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De repente,
estrangeiros invadiram nossos espaços,
Fizeram de um paraíso topológico e cultural
um lugar inóspito e infernal
Julgaram-nos,
Despiram-nos numa ação mais macabra,
Exterminaram-nos por pura ambição,
que chamaram categoricamente de colonização
Trajados de vestes sofisticadas,
sobre a cabeça coroas santificadas,
com eles, aniquilaram nossas almas,
Venderam-nos um modelo de salvação,
ignoraram nossa cosmovisão
para louvar um único Deus que pregou o perdão
Bárbaros, cruéis,
trataram de sepultar nossas línguas
que se foram, com isso,
os ensinamentos, as culinárias, a medicina
dos povos tachados de pagãos
a partir de homens brancos homicidas…
Apagaram, ainda, nossa identidade, enquanto indígenas
Habitantes de ‘terras desconhecidas’
A luta das línguas
custou caro o sangue jorrado em solo sagrado
numa arena ideológica atravessada de interesses econômicos
desumanos,
justamente com os nossos amigos trazidos do continente africano
Em 1500, período trágico
na história de um país em que os índios foram os rebelados
por resistirem à língua do colonizador,
ou melhor, do feitor lusitano
que domina a sintaxe superior e clássica,
de uma fonologia refinada
dentre as línguas românicas autenticadas
Que lembremos do luto das línguas!
Por isso,
pedimos um minuto de silêncio
para resgatar a memória do epistemicídio
ocorrido em nosso sistema linguístico
Viva as línguas indígenas
assassinadas sem dó e piedade,
seja ela o tupi, tremembé,
krenak,
tornando-as patrimônio imaterial,
fundamental, da nação brasileira.
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Thales Geovane Rodrigues Silva é graduando em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB. Fora dos muros da academia, aventura-se na escrita de poesias, contos, crônicas, transformando estes gêneros literários em arma de expressão crítica para sobreviver às mazelas sociais.
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