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*Entrevista realizada por Artur Pires e João Ernesto
**Texto de abertura: João Ernesto
O Brasil que deu certo é uma história antiga, ancestral, apesar da lama que o presente vem especulando aos nossos dias. O sangue escorre em brancas páginas de livros de história. O povo (nosso povo) sempre massacrado, traído, deixado de lado e, por muitíssimas vezes, esquecido das páginas brancas dos livros de História do Brasil.
Mas há uma fresta em meio ao massacre, uma flecha cabocla que atravessa a sala de jantar da família de nazistas moderados: a capacidade que esse povo (nosso Povo) tem de se reinventar no escuro. Com as iniciais em caixa alta, História Antiga é a primeira música do disco do músico pernambucano Zé Manoel lançado em meio à pandemia de Covid-19.
Enquanto vivemos a impossibilidade dos encontros físicos, Zé nos expôs ao seu coração nu. Um disco que é mais que alento às causas de resistência que nunca estarão perdidas. Do meu coração nu poderia também ser compreendido como uma jornada do herói. Parte da ausência de forças que nos assolapa quando sabemos pelo jornal sobre a vida abordada e interrompida com OITENTA tiros. Por conta da cor de sua pele.
Esse corpo que precisa reaprender os ancestrais movimentos pretos, indígenas e caboclos à revelia da polícia militar, da bancada da bala, dos ruralistas e do cidadão de bem que não admite seus racismos. A partir das forças das águas, elementos que Zé carrega de sua primeira terra, Petrolina, cidade na qual um rio separa e une estados, pessoas. Em No Rio de Lembranças ele abraça o Grupo Bongar para falar de forças naturais que espatifa fronteiras, que flui em um propósito maior que o bater do próprio coração.
Na terceira canção do disco, Zé Manoel dá mais que um conselho: Escuta Beatriz Nascimento. Historiadora, poeta, preta e professora sergipana, muito mais que um conselho para os mais jovens. Escutá-la falando das mãos brancas que não só escreveram a história, mas escolheram a dedo quem vive e quem morre. São necessidades de um país que só conseguirá se reinventar a partir de sua própria história. O disco segue como o fluxo de um rio que não reconhece as frágeis barreiras impostas pelo preconceito racial. As transpõe como quem não aceita o limite da senilidade que coloca.
Apesar da lima provinciana dessa Bruzundanga, sempre houve quem contrariasse qualquer estatística branca. O artista pernambucano conversou com a Berro diretamente de sua terra natal, onde tinha acabado de chegar de temporadas entre Recife e São Paulo. Zé Manoel falou sobre suas inquietações como artista em relação ao estado atual das coisas, uma conversa sobre política, mercado fonográfico, arte, sua infância e adolescência petrolinense, etc.
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Berro: No início dos anos 2000 vários blogs permitiam acesso às músicas. Como você analisa essa época em relação ao acesso às músicas que temos hoje?
Zé Manoel: Eu confesso que sinto falta desse período, porque de certa forma eles organizavam tudo que existia na época assim, né. Coisa que não existe hoje em dia, né? Você tinha diversidade de curadorias, por exemplo: tinha o Som Barato, tinha o Musicoteca, o Eu Ovo, esses que eu seguia. Então eu conhecia muita coisa nesse período, muito mais que hoje em dia, porque de certa forma tá rolando muito mais coisa, a gente recebe muito mais informação, mas fica tudo meio desencontrado, né? E recebe vírgula, porque tem muita coisa que o algoritmo não entrega pra gente. Eu sinto falta dessa curadoria porque era importante. Cada blog tinha sua característica, tinha um estilo mais específico. O Spotify, essas plataformas, não dão conta. Inclusive de entregar pra gente o que está sendo produzido, porque eu não recebo na qualidade que eu entrego a música.
Quando eu subo para as plataformas, eu subo com uma boa qualidade. Quando eu vou ouvir está com um som de radinho de pilha. Inclusive eles também não entregam o que a gente sobe lá, né? Eles diminuem a qualidade, não entregam a informação. Eu tenho ressalvas com as plataformas, mas é o que tem, né? A gente precisa se adaptar e usar as que têm, mas eu tenho problemas com o que virou essa distribuição. Inclusive porque ficou tudo na mão de quatro pessoas. Quem ganha dinheiro são essas quatro pessoas.
