Às línguas indígenas sepultadas



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(Ilustração: Levi Noli /Revista Berro)

 

De repente,

estrangeiros invadiram nossos espaços,

Fizeram de um paraíso topológico e cultural

um lugar inóspito e infernal

 

Julgaram-nos,

Despiram-nos numa ação mais macabra,

Exterminaram-nos por pura ambição,

que chamaram categoricamente de colonização

 

Trajados de vestes sofisticadas,

sobre a cabeça coroas santificadas,

com eles, aniquilaram nossas almas,

Venderam-nos um modelo de salvação,

ignoraram nossa cosmovisão

para louvar um único Deus que pregou o perdão

 

Bárbaros, cruéis,

trataram de sepultar nossas línguas

que se foram, com isso,

os ensinamentos, as culinárias, a medicina

dos povos tachados de pagãos

a partir de homens brancos homicidas…

Apagaram, ainda, nossa identidade, enquanto indígenas

Habitantes de ‘terras desconhecidas’

 

A luta das línguas

custou caro o sangue jorrado em solo sagrado

numa arena ideológica atravessada de interesses econômicos

desumanos,

justamente com os nossos amigos trazidos do continente africano

 

Em 1500, período trágico

na história de um país em que os índios foram os rebelados

por resistirem à língua do colonizador,

ou melhor, do feitor lusitano

que domina a sintaxe superior e clássica,

de uma fonologia refinada

dentre as línguas românicas autenticadas

 

Que lembremos do luto das línguas!

 

Por isso,

pedimos um minuto de silêncio

para resgatar a memória do epistemicídio

ocorrido em nosso sistema linguístico

 

Viva as línguas indígenas

assassinadas sem dó e piedade,

seja ela o tupi, tremembé,

krenak,

tornando-as patrimônio imaterial,

fundamental, da nação brasileira.

 

///

Thales Geovane Rodrigues Silva é graduando em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB. Fora dos muros da academia, aventura-se na escrita de poesias, contos, crônicas, transformando estes gêneros literários em arma de expressão crítica para sobreviver às mazelas sociais.


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