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“Não há nada no mundo que substitua a possibilidade de viver aos pouquinhos com quem amamos, até porque não dá para se querer tudo e querer viver tudo de uma vez só, mesmo que se queira, mesmo que se tenha urgências… e viver a vida é desnudar-se por inteiro!”
A vida pode até ser repleta de coisas inúteis, não é Lispector?
Mas são as coisas inúteis que também preenchem os dias mórbidos, loucos e inertes. Só acho. Devo confessar que tenho uma intensa preferência pelos dias loucos, desses que nos provocam estranhamento para impedirem as repetições e interromperem os hábitos diários. E a loucura cada vez mais me seduz como cócegas feitas na pontinha do pé para que a alma possa dar gargalhadas em plena praça da vida. Mas não há dia certo para se cometer loucuras, ela não avisa quando vem e quando vai chegar, ela chega chegando. E se não for para causar, é melhor que nem venha. Se for para levar uma vida de merda é melhor se entranhar entre as cobertas ou saltar no abismo.
E a danada da loucura pode ser tão oblíqua quanto o voo dos pássaros, não é, minha cara?
A danada da loucura pode acontecer na fila para comprar o pão quentinho saindo na hora da padaria e encontrar um bode no meio do caminho e segui-lo até sua casa. Na troca de afeto entre os enamorados que enviam nudes para enlouquecer a paixão e depois correm para os braços um do outro, de repente, um outro aparece e sem muito apelo vão parar no bar mais próximo. Pode ser na conversa entre amigos em plena vida virtual onde tudo vira carnaval das besteiras sórdidas provocadas por impulsos que mesmo depois tragam poucos arrependimentos.
Pode ser em pleno final de semana, numa sexta-feira nublada, entre um lanche rápido e aquela brisa suave para nos deixar mais serelepes. Que na espera do Uber, as mudanças de plano imediatamente são repensadas em direção ao Abaeté que elas em grande estilo se riram sem parar…até passarem os nudes para os amigos ordinários e seduzi-los a chegarem juntos.
A danada da loucura também acontece nos momentos ternurinhas, que na preparação de uma comidinha regada a uma lourinha estupidamente mofada, na casa da amiga amada que, quando pode, espia os programas de tv para melhorar seus dons culinários para fazer comidinhas gostosas para os filhotes e enviar nudes do prato feito. Que delícia!!
Ahhh!!
Ainda de quebra, a loucura danada que foi em ouvir, na inesquecível voz de Clara Nunes, o “Conto de Areia” que inebriantemente ecoou para além dos parabéns nos trinta e seis sóis de um amigo querido e gostoso. Que ainda nos presenteou com uma bela caneca, mesmo que alguém teve que marcar para parar de perder seu caneco. Entre cores, sabores e emoções, todos estavam naquele momento dionisíaco, nirvânico-boêmio para implantar o terror no bar, entre serpentinas de idas e vindas dos carros, das esquinas, das fumaças…porque sábado era o dia das moças católicas que vão para igreja, mas também era o dia das bêbadas, aquelas caras simpáticas…
A loucura também está numa roda no bar do Zé Bezerra, em um encalorado domingo à tarde, entre pagodes recebidos com caras feias e ainda contar com os infiltrados no samba para nosso próprio deleite. A sambista, para não perder o rebolado, continuou sambando mesmo a contragosto. Que somente uma cerva geladinha, um ganzá, um pandeiro e um tamboril podem arrancar suspiros de uma mente infeliz, porque quem não gosta de samba, bom sujeito não é…
A danada loucura e a batucada não param por aí. Já na praça, no velho Benfica, a segunda já se despontando para um início de novas estripulias, a roda de samba continua para alegrar a triste vida de artista, nossa, sua…
E mais uma louca e inesquecível semana de férias vai se escorrendo mesmo que muitos não desejam que chegue ao fim. Entre uma chegada e uma partida, os maranhenses já em sua terra natal para alívio dos corpos surrados de tantos levantamentos de copos e noites findadas em novos amanheceres.
A louca vida está sempre por um fio que pode se arrebentar a qualquer momento, não é minha querida??
E arrebenta feio!! Mas o nó é cego e alguns loucos e “velhos safados” sentam-se próximos à janela, erguem uma cerveja e brindam ao caos do mundo e deixam que venham a crueldade da vida de montão, sem muita precisão, é verdade!! Mas se quisesse que tudo aparecesse, apareceria, pronto, desatariam o nó ou dariam mais uns, ou não!! Ou simplesmente arriariam as calças e mostrariam a bunda na janela para que a vida ficasse mais bela.
Enfim, mais um louco e inesquecível fim de semana chegou ao fim tangido pelo som dos talheres com o delicioso feijão verde que sobrou de outras festas, feito por aquela amiga tocadora de tambores, e frango à passarinho para nosso engordamento cruel.
São essas loucuras que prefiro, que fiquem na memória, a uma vida certinha e regrada que nada se enquadra para uma pessoa tão desmemoriada que nem eu. Entre tantas, algumas não podem passar somente entre linhas retas. Não!! As curvas, os contornos e os desvios atraem muito mais. E os nudes e desnudes vão-se entre os anseios e devaneios nossos e alheios.
Manda nudes, manda!!
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