Quais as referências estéticas que tu construiu na tua trajetória como artista? Quando a gente pergunta sobre referências estéticas não são só as musicais.
Eu não sou muito organizado na construção. Eu sou muito organizado e muito pragmático na construção de um disco, de uma música, enfim. Mas em relação às referências eu sou muito solto, é o que vai me chegando, é o que vou ouvindo e o que vai me chamando atenção, sempre foi assim, né? Desde o estudo do piano, era pra eu ter estudado Chopin, Bach, que são compositores básicos de quem estuda piano. Daí eu comecei a ir para o chorinho – o que foi ótimo pra compositores brasileiros – mas foi muito porque minha professora tocava, eu gostava daquilo e eu fui direcionando assim, de acordo só com o meu gosto. Então, na construção como compositor, como artista, às vezes eu tô na internet ouvindo algum artista e me sugere algum outro, acho interessante e eu começo a ouvir aquilo ali e já começo a dialogar. Se eu sinto uma identificação eu já começo a dialogar com aquilo, é meio solto.
É tanto que em meus discos não são tão diferentes esteticamente um do outro, mas cada um tem uma temática, cada um tem um pouco do que eu tô vivendo e ouvindo naquele momento. É um pouco do reflexo do que eu tô querendo dialogar naquele momento. É como eu falei, não tem nada tão específico assim. Por exemplo, no primeiro disco muita gente fala assim: lembra Tom (Jobim), lembra Chico (Buarque). No segundo já não ouvia tanto isso, o que eu achei ótimo, até porque não é proposital. Eu não quero ficar fazendo música para lembrar Tom e Chico. Óbvio que eles são referência, mas eu tô querendo fazer minha música. Então, no segundo já soa mais Zé Manoel por uma questão também de que sou eu amadurecendo como compositor e artista. Já nesse último também soa Zé Manoel, mas eu já tô ouvindo um pouco mais de música pop americana, música preta americana, então tem levemente um pouco da influência disso que eu tô ouvindo também.
O piano é um instrumento bem raro no Brasil. Como que um menino do sertão pernambucano despertou para o piano, como foi esse despertar para este instrumento na sua vida?
Pois é, eu tive a sorte de que aqui em Petrolina tem uma professora que é a minha professora, a Lúcia Costa, que ela tem uma escola de música em frente ao colégio em que eu estudava. Sempre que eu passava em frente eu via lá “escola de piano” e eu ficava muito curioso. Na época eu estava descobrindo muito o teclado, que era o que eu tinha acesso. Tanto que até hoje eu não tenho um piano, eu estudei piano, mas não tenho o instrumento, eu tenho um teclado em casa. Na época eu tinha um tecladinho e comecei a alimentar a vontade de estudar piano e toda vez eu passava lá e perguntava quanto é, e ela dizia “é tanto”. No outro mês eu passava e “quanto é?”, ela dizia “é tanto”. Até que um dia ela disse “tu vai ficar só perguntando toda vez, não vai estudar não?”
E eu não tinha assim, né? Tipo, comecei a chorar em casa até que eles decidiram me colocar. Mas foi por essa sorte mesmo de ter Lúcia aqui (em Petrolina), porque não tinha conservatório se não houvesse aquela escola ali.
Tu tem contato com ela até hoje?
Tenho, tenho. Sempre que eu tô em Petrolina, sempre que venho aqui eu tento fazer uma visitinha a Lúcia.
Sobre suas parcerias, Zé. Você fala com muito carinho sobre suas parcerias em seus discos. Em qual momento acontecem essas parcerias, elas vêm no momento da composição? Como que é esse processo?
Tudo que eu faço é pautado muito pela vontade de trocar com aquela pessoa. Ou é algo de afeto, ou é algo que eu já troco e faz parte da minha vida, enfim. Inclusive, por exemplo, há momentos que eu quero ou que eu penso que seria massa lançar uma música com pessoa tal que eu já tenho acesso, que é conhecida, mas não é assim o que eu pauto o que eu faço. Eu prefiro ir sempre pelo que aquela música me referencia. Eu vou muito mais assim. Sempre em todos os discos eu procuro tanto pra compor, quanto pra tocar junto com a participação de outro artista, é sempre pautado muito por isso. São pessoas que eu tenho muita vontade de trocar.
