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No dia 18 de outubro de 2017, Fernanda Rodrigues dos Santos foi assassinada com um tiro no peito, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma mulher que vivia em situação de rua, ou seja, em contexto de extrema vulnerabilidade.
O caso de Fernanda foi peculiar porque ela pôde ser identificada e seu assassinato foi amplamente noticiado. Na grande maioria das vezes, essas pessoas não possuem identificação, algo que dificulta a garantia de direitos básicos. Estima-se que existam cerca de 15 mil moradores de rua somente na cidade do Rio de Janeiro.
A Rio Invisível, ONG fundada em 2014, que busca dar voz às pessoas em situação de rua, conversou com Maria Lúcia Pereira, líder do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR), que contou um pouco sobre algumas dificuldades que essas pessoas passam. Maria Lúcia morou na rua por 15 anos.
O movimento começou após a agressão a moradores de rua em São Paulo. Caso conhecido como “Chacina da Sé”. Segundo a líder do movimento, alguns cidadãos se acham no direito de exterminar as pessoas que vivem em situação de rua, simplesmente por elas serem pobres. O intuito é “fazer uma limpa na sociedade”.
O pior é que os moradores de rua não têm acesso a esses fatos, uma vez que não acompanham o noticiário frequentemente. Acabam sabendo das situações por boatos, algo que ela chama de “Rádio Peão”. Há também um comportamento das mulheres que, na busca por proteção, se masculinizam, como forma de evitar assédio e estupros.
Outro comportamento é a necessidade de encontrar seu território. Mesmo estando em situação de rua, essas pessoas conseguem fazer pequenas amizades, o que torna o dia a dia menos severo. Atitudes como um garçom que leva um cafezinho ou uma pessoa que para pra conversar fazem toda a diferença, segundo Maria Lúcia.
Outro que deu depoimento para a Rio Invisível foi William, ex-morador de rua em Copacabana. Entre muitos assuntos ele afirmou que há dificuldade inclusive para trabalhar. “Tentamos vender mercadoria para faturar 30 ou 40 reais por dia, mas o guarda vem e não deixa. Ninguém legaliza a gente”.
Percebe-se, evidentemente, o quanto é difícil sair dessa situação. A história de Maria Lúcia é uma entre as mais de cem que a Rio Invisível já apurou. A ONG segue ouvindo esses relatos e sendo porta-voz das pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro.
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Saulo Junior é estudante de jornalismo da Universidade Veiga de Almeida (RJ) e participa do projeto Rio Invisível.