Berrando Poesia – Carol Demoliner



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(Ilustração: Levi Noli / Revista Berro)

 

O amor é como uma criança

Assombro-me

Com a imensidão do teu espaço 

Com a pequenez dos teus atos

Com a ação óbvia 

Com o final igual 

Com o tempo que não passa

Com o que se passa em mim 

Com o tempo que não passo com você 

 

Vou como uma criança

Me escondo nos cantos

 

Me minto pra ser melhor

Me enrolo porque não estou preparada

Choro quando desesperada 

Chamo-te para me acalmar

Grito pra você me pegar 

 

Invento uma mentira

Faço uma graça

Chamo tua atenção

Me interesso pelo que tu vês 

Me enciúmo 

Por não ser só o que vês 

 

Voo com esperança

Entro antes da minha vez 

 

      

Ainda Assim

 

Ficava cada vez menor 

Um pedacinho de alguma coisa 

Que eu amassava e ele me

Lembrou a mim

Ficando cada vez mais pequena 

Alguma coisa que você vai amassando até se tornar 

Quase nada. Mas 

Como posso me sentir assim

Se quando fecho os olhos eu expando a ponto de me ver no topo do universo e sinto todo ele dentro de mim?

Através de mim 

Aperto a mandíbula

Mastigando o que não tem 

Na minha boca

Apenas a minha saliva

Porque eu ainda queria

Que tu me tocasses como as teclas do teu piano

Desajeitado

Tentando

Encontrar o ritmo certo

Calmo

Estressado

 

Espero

 

Que as músicas que tu ouves despertem em ti

O mesmo que despertam em mim

O que a gente sentiu quando estava apaixonado

Quando a gente ainda não tinha se machucado. 

 

 

Viagem

 

Nossos destinos cruzados

Pela noite iluminada

Nosso som abafado

Pelas paredes camufladas

Nossa dança livre 

E solta

Que machuca

Deixando bater dos lados 

Nas laterais

Deixando lesados

Nossos corpos sem nenhum cais. 

 

 

Carcaça

 

Esses dias tentei lembrar

Das coisas boas e elas estavam todas embaçadas

Não eram por lágrimas nem por fumaça

Mas tinha uma cortina

E ela cobria tua cara

Tudo o que tu me mostravas e declaravas 

Escondido embaixo da minha carcaça.

 

802

 

Contatos imediatos 

que nos tiram demasiado

despertam lados que achamos estarem curados.

Me seguro no meu cigarro

pois entre minhas mãos há todos os colapsos. 

Quem me dera ser centelha que só explode na certeza

de que ninguém vai se machucar. 

 

Eu percebo 

que ninguém escapa das facas 

que estão cravadas na própria espalda 

golpeadas por outras almas. 

Então esse laço às vezes é casa

às vezes é caos 

vira clube de luta

faz de cobaia

caçoa na cara

cria coisa

dá cacoete 

marca calçada. 

 

Permite que a violação das leis de sanção dos dois envolvidos 

sejam cortadas tão rápidas quanto a conexão que tiveram.

 

Portanto suplico

não me prometa palavras nem sonhos

mesmo se forem verdadeiros 

não me conte teus segredos

de nada adianta se entregar sem medo 

e depois perceber que foi um erro. 

Não me escreva notas

nem programe mais rotas

não abra mais a porta.

Me ajuda a ficar do lado de fora. 

 

E confesso 

que confundo amor com confusão 

porque ainda penso em qual sintonia toca a tua alma

pra te escrever uma sinfonia. 

Mesmo só sabendo escrever poesia. 

 

 

Teoria

Estudei que a paixão é um tipo de sentimento

Que precisa de uma transição 

Pra se transformar no bem-dito amor 

Estudei que existem condições pra isso

E que o processo é intenso, denso

 

Estudei que depois de reconhecermos os erros do parceiro

E deixarmos de idealizar ele como projeção nossa

Se ainda queremos ele de volta 

É porque estamos amando

 

Será que foi por isso que tu quis me ver de novo?

Será que, então, todos os eu te amos que foram ditos por ti foram verdadeiros?

E não a mandos

Como um disfarçado pedido de desculpas? 

Afinal tu deve sentir culpa. 

Eu também a tenho.

 

///

Carol Demoliner (1995) é gaúcha natural de Erechim e formanda em Psicologia. Amante de todas as formas de arte que expressam a vida genuinamente, sempre usou das palavras escritas e outras expressões artísticas para alcançar o que estava na brecha de saída de seu ser. Inspirada pelo céu e pela terra, pela vida e pela morte, começos, meios e fins, a autora traduz seu olhar do mundo através do lírico, passeando pela poesia, poemas e crônicas.


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