O desenho segundo C.H.L.



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(Pintura: Almeida Junior)

Por Vanessa Dourado

Encontrei abrigo em seus abraços.
Suas mãos de desenho fazem cócegas em minha imaginação.
Por isso dou risada embaixo de seu chuveiro.
Encontro lágrimas de prazer entre seus cobertores.
Porque o prazer e a dor são complementares.

Caminhei ruas desproporcionais pela noite.
Seus sorrisos espontâneos abrem ideias de brincadeira em mim.
Ainda sinto dores nas pernas.
Lembro da alegria sob o céu escuro
rasgado pelo nosso cinismo
e pela realidade que nos atravessa,
responsável, entre outras tantas coisas,
pelo nosso encontro e encantamento pelo outro.

Olhei dentro de seus olhos.
Eles são grandes e curiosos.
Infantis – como traduziu Caetano.
Suas observações retiram todas minhas máscaras.
Assim, talvez, você não possa rabiscar
o complexo existir de nós em nós.

Mas nada disso importa.
Esta máquina imaginária é um teste para a eternidade.
O que é o risco e a letra
diante do papel de nossas almas
prontas para voar por abismos.

Vanessa Dourado é poetisa e feminista latino-americana


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