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O maior sucesso do terror em 2020 cria tensão inigualável ao mesmo tempo que aborda temas pertinentes
Produzido pela Universal Studios, O Homem Invisível tinha como objetivo integrar o novo universo de monstros da produtora, o qual faziam parte, por exemplo, Lobisomem e Múmia. Algo parecido com o que a Marvel fez com seus heróis, uma realidade partilhada. O filme A Múmia (2017), estrelado por Tom Cruise, seria o longa que daria o pontapé em direção a esse mundo compartilhado, mas o pouco retorno financeiro fez a Universal reavaliar essa possibilidade. Dessa forma, devido ao fracasso que foi o filme protagonizado pelo astro de Missão: Impossível, o investimento disponível para O Homem Invisível foi bastante modesto. Ainda assim, uma grande obra foi entregue.
O filme dirigido por Leigh Whannelll relata a história de Cecilia (Elisabeth Moss), uma mulher recém livre de um relacionamento traumático e abusivo. Quando está pronta para virar a página desse momento estressante de sua vida, ela descobre que o ex-namorado Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen) cometeu suicídio e deixou toda sua volumosa herança à antiga parceira. Porém, mesmo após a morte de Adrian, Cecilia segue atormentada, tendo evidências de que, na verdade, não houve morte alguma e que Griffin está invisível.
Para o fã de terror, o filme é um prato cheio. Repleto de tensões e reviravoltas, O Homem Invisível é daqueles filme de assistir inclinado no sofá. Os primeiros minutos do longa já indicam isso, sendo a primeira cena uma das mais angustiantes. O horror é criativo e bem ambientado, sem uso (abusado) de clichês e passando a sensação que apenas os bons filmes de terror passam, aquela de que o perigo é iminente e não há momentos de tranquilidade (claro que o fato do inimigo ser invisível potencializa esse medo). A direção de Whannell e a atuação digna de Oscar de Moss elevam demais a produção nesse quesito.
Entretanto, o maior destaque do longa-metragem reside na discussão proposta. O filme aborda de maneira muito precisa e real como uma pessoa pode trazer verdadeiros traumas e sequelas de um relacionamento abusivo. Mesmo que Cecilia de fato não os tenha trazido em grandes dimensões, já que seus tormentos não eram frutos de sua cabeça, eram reais e palpáveis, a obra nos promove essa reflexão. Por grande parte do filme, a personagem de Elisabeth Moss é tachada como louca; quantas mulheres ao nosso redor são tachadas de loucas por sofrerem nas mãos de “homens invisíveis”?
Portanto, O Homem Invisível faz muito bem seu papel: proporciona uma boa diversão aos amantes do terror e promove metáforas inteligentes àqueles que buscam uma maior profundidade. Diferentemente da obra original, O Homem Invisível (1933), cuja proposta não era discutir pautas relevantes, apenas passar um bom entretenimento no formato de terror e refletirmos sobre o conceito de uma pessoa invisível, o filme atual acerta em cheio em sua nova roupagem. Algumas incongruências no roteiro e clichês superficiais não ficam de fora, é claro, mas nada que danifique a experiência da audiência, o saldo não deixa de ser bem positivo. Uma pena que um inimigo invisível, coronavírus, tenha afetado tanto a repercussão e divulgação desse filme muito bem-feito.
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