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Muitas pessoas ficam se perguntando se essa “ideia” de violência específica contra mulheres de fato existe ou trata-se apenas de uma vitimização generalizada de um grupo de mulheres surtadas.
Se lhe parece agressivo o conteúdo do primeiro parágrafo, fique sabendo que não só para você, nós mulheres – especialmente as feministas -, recebemos esse tipo de questionamento todos os dias quando denunciamos abusos de companheiros que pensam as companheiras como suas propriedades e que, portanto, acreditam que podem fazer com elas o que bem quiserem, incluindo agredir e humilhar; quando não aceitamos que tenhamos direitos diferentes simplesmente por possuir anatomia diferente, e por isso exigimos salários iguais e políticas afirmativas que possam nos incluir nos espaços políticos, pois não dá mais para pensar que lugar de mulher é na cozinha e em casa cuidando dos filhos, nem mesmo que o trabalho doméstico não seja considerado trabalho de fato, e sim uma obrigação de quem “optou” por essa árdua tarefa. A realidade é que, enquanto isso não é compreendido, muitas mulheres desempenham dupla jornada de trabalho e são obrigadas a abrir mão de suas aspirações, legitimamente humanas.
Durante muito tempo ao longo da história nosso papel, enquanto mulheres, sempre foi de submissão aos homens, é natural que, com o passar do tempo e amadurecimento de nossa consciência, queiramos ocupar os espaços que nos foi historicamente negado e que façamos isso de maneira veemente, o que muitas vezes é interpretado como agressivo e insano. Mas, na verdade, é a única forma de fazer com que sejamos ouvidas e entendidas, se a voz não ecoa a caminhada não avança.
A violência contra a mulher não é só física; é social e psicológica também. Fomos criadas para o casamento, para sermos mulheres bonitas – dentro dos padrões emburrecedores da mídia -, mães exemplares, esposas amorosas, seres frágeis e que precisam de proteção. Desconstruir isso é uma luta diária. Quando optamos pela liberdade, por sermos profissionais qualificadas, mães solteiras e mulheres sexualmente livres dos padrões impostos pela sociedade, sofremos todo tipo de preconceito e incompreensões, que vão desde sermos taxadas como masculinizadas até vagabundas e loucas.
Muitos têm sido os esforços de alguns em compreender nossa luta, mas infelizmente ainda há aqueles e aquelas que naturalizam a violência e a reafirmam todos os dias.
Por isso neste dia, que é o dia de combate à violência contra a mulher, que possamos questionar nossos atos, entender as mulheres como produto de um meio misógino e opressor, que não calemos as vozes das tantas mulheres que tentam desconstruir essa triste realidade, e lutemos juntas e juntos para que ser mulher também seja um direito humano.
Vanessa Dourado é poeta e feminista latino-americana
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