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Priscilla Araújo
Tentaram me ensinar
Desde muito pequenina
A saber distinguir
O que era “de menina”.
E foi meio sem querer
Que fui levada a fazer
O que o mundo determina
Porém muito sapeca
E sem medo de encarar
Comecei ao futebol
Entender e apaixonar
Não dando nem ouvidos
Aos boys enxeridos
A me inferiorizar.
Alguns deles tentavam
Sempre me testar
Pra saber se de futebol
Conseguiria então falar
Me chamavam de metida
“Menina veia intrometida
Vai de boneca brincar!”
Eu mostrava que sabia
Do dialeto artilheiro
Mas os boys se viravam
quando eu falava “frangueiro”,
“caneta”, “elástico”, “prorrogação”
“chapéu”, “catimba”, “tapetão”,
“Carrinho”, “tabela”, “pipoqueiro”
Na escola sempre tentava
Com as garotas me enturmar
Minhas amigas não gostavam
Sobre esse assunto falar
era um “mulher, deixa viço
moça num fala disso
bora da novela tratar?”
Eu falava do meu time,
De um goleiro ou atacante
Do posicionamento, meio-campo
Lateral ou centro-avante
Pra assim poder agradar,
Ou então só mostrar,
Meu amor pelo Gigante
Me sentia uma esquisita
Meio a tanta indiferença
Criticavam os meus gostos
Não se importavam com ofensa.
Buscava aquilo entender,
Ficando às vezes sem comer
Ou apelando para a crença
Lembro que muitas vezes
Não podia nem vestir
A blusa do meu time
Pra poder me divertir
Me faziam de chacota
Virava caso, anedota
Para muitos só sorrir.
Só depois de já crescida
E dentro da universidade
Com meus estudos de gênero,
Jornalismo e sexualidade
Foi então que percebi
Que era imposto pra mim
Não gostar dessa modalidade
E depois da descoberta
Dessa então dominação
Decidi me imponderar
E fazer revolução
Ir pra rua declarar,
Jogar mesmo, driblar
Esse tipo de opressão
Menina também pode
Vários esportes praticar
Não é só coisa de menino
Não existe esse limiar
Faça chuva, ou faça sol
Meninas gostando de futebol
O respeito deve reinar.