Berrando Poesia – Flavia Ferrari



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(Ilustração: Levi Noli/Revista Berro)

ANUNCIAÇÃO

 

Não é possível olhar o alto

Se o ar ao redor está todo preenchido

 

O espaço pode ser este lugar sufocante

Nomeado

Mas não reconhecido

 

Não é fácil perceber o gosto

Se o que nos cabe é um pedaço ressequido

Sem a presença de um todo

Que nos faça acreditar

 

Não é prudente adormecer no caminho

Precisamos chegar e registrar o nome

Para que haja uma verdade momentânea

Da partida

Do motivo

Da carne viva

 

Não é comum os sons perderem a validade

Música esta que canta este tempo

Em que à memória parece ruído

 

Não é errado esconder-se

Da figura insana

Do momento não aguardado

Da convocação que não admite recusa

 

Mas não é prudente ausentarmo-nos

Todos os nossos sentidos são necessários

Mesmo que não haja espaço

Nem esperança

Nenhum movimento

 

Mesmo sem a tua companhia

Com a qual era fácil conseguir encontrar

 

*

 

FRESTAS

Há frestas por onde o sangue aflora

e o excesso escorre 

e que cicatrizam

 

Há frestas que revelam

fragilidade

e uma ruptura iminente

 

Há frestas que acusam

um passado negligente

futuro incerto

 

Há frestas que orientam

que contam histórias

e aguentam

 

Há frestas que não cicatrizam

endurecidas

por onde só passa o ar

imperceptível 

 

Há frestas invisíveis

que só se mostram na claridade

e somem quando chegam as sombras

 

Há frestas por onde brotam

elementos vivos

quando já não mais acreditamos  

e resistem 

 

*

 

CAMINHO

 

Estou entre

A imobilidade e a excelência

A obstinação e o abandono

A dança e o adormecer

A consciência e o delírio

 

Falta pouco

Falta muito

Falta direção

Falta companhia

 

Estamos (todos)

Entre a vida e a morte

Em que parte do caminho?

Há tempos ando em círculos

Melhor recomeçar

///


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