Às donas Marias, Anas, Rosas, Dandaras, Olgas e Pagus que vivem em cada um de nós!



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(Arte: Klévisson Viana)

Hoje, 8 de março, comemora-se o Dia da Mulher. Em 1917, no dia 8 de março, milhares de mulheres russas saíram às ruas para protestar contra a escassez e o alto preço dos alimentos. Os protestos foram se avolumando nos dias seguintes e hoje são considerados o estopim para o início da Revolução Russa naquele mesmo ano. Quatro anos mais tarde, em 1921, o 8 de março foi oficializado como o Dia da Mulher. Apenas em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a data oficialmente. À parte este contexto histórico, o dia nos incita a refletir sobre as causas e os porquês das muitas barreiras que ainda impedem a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens nas diversas esferas da sociedade.

No caso brasileiro, a cultura machista, que impera desde a formação do país enquanto nação/povo, foi a grande responsável pela manutenção da ordem social sexista e misógina por todos esses séculos. Infelizmente, o machismo ainda hoje continua no imaginário e na psique coletiva do nosso tecido social.

Devido a essa contaminação atávica na “alma” do povo brasileiro, homens e também mulheres reproduzem (pré)-conceitos e comportamentos sexistas, discriminatórios. A cultura machista no Brasil, amparada por uma sociedade historicamente patriarcal, legitimou ao longo dos séculos – e legitima ainda hoje – a opressão contra as mulheres em nome da imposição de uma cultura sexista danosa e tacanha, que resulta em última instância no altíssimo número de feminicídios no país. É comum lermos nos noticiários casos de homicídios “passionais” (jornalistas, “passionais”é um adjetivo que não cabe para caracterizar esse tipo de crime!). Infelizmente, a abordagem desses casos na mídia empresarial é fortemente dotada de sensacionalismo, não se propondo minimamente a discutir o machismo histórico que impera na estrutura psicossocial e institucional do povo brasileiro, o que explicaria o comportamento violento dos agressores.

De acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), órgão do Governo Federal, uma em cada cinco brasileiras já sofreu algum tipo de violência por parte de um homem. Ademais, estatísticas da mesma Secretaria mostram que, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil, o que representa cerca de 2 milhões de casos por ano. Números absurdos e revoltantes!

Em meio a essa realidade alarmante, percebe-se que o estado brasileiro vem a passos de tartaruga tentando enfrentar essa situação, com serviços e atendimentos ainda muito aquéns do necessário. Atualmente, segundo a SPM, existem 889 serviços especializados para atender mulheres vítima de violência, sendo 464 delegacias, 165 Centros de Referência, 89 juizados especializados em violência doméstica e familiar, 72 Casas-Abrigo, 58 defensorias e 21 promotorias especializadas, além de 12 serviços de responsabilização e educação do agressor. Se você pensar que o Brasil tem 200 milhões de habitantes, dos quais mais de 100 milhões são mulheres, percebe-se que a quantidade de serviços especializados oferecida pelo estado brasileiro é ainda irrisória – não faz nem cosquinha na estrutura machista que legitima toda essa violência! A Lei Maria da Penha, que se aproxima de uma década de vida, capenga na falta de uma convergência de decisões judiciais favoráveis. Há magistrados machistas relativizando demais os termos da lei…

Além desse índice alarmante de violência a que são submetidas, as mulheres ainda possuem uma representação bem abaixo dos homens nas instâncias políticas de poder e decisão, seja no Legislativo, no Judiciário ou no Executivo.

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(Charge: Latuff)

Em 2016, completaram-se 84 anos que as mulheres tiveram direito a voto no Brasil. Sim, porque – pasmem! – a tarefa de eleger os nossos representantes nas instâncias políticas já foi exclusividade masculina. No entanto, a comemoração precisa ser feita com ressalvas. Porque 8 décadas após conquistarem o direito ao voto, apesar de representarem 52% do eleitorado brasileiro (mais da metade, portanto), apenas 46 dos 513 deputados da Câmara são mulheres, algo em torno de 9%; somente 12 dos 81 senadores são do gênero feminino, o que representa cerca de 15%. Na Assembleia Legislativa do Ceará, dos 46 parlamentares, apenas 9 são mulheres, 19% do total; e na Câmara Municipal de Fortaleza, dos 41 vereadores, somente 4 são mulheres, nem 10% da Casa (obs: dados de março de 2013).

A desigualdade e a discriminação não param por aí. No mercado de trabalho, salta à vista a diferença de salário entre os gêneros, mesmo quando exercem a mesma função. Para citar um exemplo, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo levantamento da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em 2011, as mulheres ganhavam em média 72% da remuneração mensal masculina. O rendimento médio dos homens da RMF era de R$ 1.056 ao passo que o das mulheres era de R$ 761. Ainda na RMF, o desemprego feminino alcança índices maiores que o dos homens. Ademais, para cada mulher com carteira assinada, há três sem qualquer vínculo contratual. Essa situação se repete em todo o Brasil, em maior ou menor escala.

Em resumo, a realidade para as mulheres, no Brasil – e, por extensão, em todo o mundo -, não obstante o avanço visível das conquistas do movimento feminista nas últimas décadas, ainda é eivada de muito preconceito e opressão. Será preciso, portanto, que gerações e mais gerações doravante combatam a raiz podre dessa sociedade machista, misógina e patriarcal que impera na estrutura psicossocial do povo brasileiro e historicamente nas instituições, e que foi atavicamente determinante para excluir as mulheres dos processos políticos e sócio-econômicos. Pensemos nisso!

PS: Ah, vai aqui uma diquinha do dia: hoje (e em qualquer momento) não caiamos nos clichês e nas frases fáceis como “sexo frágil”, “delicadas”, “meigas”… Não! Esses lugares-comuns que colocam mulheres como fragilizadas e impassíveis de subversão foram criados e repetidos como mantras historicamente para legitimar a exploração e a opressão machista!


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