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(Foto: Revista Berro)
João Ernesto
Subindo as escadas côncavas pela cerveja vespertina, se fosse deixar de viver meus momentos com amigos por causa de lembrança mal resolvida já teria virado tapete de asfalto. Essa tarde veio me dar uns anos a mais de vida. Vim cantando do bar até em casa, ainda tive sobriedade para dar boa noite à vizinha que sempre me cumprimenta com seu sorriso amarelo.
Esses tipos de lembranças recentes são úteis ao meu estado de espírito e enquanto subo as escadas que parecem de borracha, ocupo minha mente pra não pensar naquela pessoa. Essa noite terei sonhos ou terei pesadelos?
Se é para haver noites, que elas aconteçam com toda sua essência de mistério. Que eu veja o pôr-do-sol com pesar, que eu me sinta uma caça e me veja como alguns milhares de anos atrás, onde o instinto fazia o humano temer a noite que viria e que em minhas reflexões só quem teme e respeita a noite pode estar vivo.
Eu aqui me ponho por inteiro distraído e mal amado. Pouco apreensivo, acendo um cigarro e penso na pessoa, a fumaça escreve na penumbra o que eu queria ser, fugaz… o cheiro de cigarro e o sal do meu olho fazendo o ar em suspensão, sem cor, dentro desse quarto escuro, minha noite será.
João Ernesto acredita que as reticências ainda querem dizer muita coisa…