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A camada de sedimentos entre as frestas
das pedrinhas de asfalto da Roberto Freire
são invisíveis para quem passa
apressado em seu automotivo modo
de se encaminhar de um lugar a outro.
a sola da chinela gasta pelos tempos e terrenos e temperaturas
das pisadas de uso
a cidade que desce uma ladeira nos meus passos
nem tão compassados quando voltava do Pedrão
cantando com um amigo que não vejo há anos
de sonho
de sangue e de américa de um sol que encabula minha pele.
os “ãos” que ainda vou fazer a gestos abertos
pelas toras de madeira compensada em meus ombros
a voltar pra o que ainda chamo de casa.
Por carrancudos “bonsdias” que ainda arranco
de um potiguar sisudo que me olha desconfiado
e devo parecer a ele um português ao selvagem antropófago
ou um chato inconsolável.
A roça da infância marcada pela falta
De um estranho eu pulando de casa em casa
O cio da terra que não conheci.
.
Há espíritos de encanto
enterrados ao chão feito sementes
que retornam com o vento que alisa
a areia doutras dunas que um dia foi essa
cepa de asfalto desgastada de lutas
e ideias trabalhadoras do gueto.
O vento semente dos rios que encobrem
lençóis freáticos tão profundos quanto as ancestralidades
dos tempos que virão.
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