Bancada da bala e programas policiais: o circo de horrores ameaça a sociedade



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(Charge: adaptação de Latuff)

Passadas as eleições para deputados estaduais e federais no Ceará, constatou-se que infelizmente a “bancada da bala”, como são conhecidos os parlamentares que ganharam vagam no legislativo devido às suas atuações em programas policiais, conseguiu se reeleger: Ferreira Aragão e Ely Aguiar, para estadual, e Vitor Valim, para federal, sem contar os PMs capitão Wagner, o estadual mais votado em toda a história cearense, e cabo Sabino (federal).

A militarização cada vez maior da sociedade e da política e o “medo social” embutido nelas são os responsáveis diretos por estes parlamentares. Quando se fala em militarização da sociedade, não se pode deixar de lado a contribuição terrível que os programas policialescos dão para a implantação do terror social. Estes programas-lixo, que ocupam espaços generosos nas grades de programação das emissoras televisivas em todo o Brasil, são um desserviço à dignidade das pessoas e à luta pela igualdade de direitos; pelo contrário, prestam um enorme serviço ao extermínio de uma juventude periférica e à manutenção e ampliação das injustiças sociais e de uma sociedade cada vez mais militarizada. Aqui no Ceará, o arroz, feijão e bife do almoço e da janta são devorados em meio aos olhos vidrados na tela de tevê, que “delicia” seus telespectadores com muito sangue, assassinatos, chacinas e acontecimentos afins.

Entre as características comuns a esses programas-lixo estão o desprezo pelo entrevistado, quando este é o “bandido” pobre; a carnificina escancarada (quanto mais sangue, melhor); a não discussão acerca da corrupção policial, mas, pelo contrário, a defesa intransigente dos PMs, “os defensores e heróis da população”; a criminalização dos moradores da periferia, que, paradoxalmente, são os principais consumidores desses lixos; a vitimização exacerbada da classe média, que “sofre na mão dos bandidos, esses meliantes que merecem a prisão”; a espetacularização da dor alheia; o desrespeito total e irrestrito à dignidade e aos direitos humanos das pessoas; além da formação de currais eleitorais escondidos por trás de um assistencialismo barato e promoções “engana besta” das mais diversas.

Para uma sociedade melhor, o circo de horrores protagonizado por esses lixos televisivos tem que acabar. Mas o poder público, que poderia impor limitações de conteúdo e banir certas programações, faz vistas grossas. Não dá mais para aceitarmos passivamente estes senhores da guerra vociferando cinicamente contra a violência e a “bandidagem”, quando na verdade contribuem para o adoecimento da sociedade e a tornam ainda mais violenta. Esses programetes banalizam a vida, à medida em que, ao bombardear os telespectadores com assassinatos, execuções sumárias, homicídios, latrocínios etc., naturalizam de tal forma a morte violenta que as pessoas que assistem a esse espetáculo televisivo recheado de sangue à la Tarantino passam a vê-la como normal. E, o que é pior, não se debruçam a analisar as causas da violência (desigualdade social; falta de oportunidades igualitárias; exclusão de uma parcela da sociedade dos processos sociais, educacionais e econômicos; sociedade do consumo, que impõe padrões consumistas, etc.), mas vomitam as consequências (sequestros, assaltos, homicídios, etc.) com altor teor preconceituoso e moralista.

A eleição desses senhores da guerra, que posam hipocritamente de arautos da paz e da harmonia social, para mandatos legislativos, só contribui para o acirramento do fosso social que separa marginalizados e beneficiados pela sociedade do espetáculo. E, paradoxalmente aos seus discursos, só reforçam e ampliam a violência e o medo social.


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