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(Foto: Reprodução)
Por João Ernesto
Sempre tive medo de altura. Ainda bem que os partos são na horizontal e assim eu não tive medo do primeiro salto.
Sempre tive medo de altura e o que mais me incomoda é essa curiosidade que me faz sempre ficar olhando lá pra baixo, não me importa a altura.
O medo de altura – acho que é ele – me faz sonhar voando mesmo sem asas. Me faz sonhar pulando alto, como quem caçasse gaviões ao invés de borboletas.
O medo de altura me faz apaixonado pelo espaço e me faz ficar olhando o quanto nosso mundo é pequeno quando olhado lá de cima (às vezes quase me vejo lá embaixo).
O medo de altura me faz sentir pequeno, mas um pequeno atento ao que importa.
Certo dia o medo de altura me fez pular do vigésimo oitavo andar por pura entrega àquela curiosidade.
E agora estou aqui sabendo de onde vem todo esse sentimento pela altura.
Estou aqui descobrindo quase em gozo que era a curiosidade humana em voar sem asas, em ser pássaro sem penas, e sinto minhas lágrimas subirem meu rosto e virar chuva.
Sinto a boca secar com o vento forte que balança a minha trança.
Sinto sede e me sinto parte.
Abraço o mundo sem sono.
As pessoas são tortas, o mundo não. O mundo é esse caos mesmo, assim, em harmonia.
Olho o chão que se aproxima e sinto que aquele horizonte opaco é só mais um a ser atravessado.
Sou pássaro, sou gente e sou faca amolada, que se quebra ao tocar a carne… e esses segundos que parecem eternos.
Olha ali, mais uma lágrima sobe o meu rosto.
Lembrei de uma amiga que chora ao ver o belo e daqui de cima tudo isso:
o caos, as pessoas e até esses carros parecem mais bonitos.
De agora em diante eu sei que faço parte e
sei que o medo de altura é tesão pelo voar.
João Ernesto acredita que as reticências ainda querem dizer muita coisa…