No meu segundo disco, o Canção e Silêncio, Tutti Moreno tá tocando, que é um cara que eu queria muito ter uma oportunidade de tocar com ele e eu sabia que naquele momento era o momento pra eu fazer isso, convidar um cara como ele. Assim também como Letieres Leite, assim como Miranda e Kassin. Então quando eu tiver uma grana pra poder fazer isso eu vou fazer da melhor forma pra poder chamar pessoas que eu não conhecia, mas queria muito conhecer e me aproximar pra fazer música, pra trocar, eram pessoas que eu tinha esse interesse. Em todos os discos funcionou dessa forma.
Zé, você fez parte do Matingueiros, que é uma banda nascida em Petrolina. Como foi sua experiência nesse coletivo?, que é bem diferente de tocar um projeto solo, imaginamos.
Foi um momento muito importante, porque eu vinha do estudo do piano que é uma coisa solitária e muito mais acadêmica, digamos assim. E tocando coisas bem convencionais, acompanhando outros artistas como músico, eu fui começar a compor bem mais pra frente. Então quando surgiu o Matingueiros, fazendo música autoral, aquilo me despertou pra um universo de possibilidades, porque a riqueza que Wagner trazia pro grupo Matingueiros, trazia a cultura baiana que era a cultura do sertão baiano, a cultura do sertão pernambucano, a música de Recife. Foi também uma forma de eu ter mais contato com a música de Recife, que eu cresci muito mais pendendo e ouvindo muita música baiana, que era o que chegava, muito mais da Bahia do que as coisas de Recife. Então foi uma forma de uma ponte entre Petrolina e Recife através do Matingueiros. Então foi um momento muito importante de descobertas mesmo. Uma das primeiras aberturas de cabeça como compositor e como artista para entender a riqueza, a poesia, muito além daquela música que eu vinha ouvindo, que era Tom Jobim, por exemplo, muito em conta do piano também.
E eu tocava sanfona, né (no Matingueiros)? Que pra mim é uma coisa difícil, por você tá em pé, por conta da timidez. Numa banda em que a maioria das músicas eram dançantes, então não podia estar estático, tinha que estar dançando. E a gente viajava muito, festivais no Piauí, em Salvador, em Recife também. A gente viajou pra muitos lugares e foi muito rico esse período.
Zé, tu é mais um entre artistas nortistas e nordestinos que precisaram migrar pra São Paulo ou Rio pra consolidar uma carreira no meio artístico. Isso tem ocorrido há décadas, principalmente por questões econômicas e estruturais envolvidas. Tu consegue vislumbrar em algum momento quando essa migração não será necessária, um momento em que essas pessoas artistas vão conseguir construir a carreira a partir de seu local de origem ou isso é utópico ainda?
Quando eu fui pra São Paulo eu pensava muito nisso. Eu fui pensando: “porra, bicho. Eu tenho que fazer isso e não exatamente eu gostaria de estar fazendo”. Porque eu tava em Recife, tava bem, próximo de minha família e tal, mas
por questões estruturais de como as coisas ainda funcionam no Brasil eu senti a necessidade de ir. Eu me questionei durante muito tempo o porquê de um país do tamanho do Brasil as coisas se concentrarem em um estado, no caso em São Paulo.
Estando lá eu comecei a entender um pouco que lá existe uma demanda muito grande, é um lugar muito populoso, com muitos teatros, com muitas unidades de SESC, com muitos teatros do estado, teatros da prefeitura e nos interiores também tem um circuito.
Então, assim, se você vai no Rio já não tem essa demanda… têm pessoas do Rio indo para São Paulo. Por outro lado eu acho que a pandemia veio pra mexer um pouco nisso, porque assim como eu voltei pra passar a pandemia por aqui (Petrolina), muita gente veio, muitos artistas da Bahia, inclusive, tão conseguindo, tão ficando, voltaram e vão ficar na Bahia. O Baiana System nunca saiu da Bahia, né? Conseguem circular o Brasil sem sair da Bahia. É um estado que consegue fazer mais isso até por estar na portinha ali com o sudeste. É uma coisa que tende a aumentar, essa migração de volta pra casa. E o Brasil precisa se estruturar pra isso, que a gente possa ir e voltar e que isso não seja um empecílio de você circular pelo Brasil.
Curto e grosso: o artista deve necessariamente fazer política com a sua arte?
Eu acho que não necessariamente. Você fala assim, no fazer arte ou em relação a se posicionar?
