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Estávamos saindo de nossas correrias, estamos no processo de gravação, então o nosso dia estava sendo dedicado a isso. Sexta era um dos dias que a gente acompanhava umas das personagens, e à noite nosso destino era o reggae. Do meu lado a Laís. Organizamos tudo ao chegar na casa dela, guardamos as coisas. Saí da casa dela apenas com a minha mochila, nela tão meus livros e outras papeladas. Peguei um costume de andar com um ou mais livros para poder ler em momentos livres do dia.
Caminhamos para o anfiteatro, mas antes demos uma passada na dona Leonora, bebemos um copo de caldo enquanto conversávamos. Josefa tava perto da gente, ela é uma irmã da igreja, e atualmente está acompanhando um dos candidatos para ser agente comunitário, ela já sabia em quem votar, conversava com a gente sobre e falando com mais detalhes sobre o tal candidato. Após muita conversa com ela a gente saiu. Fomos para o anfiteatro do Cuca, este é um dos espaços onde a galera se reúne para beber um São Braz, conversar ou mesmo matar o tempo. Na arquibancada encontramos a Sâmia e a Tânia se abraçando, logo elas nos oferecem um copo de vinho, que estava do lado delas.
O reggae troava, a caixa de som no meio do anfiteatro, que logo era ocupado pelos casais que chegam, se abraçam, se preparando para dançar o A2. Sentados, tomando vinho, a conversa sobre a noite e a movimentação do reggae. Nas sextas-feiras por aqui é assim; principalmente quando os “homis” não embaçam. As conversas, os olhares e os beijos daqueles que curtiam, dançando ou apenas contemplando. O anfiteatro enche pouco a pouco. E o melhor disso tudo desta noite é estar do lado de quem a gente confia. E tal hora eu tô lá, dançando uma valsa para desopilar a mente, e se perder entre o aconchego do A2.
A hora se estica, e eu estava sem bike, pois passei o dia fora, fiquei de colar na casa da Laís para poder chamar um Uber. Saindo do anfiteatro uma nuvem carregada chegou, trazendo uma forte chuva, corremos para debaixo de uma lona que improvisava uma barraca, a lona começou a ser ocupada pela galera que também corria.
Rua Alef de Sousa, pista molhada, pessoas correndo aleatoriamente para diversos lados, algumas chegavam com a gente, outros se escondiam, debaixo da lona conversávamos, outros tomavam goles do vinho que ainda tinham em suas mãos. As diversas pessoas que se encontravam no anfiteatro corriam para todos os lados, esvaziando a arquibancada. Os que correram para dentro do espaço do anfiteatro chegavam e já saíam, pois do outro lado vinham os “homis”, que chegaram pelo outro lado, todos ali tinham sido surpreendidos. De um lado a chuva carregada, e do outro a polícia que vociferadamente chegava em suas motos, com armas e sprays apontados para aqueles que estivem à sua frente.
Víamos tudo isso dali, esta sexta-feira o reggae troava para animar a noite que tinha acabado de acabar. Primeiro que a chuva não empataria tanto, pois sempre nos aconchegamos e juntamos debaixo do anfiteatro, mas a polícia em si já anunciava o fim real da noite. A galera na lona tirava prosa, bebiam o braz. A gente ria, escutando a chuva bater na lona, e a água que passava pelos nossos pés.
O céu anunciava que essa chuva não pararia tão cedo. — Vamos na chuva mesmo — dizia Laís. Eu olhando pra mochila preocupado. — Chegar ali a gente vê uma sacola para guardar as coisas — completa Laís.
Mais à frente nos deparamos com a Josefa, que estava na sua casa, tinha um carrinho de vender cachorro-quente parado na frente. — Ó a tia — falava enquanto ela chegava na porta. — Tem como desenrolar uma sacola para eu guardar a mochila até ali? — Tem sim, respondeu, saindo para buscar. Entregou, guardei a mochila. E saímos sentindo os respingos da chuva. Subíamos a Alef de Sousa e voltamos às nossas conversas, sobre a gente, a situação da cidade, a chuva e também a polícia, que tinha chegado de surpresa na galera. Colocando um fim no baile nesta sexta.
Na Quatrocentos Vinte Seis, onde Laís mora, tava alagada, a água subia na canela, andamos entre essas águas. Um ônibus logo passou pela gente, fazendo uma ondinha e derrubando uma moto que tava encostada em frente a uma das casas. Na noite de sexta banhada à chuva, com um reggae que tinha começado e acabado de acabar, chegamos na casa, nos enxugamos, Laís pediu meu Uber e partir para casa.
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Leo Silva – euoleosilva@gmail.com
A crônica do Leo é cinematográfica!