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(Ilustração: obra “Morte”, de Oscar Bluemner)
João Ernesto
Matei porque era legal…
Só pensei em girar a faca na hora em que senti o sangue na minha mão, eu posso lhe jurar que não foi premeditado. Aquele rapaz bacana, como um cara daquele podia ser tão legal comigo? Eu, negro, feio e viciado. Ele era bonito, tinha casa e quando passava pela gente ainda dava boa noite… eu não entendia muito aquilo não.
Eu vivo com raiva dessas injustiças, sinhô, e posso lhe dizer que eu não entendi o que eu fiz não. Eu já vi na televisão homem rico que matou gente por besteira, o que eu fiz só se explica porque era legal… anteontem mesmo ele sentou comigo e enrolou um baseado pra mim, a gente fumou junto e conversou sobre muita coisa, ele falou umas coisa que não via em canto nenhum, nem presidente, nem padre, ninguém… aquelas coisas, que eu não vou falar aqui porque eu quero guardar isso pra mim, mas posso dizer de novo que não tem motivo, eu só matei porque gostava dele. Esse povo que veio atrás de mim pra fazer justiça com as mãos tavam até certo, eu não tiro a razão deles não… eu matei por causa de uma força estranha, que nem uma força que ele tentou me explicar, mas não conseguiu.
João Ernesto acredita que as reticências ainda querem dizer muita coisa…