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Drawlio Joca
Rapaz! É o seguuuinte! A merda – mais uma – tá feita! Mas né por isso que a gente vai se calar não! Senão, meu caríssimo cidadão alencarino… É! Você mesmo, que está por aí a bradar que “estão criando casinho por meros dois metros do Cocó.” Tsc, tsc, tsc. Pois! Se ficarmos calados, amanhã é mais uma lasquinha, como ontem foi. Depois de amanhã, como anteontem, mais uma rapadurazinha. Seguindo o ciclo da estupidez, como visto e posto, virá mais uma obra equivocada, não só do ponto de vista sustentável, mas urbanístico e até da sua – nossa! – suposta mobilidade. Virá mais um centro empresarialzinho, mais um shoppingzinho, um condomíniozinho, um loteamentozinho de nada! Umas besteirinhas besta. Tudo, lá por trás, movido por um tal dinheirozinho. E pra que esse mato todo, né não?
Você quer mobilidade, meu caro? Eu também quero, ó! Sabia não? Diz, reza a lenda, que todos nós queremos. Mas nessa sua lógica de mobilidade, não há salvação, jovem! Não tem santo no mundo que resolva a sua equação. Esta visão atrasada de cidade, cidadania e mobilidade, meu caro concidadão, é vã! Então, se você está ligado aos interesses, que são de fato a raiz da questão, de políticos, campanhas e empreiteiras, diga! Bata no peito! Mas, se é só falta de conhecimento mesmo, vá se informar um pouquinho, vá lá! Vá viajar nalgum lugar que não seja Miami Beach. Prooonto! Melhor! Vá ali no Sertão Central e converse com uns ETs. Diz que é farto por lá. Depois, pense! A cidade que agora desenhamos, todos nós, inclusive você, será a urbe dos seus filhinhos e netinhos amados. Portanto, mais amor ao pensar a cidade.
Meu caro, não lhe é óbvio, dentre outras mazelas, que a porra desse projeto está todo errado? Que os dois metrim é um dos remendos do que não deu certo? Socorro! Como dizia o Didi Mocó, “eiingeiiinieeeiros”, socorro! O bicho, o tal do viaduto, além de horroroso, dentre outros malfeitos, é esquizofrênico! Pegue à direita e estará indo à esquerda. Toque à esquerda e a direita é toda sua. O imbróglio duro urbanístico é ideologicamente mole, difuso e volátil! Nem é direitista, nem poderia ser mesmo bolivariano! (Valha! O que é isso? Bo-li-va-ri-a-no! Hahaha! Socorrrrro, dessa vez, peço ajuda a Jesus!) Ou ao Simón Bolívar.
Olha, esquizofrenia à parte, você por acaso percebeu aquele gargalozinho quando sai do bicho e chega à Aldeia, Aldeota, batendo na porta? Como tantos e tantos outros gargalos e nós em toda Fortaleza Miami City!? Haja metro e viaduto pra resolver né não?! Que tal colocarmos um bicho alto desse em cada esquina? Vai ficar “munito”, né não? Todo cabeça-chata vai sair avoando. Uma belezura! Que tal também alargar a rua pra caber a ruma de carro e entrar só dois metrim dentro de sua casa? NÃO? São só dois metrim, meu fi! Diz que os bichos todos do mangue do Cocó também tem – ou tinham – casa. Sabia não?
Mas! Pera! Pra dizer que era errado, eu disse projeto lá em cima, num foi? Projeto? Pasme! Teve não. Faltou! Teve maquete. Socorro, arquitetos! Maquete é projeto? Tsc, tsc, tsc.
Mas, olha, estupidez ambiental, presente! Morte da fauna e flora, presente! Equívoco crasso da pretensa futura mobilidade urbana, presente! Pensamento, reflexão séria e articulada sobre que cidade queremos, debate com a sociedade, a academia, técnicos, cientistas, pensadores e atores sociais? Pera! Deixa ver. Faltaram todos! Diz que ninguém foi convidado. Pera de novo! Ninguém não. Políticos e empreiteiros: presentes! Ah! E o tal planejamento urbano? “Para o mundo que eu quero descer!” O que é isso, Iracema??? Pla-ne-ja-men-to?
Veja bem! Repare, meu querido. Nesta sua lógica do “cada um no seu carro e foda-se o mundo” e outras incompreensões correlatas, não será conquistada a tal da mobilidade, mas é nunca! Pode botar viaduto adulto, ancião, púbere, fábrica de viadutozinho, que num rola! Bote dois metros e mais dois metros nisso, minino, que a conta num vai fechar é nunca! Agora num tô falando né de urbanismo, nem arquitetura ou engenharia, nem política ou filosofia não! Mas de uma tal ma-te-má-ti-ca! Ouviu dizer? Vamos lá! Faça as contas! Leia, se informe, estude, viaje, veja a luz das estrelas! E conte! Use um ábaco, se preferir.
Pois bem! Estamos aqui. E mesmo que outros tenham o poder, continuaremos a dizer!
Drawlio Joca é fotógrafo