Falo em relação à sua arte ser uma arte política. Em seu último disco, “Do meu coração nu”, deu pra perceber que a questão política está mais forte.
Assim, eu fiz esse disco porque era uma necessidade minha de fazer. Eu não me sentiria à vontade de lançar um disco nesse momento em que vários assuntos estão circulando aqui num redemoinho ao meu redor quando tu, sendo puxado por esse redemoinho, fazer um disco falando de amorzinho, na beira do rio e tal. Eu não ia me sentir à vontade de fazer isso, era uma necessidade minha, é uma coisa que surgiu e tá na mente.
A coisa que eu estava falando antes é que, tipo assim: foi uma necessidade minha, não sei se a gente pode cobrar de todo mundo que faça a mesma coisa, porque tem gente que não se sente tocado da mesma forma. Só que eu acho que tem uma resposta a isso.
Não no mainstream, artistas que a gente gostaria que se posicionassem só querem saber do bolso deles e eu não tô interessado neles. Mas falando de onde eu circulo, por exemplo, quem não tá dialogando com o que tá acontecendo, meio que as pessoas também não estão ouvindo. É a impressão que dá, porque muitas pessoas lançaram coisas muito legais, mas assim, meio aleatórias, sem dialogar muito com o nosso mundo.
Eu não vejo muito as pessoas ouvindo, as pessoas estão em busca de identificação, né? E eu também tô em busca, eu também tô ouvindo. É um momento que você quer de certa forma identificação com aquilo que você tá passando e vivendo naquele momento, então foi por uma necessidade minha. Eu acho que, no geral, as pessoas mais famosas no Brasil estão muito longe de se posicionar como deveriam. Eu acho que isso é uma grande lástima, que um país do tamanho do Brasil com tantos artistas tão populares e usarem essa popularidade pra fazer benefício próprio. Ninguém tem um pensamento de comunidade, pensamento de que aquilo poderia extrapolar o próprio bolso e a própria vida. Isso é uma pena, né? Vem do esporte, passa pela música e a TV, enfim. Isso é uma pena.
Tu é um artista à margem do mainstream, né? Está à margem da corrente hegemônica do mercado fonográfico. Como tu vê hoje o mercado brasileiro, dominado pelo forró eletrônico, pelo sertanejo universitário, como tu analisa isso?
Bicho, é difícil entender. A gente vive em um país muito rico, com muita coisa legal, acho que a gente nunca teve um momento tão rico como agora. As pessoas falam, “ah, não se faz mais música como antigamente”. Faz sim, se faz muita coisa boa. Inclusive a diversidade de coisa que tá acontecendo acho que nunca existiu no Brasil.
Só que há um disparate muito grande entre o que é produzido e o que é veiculado para as pessoas e isso eu acho escroto pra caralho.
Não é que não deva existir, com certeza é muito massa que exista o forró eletrônico, ooo… eu nem sabia da existência, bicho. Porque eu não ouço mais rádio e nem vejo TV, eu vim ouvir aqui em Petrolina, porque aqui você anda e o pessoal tá ouvindo a Pisadinha… na verdade eu sabia da existência, eu não sabia que tinha o nome, pra mim era um forró, enfim. Tudo isso é importante que exista, agora o problema é a forma como elas são distribuídas e são organizadas. Eu vi uma matéria falando que 72% do que as pessoas ouviam no Brasil era sertanejo e o restante ali estava o axé, a Iza, o pop. O que eu faço e o que muitos dos meus parceiros fazem nem existe a porcentagem daquilo.
Então é muito discrepante a forma como tudo isso é trabalhado e distribuído no Brasil. São poucas pessoas que mandam nesse mercado, né? São os donos de TVs, são os donos das rádios, que são os políticos, enfim. Então são eles que no final das contas ditam o que as pessoas vão ouvir.
Pegando esse gancho: o que vocês, artistas independentes, que fazem arte contra-hegemônica, como vocês discutem o cenário independente? Vocês estão nesse meio, vocês trocam essas ideias, né?
