Cartas à Vida



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SignaturePor Frida Popp

“Vida,

às vezes me pergunto se ainda sei fazer poesia. Me pego pensando se minhas palavras ainda dizem algo.
Hoje, dentro do ônibus, vi um morador de rua dormindo, coberto por jornal.
Ontem, voltando pra casa com o coração em festa por causa de uma noite bonita, vi uma família embaixo da ponte. Duas crianças, uma delas de colo, ainda.

Essa semana, como em todas as outras, o jornal anunciou horrores. O desprezo da população pelos nomes das vítimas, a transformações de alguéns em ninguéns de Galeano, o machismo e o sensacionalismo não deixam de me surpreender. Ainda me pego com os olhos marejados, vez por outra, quando percebo que há coisas que não podemos mudar, minha amiga.

Quando vejo que, para certas coisas, não há (e como é difícil admitir!) soluções.
Aí me pergunto por que fazer poesia frente a tudo isso.
De que servem palavras ao pé de tanta injustiça?

Tem dias em que penso em desistir, apesar de sempre me dizeres que não devo. E não desisto também por isso, Vida. Porque tenho pessoas do meu lado que me fazem acreditar… Acreditar na verdade dos sentimentos. Acreditar que o que palpita por dentro de mim não é vão. E não é vão porque nada do que sentimos o é.

Às vezes me pergunto se ainda sei…
Percebo minha vida tão cheia dela e um mundo lá fora tão preto e branco… Que me pergunto se não é egoísmo fazer poesia.

Mas aí, em meio ao caos e ao escuro de um mundo estranho, eu vejo nas roupas coloridas, nas árvores floridas, no que leio, nos braços de quem amo, nos olhares amigos, na música e em tanto mais, motivo pra dividir o que sinto.

Me pergunto se sei fazer poesia… Não sei, Vida. Nem tenho pretensão de saber.
Mas faço.
E faço porque ainda acredito que, aos poucos, ela encanta tudo.

Frida Popp não gosta (e não sabe) de definições


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