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Por Augusto Azevedo

 

Será preciso falar incessantemente o que todo mundo já sabe?

O álbum de família da vida, parceirx, dói

E não é só de tristeza, de lamentação

O vazio seria algo bem melhor do que este aglomerado de frustrações.

Bem melhor seria se o problema fosse de pura inércia

Ou de mero esclarecimento ou escurecimento

Negar a si mesmo e aos seus em detrimento à aceitação da desigualdade nos generaliza como indiferentes e não como singulares

Sendo compensados pela certeza de que nada se pode fazer

Para que isso mude

Mas a quem interessa as mudanças?

Qual mesmo o interesse daqueles que gozam de boa vida em transformar o mundo em algo que não seja isso que vivenciamos?

Que se lasque!

Esse parece ser o sentimento… a (à) vontade

Cada umx é responsável por si, mas parece que a vida dx outrx é mais interessante

Então é comum ser homofóbicx porque não aceita seus desejos sexuais

Ser racista porque possui algum recalque genital

Ser xenófobx porque odeia as diferenças

Ser um machista convicto porque no fundo tem ojeriza de mulher

E por aí vai seguindo… o mundo

Constituído por uma arrogância alimentada da própria alienação

Além de uma preguiça crítica xiita.

Acompanhar as narrativas fictícias parece ser mais legal que construir a sua própria história.

Só que o negócio é tão escabroso que é bem capaz algumx relativista ousar afirmar

Que aqui estou eu sendo contra as narrativas artísticas

Na tentativa de fazer um poema que não seja poesia

Né isso não.

Sei que todxs vão entender

Mesmo que o entendimento não gere necessariamente ações.

Passamos por corpos mais mazelados que os nossos como de pedintes nas calçadas

Só que muitxs de nós canalizamos a revolta na figura dx pedinte

E não nas causas que levam estx a estar sentado num fio de pedra queimando a bunda por algumas moedas

“Muitos são farsantes, não são mendigos de verdade”

Verdade

Quem não finge nesse mundo?

Sem falar que até onde se sabe, para ser mendigx, basta mendigar.

Tirar xs sujeitxs da situação de mendicância seria um propósito justo

Embora questões tão triviais para uma vida trivial

Como justiça, paz e liberdade

Não possuam o glamour de outrora

Estas e estes foram abandonadas pela maioria de nós

Adotadas pelo crime organizado

O que não é velado.

Na real, conhecendo gente como conheço

Me toco que muitos fazem o impossível para aliviar

A dor de quem pede esmola, mesmo os de barriga cheia

Já outros, sem a menor distinção de tamanho ou idade

Passariam e passam por cima de quem pede ajuda

Pois, além de ser feio ninguém é mesmo obrigado a aturar ninguém

Ninguém. Né?

Discutir emancipação é algo imprescindível

Quando constatamos o aumento de instintos exterminatórios em rumo organizado

Baseado em uma óbvia tendência fascista que temos muita resistência em admitir

Por isso a resiliência se apresenta como recurso revolucionário

Sim, se a crítica carece de radicalidade, imagina a autocrítica?!?

Viver é uma das maiores provas de estar vivo

Talvez a questão nãos seja os aparelhos celulares roubando a vida de seus dependentes

A vida se projeta de modo menos caótico na relação que esses aparelhos mantêm com seus/suas usuárixs

A vida está bem mais agradável dentro dos aparelhos de celular.

O mundo virtual, em termos, está sob controle

O real não

Não mesmo.

O negócio é tão sufocado em si que a utopia de um mundo melhor soa como afronta a tudo que cartesianamente deve brilhar como luz de orientação.

O tempo não é bom, mas quando mesmo foi legal?

Acredito que nunca

O que pega é essa nossa real possibilidade de mudança

Em nossas mãos e a gente sem saber como agir

O que é uma demonstração de intranquilidade e ao mesmo tempo de honestidade

Pois o mundo não é assunto de elite alguma

Independente de cor ou do discurso

Assumir a necessidade de mudar individualmente para assim mudar o mundo

Será o caminho que colocará as estruturas dominantes abaixo

Por isso nossa luta deve ser sempre por liberdade

Jamais por poder

Que a liberdade de ver no outro o outro e não a si mesmo nos faça transcender

Para que assim possamos desfrutar duma vida, que na boa, dificilmente passará dos cem anos

Cada umx na sua e ao mesmo tempo atento, presente e ativx em comunidade

Isso também é pessoal, óbvio.

Envolve vida, inclusive a minha e a sua que lê este poema essencialmente malacado.

No entanto, sabemos, não é por ego algum

É pelo que temos, além disso.

Esta não é mais uma tentativa de moralização

Vai como contribuição

Objetiva e também subjetiva

Na tentativa de lembrar que questões como a fome não se abstrai

Hoje somos um amontoado de gente lutando por inserção

Pelejando para ser exploradx para não desaparecer no tempo morrendo à míngua

Ninguém é melhor que ninguém

E todos nós somos importantes

Até x playba liberal pode ser umx pessoal legal

O amanhã é assunto nosso.

Chega de gente que não fica com ninguém e não se deixa ficar reclamar de promiscuidade

Tá bom desse negócio de nivelar o mundo conforme as nossas próprias limitações

Acabemos com o desamor imposto por quem nunca soube amar

Por que nunca nem tentou nem nunca vai tentar.

Augusto Azevedo é empreendedor da área de Organizações Sociais, atualmente se encontra envolvido em estudos sobre aproveitamento de recursos hídricos com Peter Brabeck-Letmathe


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