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Bruna Estrela
Meu inferno astral deste ano me deu de presente a maior das minhas decepções amorosas e de quebra ainda me temperou com catapora no dia seguinte. Não tive tempo de sair, de conversar, de me distrair, de ter abraçado o suficiente antes de me ver submersa nessa doença maldita. Sentia dor no corpo inteiro e por dentro principalmente; não sentia fome, tanto pela doença quanto pela digestão lenta de um amor desperdiçado; me olhava no espelho constantemente e eu via a feiura dos caroços e os destroços do que eu estava sentindo. Eu tava no fim do poço do mundo.
Além da reclusão e da solidão em que me vi obrigada a estar, tive que tomar banho com um remédio roxo que tinha que dissolver na água. Detalhe: sempre odiei a cor roxa/violeta/rosa e seus afins e era obrigada a olhar pra ela todo santo dia no mínimo três vezes. Era como um banho de vômito simbolizando tudo de ruim que eu estava passando. Ria, debochava de mim e da vida achando tudo uma grande piada, até me dar conta do real simbolismo daquele mal necessário.
Eu, que sempre soube que existia uma linha tênue que une corpo e mente como um só, me peguei vivendo fortemente essa existência e comecei a enxergar tudo de uma outra forma. Reconheci o quanto estava forte e o quanto me sentia confortável e à vontade comigo mesma e com aquela solidão que, na verdade, era só física, pois sabia que tinha pessoas incríveis ao meu lado. Enxerguei que precisava realmente olhar pra mim, pro meu corpo, pra minha vida, e me autoconhecer. Vi também que as feridas precisam de tempo e de paciência pra sarar, assim como as decepções. Na hora do banho de roxo/rosa, colocava Pink Floyd (que ironicamente é a minha banda favorita) e brincava de fazer ‘arte’ com o remédio que mais parecia um pigmento e me garantia viagens e imagens lindas (como a foto deste texto). Aí passei a me banhar com ‘arte’, não mais com ‘vômito’, e, no fim do banho, quando via toda aquela sujeira, dor e tristeza que havia em mim sumir pelo ralo, eu sabia que estava de alma lavada.
Não sei como consegui escrever este texto e passar realmente um pouco do que foi vivido e sentido. Só sei que o princípio da catapora se aplica a outras coisas da vida, que é e sempre vai ser essa montanha russa doida de tantos altos e baixos. Termino com frio na barriga, com uma leveza de ter colocado tudo pra fora e parafraseando Edith Piaf, que viveu e cantou o amor como ninguém: a Vida é Rosa! Só depende de como a gente a enxerga.
“de amoras.
de tintas rubras do instante
é que se tinge a vida.
de embriaguez.”
Bruna Estrela é gastrônoma em formação, artista de brincadeira e uma mistura de todas as outras coisas