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No Brasil de 2016, muitas pessoas, orgulhosas de sua posição emergente, foram às ruas para pedir menos direitos aos famintos. A bronca é imaginar que alguém quer levar alguma vantagem. Cada centavo destinado às políticas públicas de inclusão social é imaginado como um absurdo sem precedentes por esta mesma elite que faz doações às instituições de caridade quando Noel chega, em dezembro, para amolecer o coração dos mais infelizes.
Os membros da elite também não querem saber de pobres na universidade. A população brasileira é composta de 53,6% de pessoas negras – segundo dados do IBGE -, mas no grupo dos mais ricos os brancos são 85,7%. As desigualdades de renda e de realidade não podem ser vistas pelas janelas dos emergentes que clamam pelo fim das injustiças. E resulta desagradável dividir a sala da universidade pública com cotistas sem mérito. A meritocracia nunca foi um problema para quem sempre teve as panelas e os bolsos cheios.
Os Sem Fome querem o fim da democracia e não precisam de ciência para entender que a competição deve ser cultuada. Defensores do capitalismo, os Sem Fome querem um país sem escadas e a manutenção dos privilégios dos meritocraticamente bem-nascidos.
Vanessa Dourado é poetisa e feminista latino-americana