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E chega um momento na vida – por motivo desconhecido ou ainda não conhecido – em que queremos estar quietos. Tal qual um livro muito lido e já cansado de ser manuseado, deliciado, anarquizado, apreciado, dividido, solitarizado, comunhado, achado, querido, maldito e bendito.
Queremos estar sós na prateleira tendo somente a companhia daqueles outros livros, que também cansados de tanta troca, querem a reclusão e o silêncio, sem muita explicação, filosofia ou ciência canibal. Este livro deixa de ser um objeto importante que o mundo usa para entender-se, passa a ser um mero conhecedor e deleitador de si, lendo a si mesmo e entendendo suas próprias letras.
Alguns vão chamar de depressão, outros dirão que é crise, e os mais sensíveis chamarão de momento introspectivo. Eu chamo de “euzar” e no meu dicionário isso significa sentir os próprios ossos, o peso do ar e o limite das palavras, além de ser também encontrar o eu perdido no mundo da dinâmica débil que faz com que eu me perca de mim mesma a todo momento.
Nessa minha prática de euzar, sinto-me como Quintana (d)escreveu: o excesso de gente impede de ver as pessoas; e eu quero ver algumas obras específicas dessa prateleira de livros. Quero essa conexão aprazível do som das cordas do violão com o ar que transforma o silêncio em poema, quero perder as horas sem preocupar-me em quanto elas vão me custar, quero saber o que estes meus cabelos brancos e esta bagagem pesada têm a me dizer.
Vanessa Dourado é poeta e feminista latino-americana