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(Ilustração: Klévisson Viana)
Vanessa Dourado
A primeira coisa que as pessoas pensam como resposta à pergunta acima provavelmente é avassaladora. A ideia de que uma mulher deva ter aspirações distintas das de outro ser humano é uma constante. O debate sobre os direitos das mulheres ainda causa muita confusão, além de reações, muitas vezes agressivas, por uma grande parte da sociedade que não consegue entender o que significa a palavra “opressão”.
Sentir-se sufocada, não poder fazer o que tem vontade por medo de ser julgada, humilhada e violentada. Essa seria, talvez, a melhor tradução para entender como sofrem as mulheres. A questão é que, muitas vezes, entende-se que todas as pessoas sofrem opressão, não somente as mulheres. Isso é verdade. Há diferentes formas de opressão: de classe, de raça, de nível intelectual, de orientação sexual. Todavia, é importante pensar que também há a opressão de gênero, negar a sua existência é como não entender que vivemos em um mundo de exploração e destruição dos bens comuns, por exemplo.
E para falar em exploração, é importante lembrar que as mulheres ainda ganham – de acordo com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero – 30% a menos que os homens para desempenhar as mesmas funções, este dado é agravado quando consideradas questões de raça e etnia. Ou seja, mulheres negras e mulheres indígenas são as que sofrem maior desigualdade. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a paridade salarial entre homens e mulheres ainda levará 70 anos para tornar-se realidade, isso se o quadro conseguir mudar, pois as diferenças permanecem sendo as mesmas há vinte anos.
Além de sofrerem com as diferenças salariais, que são justificadas por toda a sorte de despautérios no mundo corporativo e político, as mulheres ainda desempenham dupla jornada de trabalho. Os afazeres domésticos e de cuidado (reprodução social) são desempenhados por 88% das mulheres entre 16 ou mais anos de idade, contra 46% dos homens – de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais de 2014, do PNAD.
Apesar de os números serem bastante contundentes, não faltam argumentos para tentar justificar as diferenças salariais entre homens e mulheres. O fato de as mulheres engravidarem e a menor produtividade feminina, quando comparada ao desempenho masculino, são os pontos mais discutidos por quem tenta não enxergar que as mulheres ganham menos pelo fato de serem mulheres, pelo fato de o mundo do trabalho ser dominado por homens e, obviamente, seguirem os padrões masculinos de produção e organização.
É interessante perceber que, apesar de serem penalizadas por engravidarem, as mulheres também são criminalizadas quando resolvem não seguir com uma gravidez não planejada. O aborto, palavra constantemente evitada na maioria dos debates políticos, é um exemplo de que a sociedade e as instituições – também dominadas pela presença masculina – não conseguem enxergar as desigualdades e injustiças.
Apesar de o eleitorado brasileiro ser majoritariamente feminino – mais da metade da população -, as mulheres ocupam apenas 9,9% das cadeiras na Câmara e 13% no Senado, dados divulgados pela União Interparlamentar (UIP). A baixa participação das mulheres na política não é uma questão de mero desinteresse ou falta de capacidade, como muitos afirmam. Além da dificuldade em conciliar o trabalho, as tarefas domésticas e de cuidado com a participação nos espaços políticos, as mulheres também encontram obstáculos estruturais na vida pública. Os espaços de poder são opressores e violentos, a esmagadora maioria masculina propicia um ambiente que reforça as hierarquias patriarcais e, consequentemente, não contribui para a luta das mulheres por igualdade em todas as outras esferas.
Diante disso, a reflexão sobre o que as mulheres querem é um primeiro passo para entender o feminismo, para sair da superficialidade do debate senso comum que diminui e desqualifica a luta das mulheres. Apoio e empatia para construção de um mundo sem machismo, essa é uma tarefa de todas as pessoas que acreditam na força da organização coletiva para arrebentar as correntes opressoras que tentam fazer de todos nós seres não-humanos.
Vanessa Dourado é autora do livro Palavras Ressentidas, poetisa e feminista latino-americana