim, ele é mesmo Hare Krishna!) e de sua afiada crítica à sociedade contemporânea, ele desenvolve leituras sociais interessantíssimas, que fogem às obviedades e às resoluções clichês.
Como o material ficou grande demais e não queríamos cortar nada, a entrevista foi dividida em quatro partes. Cuuuida que tá valendo!
Entrevista Zaccone – parte I: “A alternativa é a legalização”
Entrevista Zaccone – parte III: “Criminalização da pobreza é redundância”
Entrevista Zaccone – parte IV: “Paz entre nós, guerra aos senhores!”