0 Comentários
Nascido em Teresina, no Piauí, Getúlio Abelha mora em Fortaleza desde 2012, quando veio fazer o curso de Teatro na Universidade Federal do Ceará (UFC). Seus pais continuam morando na capital piauiense. O artista vem se consolidando no cenário cearense e nacional com uma pegada de forró eletrônico que mistura humor com contestação a costumes moralistas e uma performance corporal calculadamente exagerada. Seus vídeos no Youtube somam cerca de 750 mil visualizações. O clipe de Laricado, uma de suas músicas mais conhecidas, tem mais de 260 mil visualizações na rede social.
Batemos um papo com Getúlio na oportunidade em que ele se apresentou na III Mostra das Artes, no Centro Cultural do Bom Jardim (CCBJ), no bairro de mesmo nome, na zona oeste da periferia de Fortaleza.
Bó conferir?
…
Gostaria de saber como está sendo para você cantar na comunidade hoje?
É perfeito, porque primeiro que é na rua, né? Por mais que seja aqui no Centro Cultural, mas o palco é na rua. Eu já acho maravilhoso o fato de que qualquer pessoa pode chegar, assistir e participar: pra mim são os melhores shows. E me interessa muito não ficar no centro de Fortaleza, não ficar nos mesmos lugares onde eu comecei a construir o meu trabalho. É muito importante pra mim vir pra cá fazer o meu som aqui.
Como foi sair da universidade para ingressar na sua carreira artística?
Foi maravilhoso, foi a melhor coisa que eu já fiz na vida… mentira! Entrar foi tão bom quanto sair. Entrar e sair foram duas coisas maravilhosas, mas sair foi um processo massa porque eu pude de fato seguir o meu caminho, seguir o trilho, porque apesar da universidade ser importante pra muita gente, só foi importante pra mim até certo ponto. Depois eu tive que seguir sem ela.
Vi que seus vídeos têm muita visualização, né?! Outra coisa é que estamos passando por um momento político conturbado. Como você medeia a relação entre a “fama” que tem alcançado e o preconceito nos dias de hoje?
Então, eu meio que tento pensar as coisas com calma, eu tento não me desesperar diante da situação que tá acontecendo, vamos ter calma, vamos ter paciência. É, vamos ver como eu posso lidar com toda essa movimentação. Mas também que há uma responsabilidade muito grande quando você se expõe mais, existe uma responsabilidade que você tem que ter com você, com sua saúde mental, com seu corpo, com suas orações. Mas também existe uma responsabilidade no meu caso, porque eu trabalho diretamente com assuntos muito delicados e muito importantes que a gente vive politicamente, né? Então, no geral eu tento me divertir muito e ter calma quando a situação aperta e alguma coisa tensa é colocada na minha frente.
Eu vejo nos seus vídeos a questão de você tratar muito da sexualidade, inclusive de uma forma política. Sendo artista, como você acha que a política impacta na sua vida?
Basicamente não tem como a política não impactar a vida de qualquer pessoa, né? Principalmente no Brasil. Então, eu sou só mais uma pessoa que tá tendo que lidar com esse caos todo; tipo, nada de especial, só que o meu modo de lidar com isso é através da arte que vem sendo sucateada, mas de alguma maneira eu tô tentando seguir independente de qualquer barreira que possa acontecer. E vamos ver no que vai dar. Eu vou continuar lutando, fazendo a minha parte. Minha arte tá totalmente ligada ao momento político, acho que é inevitável, não tem como fugir, por mais que você fale de bolo de chocolate ou de um cofrinho com moedas verdes, não tem como fugir disso.
O que você acha desse espaço, o Centro Cultural do Bom Jardim? Você disse que não conhecia…
São coisas que me enchem de esperança aqui em Fortaleza esses espaços voltados pra arte e cultura na comunidade. Porque, tipo assim, eu fico pensando que eu, por exemplo, dependo da arte para sobreviver, não só no sentido de que é meu trabalho e é isso que faço da vida, mas é uma necessidade de ser humano; não sei se eu saberia viver se não fosse a arte. Então, cada vez que brota ou que é estabelecido em algum lugar algo que envolva cultura e arte dentro da cidade e, ainda por cima, que não se trata de algo centralizado, voltado a uma classe social alta ou a quem pode pagar, pra mim é perfeito, é o que há de mais esperançoso e brilhante na cidade. É a possibilidade de pessoas terem acesso gratuito à arte e à cultura e poderem dedicar a sua vida ou parte delas a isso.
Como você vê a sua influência na sociedade a partir da sua arte, das suas músicas, do seu jeito de se vestir?
Eu sou parte de um conjunto de pessoas no mundo que tá fazendo isso, né?! Não gosto de ficar centralizando pra mim essa responsabilidade, “eu provoco isso, não sei o quê”. Na verdade, eu gosto de pensar que o que eu faço não serve pra nada. Porque eu acho que é daí que surge a possibilidade das pessoas verem pra que é que eu sirvo na vida delas, também eu posso não servir pra nada. Um dos meus objetivos pra sobreviver – porque eu preciso fazer isso pra sobreviver enquanto criatura viva – é tentar inspirar as pessoas a saírem de todas as coisas que prendem elas, que eu acho que não se trata dessas coisas maiores que a gente vê falando na televisão. Agora, você pode ser mais assim, eu falo de comportamento mesmo, de você ter uma intenção vocal, várias vozes malucas, de você poder sentar em uma cadeira de vários jeitos, de você não ter vergonha de coisas que são simples e que a gente se envergonha. Porque a gente pensa no que as pessoas ao redor vão achar daquilo ou vão sentir em relação àquilo. Tipo, eu acho o que minimamente eu busco fazer em relação a outras pessoas é tentar dar coragem pra elas entenderem que nós morreremos. E a única possibilidade de você enlouquecer é agora, não é depois, não é amanhã, não é em outro lugar. É agora, em qualquer lugar que for, sabe?
Eu vou fazer um bate-bola aqui, tipo Marília Gabriela (risos!).
Amo! Vai, arrasa!
Cor?
Marrom.
Música?
Pode ser mais que uma?
É um bate-bola.
Tá, só o bate. A bola tá furada, eu tô enchendo aqui. Mas tem uma música da Ariana Grande que eu amo. Faz mais de um ano que eu gosto:
Right now, I’m in a state of mind
I wanna be in like all the time
Ain’t got no tears left to cry
So I’m pickin’ it up, pickin’ it up
E artista?
Artista… É muito pouco só um, por que tem que ser só um? Então, pra resumir eu vou falar Madonna… não! Troca, eu vou falar Joelma. Madonna com Joelma.
Um defeito?
Um defeito? Meu, no mundo, nos outros?
Seu!
Meu? Todos!!!
Uma qualidade?
Todas!
Um estilo musical?
Não, vai… eu vou dizer uma qualidade. Eu sou uma pessoa determinada.
E um estilo musical?
Forró e pop.
Uma cidade?
Fortaleza.
///
Esta entrevista foi produzida dentro das atividades do curso de Comunicação (120h) realizado pela Revista Berro em parceria com o Centro Cultural do Bom Jardim (CCBJ). O entrevistador Fernando Sousa foi um dos estudantes.