O título não é à toa, recentemente uma revista publicou uma matéria sobre a importância e urgência em discutir-se o tema – fato importante uma vez que esse ainda é um assunto considerado tabu na sociedade brasileira -, até então uma contribuição valiosa para todos e todas que procuram dar visibilidade à pauta e sensibilizar as pessoas quanto à gravidade das conseqüências que a falta de diálogo franco causa às muitas mulheres – principalmente àquelas negras e pobres da periferia.

Pois bem, o que deveria ser considerado algo positivo, porém, torna-se motivo de acusações de “roubo de protagonismo”, isso porque na capa da revista  aparece a foto de duas atrizes e um ator vestidos com uma camiseta branca com a frase “precisamos falar sobre aborto”. A alegação de um grupo de feministas é que o ator, sendo homem, estaria querendo protagonizar a luta das mulheres.

Todos os anos milhões de mulheres morrem em decorrência de procedimentos caseiros ou em clínicas clandestinas, mas o direito ao aborto não é negado a todas as mulheres, aquelas que têm condições financeiras para pagar pelo procedimento em clínicas melhores o fazem com segurança e sem maiores complicações, ou até mesmo  viajam ao exterior para submeterem-se ao procedimento. Portanto as vítimas dessa violência têm classe, e normalmente também raça definida, são negras em sua maioria, vítimas de violência sexual e vivem em áreas precarizadas.

A falta de diálogo com a sociedade e conscientização quanto à urgência do problema faz com que, além de terem que passar por procedimentos que colocam em risco suas vidas, as mulheres ainda corram o risco de serem criminalizadas por abortarem, uma vez que o aborto é considerado crime, quando não em caso de estupro e risco à vida da gestante.

Diante disso tudo fica a indagação sobre quem pode ou não defender a pauta, ora, sendo esse um assunto que deve ser problematizado e aberto à discussão é quase desumano alegar que alguém esteja querendo “roubar o protagonismo” das mulheres, esse tema deve ser abordado em todos os espaços por todos aquelas e aqueles que possam fazê-lo, há muito mais em jogo que uma imagem.

Vanessa Dourado é poeta e feminista latino-americana