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Thomas Hobbes (1588 – 1679), filósofo inglês que viveu no século XVII, autor de grandes obras, como “Leviatã” e “Do Cidadão”, ficou mundialmente conhecido por suas fortes opiniões quanto à autoridade do Estado. Ele acredita que, para haver segurança, é necessário um absoluto controle por parte dos chefes estadistas, o que automaticamente revoga a liberdade da população. Colocando em menos palavras, Hobbes pensa que não existe segurança com grande liberdade.
Em meio a essa discussão, se estabelece o filme Anon. Dirigido por Andrew Niccol e produzido pela Netflix, a trama estrelada por Clive Owen e Amanda Seyfried se passa em um futuro distópico, no qual todos os cidadãos estão submetidos a uma ferramenta do governo que visa justamente aprimorar a segurança. A tecnologia proposta faz do ser humano uma câmera de vídeo permanente, cujas imagens são o tempo todo gravadas. Se necessário, essas gravações ficam à disposição das autoridades. Dessa forma, tudo que uma pessoa vê é armazenado, podendo ser revisitado caso haja necessidade.
Nesse contexto de vigilância total, surge o detetive Sal Frieland (Clive Owen), que está à procura de um assassino que ‘hackeia” a visão das vítimas, para que ela não o veja e, assim, não o grave. Durante a investigação, ele conhece “A Garota” (Amanda Seyfried), uma hacker capaz de entrar nos olhos das pessoas e alterar aquilo que viram, fazendo dela uma suspeita.
Anon busca recolocar em pauta o conceito de Hobbes. Cria uma sociedade na qual a discussão a respeito de segurança vs liberdade se mostra muito evidente, soando, inclusive, um tanto desesperado. O anseio do filme em promover esse debate é notório, muitas vezes gerando diálogos extremamente artificiais. Se houvesse mais sutileza, com certeza o nível do filme se elevaria. De qualquer modo, a questão se estabelece – o dilema entre ceder a liberdade aos poderosos em prol de segurança, mas conviver com o medo de que esses abusem do demasiado controle que possuem, e a população, que entregou seu livre arbítrio, não tenha forças para detê-los.
A discussão proposta é extremamente pertinente e necessária, considerando os dias atuais de cada vez mais vigilância. Entretanto, clichês de roteiro e personagens superficiais e estereotipados, que não ajudam o talento de Clive Owen e Amanda Seyfried, fazem do filme apenas mais uma trama genérica desse gênero distópico.