25 novembro, 2016
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Por Vanessa Dourado
Os anos tinham passado, ela não percebeu que foi morrendo aos poucos. Não percebeu que o interesse já não era o mesmo, que as pessoas só queriam usá-la para garantir sua própria satisfação. Insistiu, resistiu. Ameaçada, quis falar, denunciar, protestar. Não deu certo. Todos viam. Ninguém admitia, porém. Não queriam perdê-la, mas ela tinha se transformado naquilo que fizeram dela. Meio ao desespero, reinventou-se. Mas não conseguiu reencontrar a si mesma. Queria acabar logo com tudo aquilo. Queria nascer de novo. Queria sentir a liberdade das ruas, os gritos dos pássaros, o encontro com o mundo. Mas não queria o mesmo mundo, aquele velho mundo já não era mais para ela.
Vanessa Dourado é poetisa e feminista latino-americana