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(Foto: Artur Pires/Revista Berro)
Por Vanessa Dourado
Ruas elegantes
No cinza dos galhos
No verde dos pássaros
Nas fachadas dos cafés
Na indumentária dos passantes
Na arquitetura europeia
Os motores conversam mais que as pessoas, e reclamam destas que querem tomar seu espaço. Os cheiros de pão, de café e de condimentos misturados à maturação das carnes.
Pelas ruas de compras, gritam os cambistas. Oferecendo quinze pesos para cada dólar sagrado; disputado como oásis no deserto. Os jornais vendem notícias do acirramento eleitoral, e qualquer periódico mais honesto diz que são todos farinha do mesmo saco, os presidenciáveis; que evitam temas polêmicos e nem por isso menos urgentes.
As inúmeras livrarias e sebos delatam a paixão pela história, política, ficção e poesia; tão presentes nos versos deixados pelas calçadas e na memória que parece estar eternizada e ao mesmo tempo concisa. Como Borges, visto e sentido em todas as coisas – como bem queria.
Pelos muros repete-se “nenhuma a menos” e desenhos Sudakas clamam pela sensatez; cada dia mais escassa. Um restaurante parece expandir-se, e pelas ruas envia suas garçonetes, com bandejas voadoras, atenderem ao faminto que não tem tempo de ir até o local da comida.
Parece tudo sempre muito bem na elegante Buenos Aires e sua inflação, não menos vistosa, de 40%.
Buenos Aires, setembro de 2015
Vanessa Dourado é poetisa e feminista latino-americana