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Vivemos um período de intensa mediação por produtos midiáticos no nosso cotidiano, mas será que somos educados(as) para interpretar estas mídias? Nós da Berro sempre refletimos sobre isso, e tivemos a oportunidade de materializar estas ideias quando facilitamos o curso teórico-prático “A Escola é Nóis: Educomunicação e Liberdade”, na escola Santo Amaro, no Grande Bom Jardim. Atuar com juventudes nos deu uma resposta: educar as pessoas para leitura crítica da mídia, bem como fomentar a autonomia e a criação de coletivos de comunicação é urgente.
O curso, focado em educomunicação e direitos humanos, expandiu-se, foi realizado em outros locais, e já alcançou cerca de 150 jovens em bairros e comunidades de Fortaleza como Bom Jardim, Granja Portugal, Granja Lisboa, Cidade 2000, Serviluz, Verdes Mares, Pau Finim, e cidades do interior do Ceará, como Meruoca, Jaguaretama, Milagres, Itapiúna, além de Caucaia, na região metropolitana da capital. Nestas formações podem ser trabalhadas as linguagens de audiovisual, fotografia, impresso, rádio e web.
O modelo de educação mais difundido nas escolas regulares cultua a cópia e o silêncio como forma de manutenção de controle. Falar em autonomia dos(as) estudantes nas escolas é algo que soa perigoso para o sistema escolar; o celular é encarado como um inimigo, artigo proibido.A tecnologia não é inimiga, ela precisa ser lugar-comum para as juventudes periféricas.
O que propomos modifica a relação entre o(a) jovem e a educação, entre a escola e a tecnologia, partindo da perspectiva de que a comunicação é um direito humano.
A educomunicação permite o falar e o expressar-se dentro e fora da escola, é jardim de autonomia, possibilitando que todos(as) aprendam conteúdos e empoderem-se do processo de ensino-aprendizagem. O objetivo da Berro é que estes(as) jovens não apenas acumulem informação, mas saibam analisar o que recebem, procurar fontes, assim como produzir informação de forma autônoma, em qualquer uma das linguagens citadas.
Propomos entender como funcionam os meios de comunicação no país para depois pensar o que se quer construir. O Brasil ocupa índices alarmantes em relação à falta de liberdade de informação. Conforme nos mostra o projeto Media Ownership Monitor (Monitoramento de Propriedade de Mídia), um projeto de parceria entre o Coletivo Intervozes e o Repórteres Sem Fronteiras, os 50 veículos de maior audiência do Brasil pertencem a poderosos grupos privados com interesses econômicos, políticos e religiosos. Apenas cinco destes grupos dominam a propriedade de 26 veículos.
Diante desta realidade, pensar que comunicação queremos está na fala da Bruna, que mora na Meruoca, uma das jovens que fez o curso mediado pela Berro: “Dignidade”. Os cursos vão seguir, reeducando audiências, integrando comunicação e direitos humanos à educação e possibilitando o surgimento de coletivos horizontais. Acreditamos que o acesso às ferramentas comunicacionais é indispensável para a construção de uma sociedade livre e com justiça social.
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