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Na imagem, está a localização do terreno no bairro da Sabiaguaba, em Fortaleza (CE)
Por Dani Guerra
Francisca recusou-se a obedecer a ameaça: “Se der um passo, eu atiro”. Na última sexta-feira, 6, ela viu chegar doze homens em carros particulares e um trator ao terreno que ocupava na Sabiaguaba, em Fortaleza (CE). A “desocupação” do terreno não teve liminar, nem decisão judicial, apenas bala e falta de informação sobre os autores dos crimes.
Desde o dia 27 de outubro, 50 famílias ocupam um terreno com cerca de cinco mil metros quadrados na Rua Nascente da Lagoa. Francisca garante que há pelo menos 20 anos o terreno está “sem moradia, servindo para o lixo e de abrigo para a violência”. Sobre a titularidade do terreno, ela informa que os moradores do local sabem pouco.
O ponto máximo para a decisão de ocupar, relembra Francisca, partiu da descoberta de que o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) do terreno estaria sem pagamento há 40 anos. Então, as “pessoas sem moradia limparam o local, deixando as árvores no lugar delas, e construíram barracos de madeira e tábua”, descreve a ocupante.
Após duas visitas tentando comprovar a propriedade do terreno com uma xerox, os “falsos donos”, como identifica Francisca, expulsaram as famílias, quebrando seus barracos e pertences com um trator. Ela conta que, para efetuar o despejo, os homens utilizaram agressões verbais e tiros e que um adolescente de 13 anos foi ferido. Ainda de acordo com a ocupante, uma grávida de oito meses sofreu agressões verbais e ameaças.
A ocupação já se refez, e outro ocupante chamado José teme novas ações violentas dos “jagunços”. Quando questionado sobre a ação da polícia no dia do despejo, ele denuncia que os policiais só chegaram uma hora após a ação e apenas “passaram pelo local”, sem tomar providências sobre as denúncias.
No Encontro de Comunidades pelo Direito à Moradia, organizado pelo Laboratório de Estudos da Habitação (LEHAB/UFC), quatro pessoas que participam da ocupação relataram a violência dos 12 homens não identificados e mostraram as cápsulas das balas utilizadas. Em solidariedade, os moradores e as organizações presentes no Encontro marcaram uma visita à ocupação e chamam a todos para fazer parte dessa manhã de solidariedade, que ocorrerá neste sábado, 14, a partir das 9 horas.
Mais informações sobre a “visita solidária” aqui: https://www.facebook.com/events/428759917321389/