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Conversa com Tom Cardoso e Vitor Nuzzi expõe detalhes necessários para uma boa biografia
Tim Maia e Roberto Carlos. Edmundo e Bebeto. Elis Regina e Wanderléa. Todas essas pessoas fazem parte, cada uma em seu âmbito, do folclore brasileiro. Pela habilidade naquilo que fizeram, pela representatividade que simbolizaram, pelo tamanho da obra que deixaram. Porém, Tim Maia, Edmundo e Elis Regina parecem ser personagens melhores para se contar a história em comparação ao seu “oponente”, que no caso específico, são Roberto Carlos, Bebeto e Wanderléa, respectivamente. Por que isso? Os três primeiros se envolveram mais em polêmicas, tiveram um lado obscuro mais visível ao longo de suas carreiras, parecem ter coisas mais interessantes para relatar. Dessa maneira, para realizar uma biografia, um perfil com segredos e escândalos parece ser sempre a melhor pedida.
Após uma entrevista com os biógrafos Tom Cardoso e Vitor Nuzzi, isso ficou claro. Os dois têm como livro mais prestigiado a biografia de Sócrates e Geraldo Vandré, respectivamente. Tom, ao ser perguntado sobre quais critérios devem prevalecer no momento da escolha de um personagem para se escrever, responde que “tem que ter podres, uma sarjeta na vida dele”. “Por muito tempo pensei em escrever a biografia do Zico, mas não é um cara com segredos e polêmicas que valham para mim. Outros podem fazer e ficar bom, mas para mim não funciona”, diz Tom. Vitor adota uma abordagem mais neutra, mas também pensa que não é qualquer um que disponibiliza o melhor texto.
Dessa forma, fica clara a preferência por personagens mais controversos para realizar uma biografia, já que eles tendem a render melhores histórias. Entretanto, não é somente uma pessoa rodeada de polêmicas e dificuldades que fornecerá um bom livro. Para alguns pode ser óbvio, para outros nem tanto, mas um bom escritor é fundamental. Um bom perfil na mão de um mal escritor não terá a mesma qualidade. Assim como o contrário, um personagem tímido escrito por um bom biógrafo pode ter virtudes surpreendentes.
Cardoso e Nuzzi concordam nesse ponto. “Por muito tempo quis escrever a biografia do Pelé, mas muita gente me desencorajou. Disseram que ele não era o meu perfil, que era uma pessoa muito chata. Então, acabei desistindo. Mas acredito que alguém um dia fará e ficará bom”, disse Tom. Vitor relata sua ideia de fazer a história de vida do cantor Belchior, mas que não foi adiante por ele descobrir que J. B. Medeiros estava fazendo, escritor este que Vitor achava até mais adequado para biografar o personagem em questão.
Porém, uma coisa é necessária ser posta – é preciso ter ética por parte do escritor perante os fatos. Não importa a qualidade de quem escreve, nem se o biografado tem ou não esse “lado obscuro” citato anteriormente. Tom Cardoso e Vitor Nuzzi se depararam muito com isso ao longo de suas vidas. Para os biógrafos, o autor precisa ter sensibilidade e deixar clara a intenção do livro – se será algo mais sensacionalista, visando justamente os momentos mais íntimos (e muitas vezes mais polêmicos), ou algo mais abrangente, que procura pincelar toda a vida do personagem, sem ir a fundo em momentos mais delicados.
A questão jurídica de uma biografia também deve ser levada em conta. Algumas dessas histórias mais controversas, que o autor não teve a sensibilidade de tirar, podem gerar graves processos. Mesmo com o fato de que desde 2015 as biografias poderem ser feitas sem autorização prévia, pode haver ações judiciais por outros motivos. Vitor conta que em sua biografia de Geraldo Vandré teve que se limitar a colocar apenas trechos das canções do artista, já que poderia ter problemas com direitos autorais caso as músicas fossem inteiras. Tom ainda lembra que, tratando de imagens, o cuidado deve redobrar – uma única foto sem créditos ao fotógrafo pode derrubar uma editora.
Assim, a partir dos experientes escritores Tom Cardoso e Vitor Nuzzi, são vistos alguns detalhes que devem ser observados na hora da escrita de uma biografia. Essas questões são fundamentais para resultar em um bom livro, com bom conteúdo e que seja interessante para o leitor. Ainda que seja preciso ter um personagem com boas histórias.
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