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O amor é como uma criança
Assombro-me
Com a imensidão do teu espaço
Com a pequenez dos teus atos
Com a ação óbvia
Com o final igual
Com o tempo que não passa
Com o que se passa em mim
Com o tempo que não passo com você
Vou como uma criança
Me escondo nos cantos
Me minto pra ser melhor
Me enrolo porque não estou preparada
Choro quando desesperada
Chamo-te para me acalmar
Grito pra você me pegar
Invento uma mentira
Faço uma graça
Chamo tua atenção
Me interesso pelo que tu vês
Me enciúmo
Por não ser só o que vês
Voo com esperança
Entro antes da minha vez
Ainda Assim
Ficava cada vez menor
Um pedacinho de alguma coisa
Que eu amassava e ele me
Lembrou a mim
Ficando cada vez mais pequena
Alguma coisa que você vai amassando até se tornar
Quase nada. Mas
Como posso me sentir assim
Se quando fecho os olhos eu expando a ponto de me ver no topo do universo e sinto todo ele dentro de mim?
Através de mim
Aperto a mandíbula
Mastigando o que não tem
Na minha boca
Apenas a minha saliva
Porque eu ainda queria
Que tu me tocasses como as teclas do teu piano
Desajeitado
Tentando
Encontrar o ritmo certo
Calmo
Estressado
Espero
Que as músicas que tu ouves despertem em ti
O mesmo que despertam em mim
O que a gente sentiu quando estava apaixonado
Quando a gente ainda não tinha se machucado.
Viagem
Nossos destinos cruzados
Pela noite iluminada
Nosso som abafado
Pelas paredes camufladas
Nossa dança livre
E solta
Que machuca
Deixando bater dos lados
Nas laterais
Deixando lesados
Nossos corpos sem nenhum cais.
Carcaça
Esses dias tentei lembrar
Das coisas boas e elas estavam todas embaçadas
Não eram por lágrimas nem por fumaça
Mas tinha uma cortina
E ela cobria tua cara
Tudo o que tu me mostravas e declaravas
Escondido embaixo da minha carcaça.
802
Contatos imediatos
que nos tiram demasiado
despertam lados que achamos estarem curados.
Me seguro no meu cigarro
pois entre minhas mãos há todos os colapsos.
Quem me dera ser centelha que só explode na certeza
de que ninguém vai se machucar.
Eu percebo
que ninguém escapa das facas
que estão cravadas na própria espalda
golpeadas por outras almas.
Então esse laço às vezes é casa
às vezes é caos
vira clube de luta
faz de cobaia
caçoa na cara
cria coisa
dá cacoete
marca calçada.
Permite que a violação das leis de sanção dos dois envolvidos
sejam cortadas tão rápidas quanto a conexão que tiveram.
Portanto suplico
não me prometa palavras nem sonhos
mesmo se forem verdadeiros
não me conte teus segredos
de nada adianta se entregar sem medo
e depois perceber que foi um erro.
Não me escreva notas
nem programe mais rotas
não abra mais a porta.
Me ajuda a ficar do lado de fora.
E confesso
que confundo amor com confusão
porque ainda penso em qual sintonia toca a tua alma
pra te escrever uma sinfonia.
Mesmo só sabendo escrever poesia.
Teoria
Estudei que a paixão é um tipo de sentimento
Que precisa de uma transição
Pra se transformar no bem-dito amor
Estudei que existem condições pra isso
E que o processo é intenso, denso
Estudei que depois de reconhecermos os erros do parceiro
E deixarmos de idealizar ele como projeção nossa
Se ainda queremos ele de volta
É porque estamos amando
Será que foi por isso que tu quis me ver de novo?
Será que, então, todos os eu te amos que foram ditos por ti foram verdadeiros?
E não a mandos
Como um disfarçado pedido de desculpas?
Afinal tu deve sentir culpa.
Eu também a tenho.
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Carol Demoliner (1995) é gaúcha natural de Erechim e formanda em Psicologia. Amante de todas as formas de arte que expressam a vida genuinamente, sempre usou das palavras escritas e outras expressões artísticas para alcançar o que estava na brecha de saída de seu ser. Inspirada pelo céu e pela terra, pela vida e pela morte, começos, meios e fins, a autora traduz seu olhar do mundo através do lírico, passeando pela poesia, poemas e crônicas.
Agradeço de coração, Revista Berro!!