Dói o código



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(Ilustração: Regina Parra)

Doi o código
um porão mal iluminado
uma cena penumbra do primeiro corte.
A sala de jantar está cheia
os homens códigos com cabelos bem aparados
as mulheres enchem os pratos dos maridos
das crianças crescidas e mal humoradas.
É uma outra cena da Casa dos Mortos.

Aos desajustados, “Pau! Mata!”
A não ser que seja seu sobrinho
e só atropelou porque bebeu demais
“menino bom”.
“Todo mundo tem direito de errar”
a frase mais seletiva do brasileiro.

Toma uma bala
acerta teu primeiro erro
A qual você mataria?
Com quantos anos você morreria?
Pode falar alto, ninguém vai te ouvir nesse porão
a mais de sete palmos.
Em tempo, quais crimes são dignos de punição?
Juntando tudo dá pelo menos uma carabina na sua boca
vai, quantos vocês morreriam?
Uma bala na testa marcada
Faca,
dezessete filhos de Aureliano
tocando o gelo frio do chão.
Podia ser o seu dente quebrado
sua uretra
seus mamilos
invadidos com o pedaço de arame,
conhecendo o lodo sob a mira do Brilhante.

Segue o Brasil nadando no sangue seco
Sem nenhum medo
de pés descalços sobre ladrilho de navalha
segue a onda
os cães agora
sendo caravana
e em nosso peito de madeira de lei
que pode ser talhado, mas nunca corroído
esse botão de sentir dor,
de ficar espremido enquanto todo mundo grita
lobotomia rasgando idéias e jogando aos porcos

e tudo doendo escrevendo de tinta vermelha o último ato.

///

João Ernesto ainda acredita que as reticências querem dizer muita coisa…


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