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Drawlio Joca
Certamente este é dos raros existentes no Ceará – e no Brasil – e uma de suas espécimes mais imponentes na força de sua já secularidade.
Árvore mítica, centenária, forte e exuberante, considerada sagrada em algumas culturas africanas, o Baobá é ainda símbolo nacional em alguns países da intrigante África, nossa também mãe. Conta-se que foi trazido ao Brasil para servir de árvore-culto aos nossos escravos por seus Deuses. Ou, quem sabe, ela, a árvore, a própria Deusa. Sim, e digo Deuses e Deusa com maiúsculas, que cada um tem os seus e esta norma é, cá entre nós, bastante etnocêntrica.
Em nossa terra, a imponente árvore tem este belo exemplar situado no Passeio Público de Fortaleza, primeiro logradouro público da cidade, reflexo do processo de formação da sociedade alencarina e de sua estratificação social, além de palco de importantes acontecimentos históricos, tais como a execução dos mártires da Confederação do Equador rebelados no Ceará à época. A propósito, conta a História popular, que o nosso confederado Padre Mororó era muito bem quisto e quando da ordem imperial para executá-lo, não houve carrasco que o quisesse enforcar. A forca, na visão dos algozes, era destinada a assassinos. Posto isto, foi ao fuzilamento! Outras interessantes singularidades do episódio tratam da atitude do Mororó à hora da execução. Em meio ao burburinho da grande movimentação popular, foram amarrar-lhe um lenço vermelho no coração para servir de mira aos soldados. Ele bradou: “Cruzo as mãos ao peito, companheiros! Servirão de alvo! Mas acertem! Não me façam sofrer!” E os encarou, conta-se, forte e sereno! Na convicção de seus ideais! Em seguida, foram vendá-lo, ao que ele retrucou: “Deixem! Que quero ver isto de perto!” E sorriu à hora da morte.
Mais contei aqui, nesta apresentação de meu trabalho, do que propriamente sobre fotografia. Mas fotografia também é filosofia, poesia, memória, identidade…fotografia é tanta coisa! É história e traz história! Viva! Sejam em retratos humanos, cidades, singularidades e multiplicidades, ou, como mais aqui, sobre nossa própria e apartada Natureza.
Por fim, e a propósito, tenho dito: Esquecemo-nos habitualmente que somos a Natureza. Referimo-nos a Ela como que apartados. E, embora teoricamente, saibamos que somos a Natureza, habitualmente sentimos e agimos como se fôssemos, nós, uma coisa e Ela outra, sobre a qual nos inserimos, modificamos e dominamos. Certamente este entendimento fracionado do universo tem origem em nossa raiz grega, ocidental, filosófica. Força de nosso imenso e, ao mesmo tempo, tão pequeno conhecimento racional, cartesiano, que serve ora para construir e brilhar, ora para desencantos.
Mas, quem sabe diria o Mororó se ali não estivesse para ver o pelotão: Olhemos à Natureza! Eu, digo! Olhemos! Pela luz aqui revelada pela fotografia, esta junção de nossa citada ciência do mundo com nossa primordial necessidade, ancestral e mãe, de nos exprimir com algo que, a partir dos gregos, mas só depois deles, chama-se arte!
Drawlio Joca é fotógrafo (www.flickr.com/photos/drawliojoca)