Em São Paulo era até uma coisa chata e toda vez que a gente às vezes tava correndo no Minhocão, e encontrava com algum artista a gente parava pra conversar e o assunto é sempre esse. Aí começa a ficar chato, você quer conversar sobre outras coisas e o assunto é só esse. Porque tá todo mundo num corre e não conseguindo dar conta das coisas. E não só eu, que eu não sou um cara conhecido de fato. Têm pessoas independentes que são muito mais conhecidas do que eu. Então, assim, tá todo mundo mais ou menos na mesma. Com pequenos níveis de diferença, mas tá todo mundo meio que não dá conta, esse mercado não dá conta desses artistas.
Mas não sei se existe exatamente uma articulação. Porque a coisa é bem mais enrolada. É bem difícil. Eu penso muito em sair do país. Acho que todo mundo tem um pouco desse pensamento. Até porque eu acho que tem uma abertura pra o que eu faço lá fora. Não largar tudo e ir embora, mas começar a focar um pouco fora daqui, porque eu acho que… eu não sei, eu não sou otimista, eu acho que vai demorar muito tempo até haver uma mudança de fato, em como as coisas funcionam.
Como que tá esse movimento, Zé?
Tenho muitos amigos chamando pros Estados Unidos, que eu não sei se é exatamente o melhor lugar, que o pessoal fala muito que seria bom eu ir pra Europa. Mas eu tenho muitos amigos em Nova York: Stéphane San Juan (baterista francês), que gravou meu disco, mora lá. Gabriela Riley mora também. Têm pessoas em Portugal, acho que tem um boom em Portugal de artistas brasileiros. Eu acho que não iria de mala e cuia pra um lugar, começaria a sair e a ver onde que tava rolando. Porque ter um apoio onde quer que seja é interessante. Foi assim que eu fui pra São Paulo, tive um apoio de Xênia (França), que eu morei um tempo na casa dela, eu não fui à toa assim, né? Eu fui já conhecendo algumas pessoas, tanto que o processo foi bem mais rápido do que a minha saída de Petrolina pra Recife. Então, a princípio eu acho que eu iria pra onde eu tivesse um apoio para começar a tentar, enfim, ver quais são as possibilidades.
Um show ideal para uma artista como Ivete Sangalo, talvez seja chegar numa cidade e falar com a imprensa, passar o som, fazer o show, receber fãs para fotos, em um ritmo mais frenético. Da mesma terra dela, João Gilberto fala que o show mais legal pra ele seria algo mais intimista e tal. Qual seria um show ideal pra ti?
Bicho, eu sempre gosto de shows com público, porque muitos deles a gente vai achando que vai lotar e não lota. Mas eu gosto muito de ir em lugares onde eu encontre as pessoas depois, né? “Vamo tomar uma cerveja depois”, porque assim, você não chega só e despeja o que você está fazendo ali e vai embora, né? É uma troca, você canta as suas músicas e depois você conhece quem tá no corre ali na cidade, assim.. eu gosto muito de viajar, é uma coisa que eu até estava fazendo bem antes da pandemia e, por exemplo… eu acho que não teria um perfil ideal de show, mas acho que onde eu possa ter tempo para ter essas trocas, pra mim essa é a situação ideal.
Por exemplo, eu fui a Fortaleza, eu nunca fiz um show aí, eu fui com Fafá de Belém, acompanhando ela. A gente fez o show e acho que a gente passou um dia e meio ou dois dias, deu até tempo de ter uma trocasinha rápida. Mas tem show que você chega, toca e vai embora e eu acho que isso me incomoda um pouco, que eu acho que fica sempre faltando algo. Você chega, toca e vai embora.
Poderia dizer um show que tu possas dizer que é mais parecido com o ideal?
Os shows mais memoráveis são em Recife, no teatro Santa Isabel, que são com teatro lotado. Meu primeiro show no Santa Isabel foi uma noite de teatro lotado, teatro grande, histórico, assim… foi lindo. No segundo disco, no Canção e Silêncio, a gente fez também numa noite muito cheia. Quando eu fui pra São Paulo eu começo a me adaptar a shows com públicos menores, porque eu não sou conhecido em São Paulo. Eu tô começando a me projetar mais agora, depois desse último disco. Então eu não consegui ainda fazer shows desse meu último disco, então eu acho que os shows mais memoráveis na minha carreira foram em Recife… e em Petrolina também, que é a minha casa. Toda vez que faço aqui é com o teatro lotado, enfim. Mas fora desse lugar de conforto, é em Recife.
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Não perca na próxima semana a parte II da entrevista com o músico pernambucano Zé Manoel.