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Ela olhou para a imensidão branca em volta dela. Então ela começou a correr. Ela nem sabia para onde estava indo, apenas que precisava se movimentar. Sem saber aonde ia chegar. Acima dela: branco. Em baixo: branco. Pra frente: branco. Ela não tinha direção, mas precisava de um fluxo. Então só continuou. E continuou. E continuou. Até que sentiu algo. O chão. Um chão. Foi aí que percebeu que ela tinha um corpo, um pé para tocar esse chão. Levantou os olhos. Uma mão, braços, pernas estavam ali também. Ela começou a sentir melhor o chão. Era de terra? Era marrom? Tinha pedregulhos? Poderia ter. Ela continuou.
Então surgiram coisas. Outras coisas fora ela. Uma árvore surgiu, e depois mais outra. Piscou. Já tinha uma floresta inteira. Ela correu e correu, conseguindo cada vez mais velocidade e fluxo, sorrindo enquanto o fazia. Como era bom. Não fazia sentido mas fazia. Ouvia passarinhos mesmo não os vendo. Possivelmente ouvia fadas e dragões também. Sentia cheiro de canela, cheiro de orvalho, cheiro de grama recém-cortada. Corria. Sentia texturas macias, ásperas, oleosas, de veludo. Corria. Se arrepiava sem motivo ou possivelmente por todos. Corria. Sentia gosto seco, gosto molhado, gosto amargo e satisfatório. Corria. Então de repente não havia mais chão. Caiu.
Era um penhasco, um precipício sem fim. Caía. Tentou se agarrar em alguma coisa, mas não havia nada em volta. Em seguida, embaixo de seus pés, surgiam galhos para segurá-la. Galhos frenéticos que não paravam de surgir um atrás do outro só pela força de vontade dela. E ela se segurava em um e depois em outro e em outro… Mas para onde ela estava indo?
Repentinamente o sentido mudou. Não que alguma coisa disso estivesse fazendo sentido. Ela agora estava caindo…para cima. Confusa com a rápida mudança de eventos, a menina tentava enxergar alguma coisa enquanto seus cabelos dançavam de pé, tapando sua visão. Ela estava subindo cada vez mais rápido, mas por algum motivo isso não a preocupava. Os galhos haviam desaparecido e ela se sentia rápida, mas leve. Ela sentia borboletas borbulhando na sua barriga e ao olhar pra baixo lá estavam elas: voando com asas roxas. O ar estava denso agora, e a gravidade baixa. De um segundo para o outro ela deixou de sentir seu corpo subindo mil por hora e passou a sentir ele mole e flutuante. Ela estava no espaço, em volta das estrelas. Não tinha um capacete mas isso não parecia preocupá-la.
As coisas começaram a desacelerar. “Será que isso faz sentido?”, ela pensou. “Será que alguém mais vai entender?” Ela tentou se olhar e compreender como foi que chegou ali. Era como um quebra-cabeça onde as bordas já estavam feitas mas a parte do centro era uma zona. Quase todas as peças têm a mesma cor, como saber a ordem certa? Onde vai o quê? “Acho que estou muito longe da minha ideia original.” Piscou.
Estava no Branco de novo. Mas desta vez não era apenas branco. Olhava para trás e conseguia ver traços das estrelas ainda. Mas à sua frente era uma incerteza. Andou de costas, sabendo que o Branco iria segui-la de alguma forma. Pronto. Agora a última coisa eram as borboletas. E no vasto nada ela sentou. Pensou. Esperou. E correu de novo. Desta vez numa direção diferente. Estava vendo claramente agora e tudo parecia se encaixar. Estava pegando impulso e….
“Querida! Venha jantar!”
Desapareceu.
Ela soltou a caneta de sua mão e levantou de sua escrivaninha.
“Ugh.”
Sentou à mesa. Colocou o guardanapo no colo. Se serviu de salada, experimentou o peixe e repetiu as batatas gratinadas. Mas não estava realmente ali. Dentro de sua cabeça estava correndo….
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