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Todo 1º de maio se comemora o Dia Internacional do Trabalhador. Mais do que festejar a data, é necessário refletir sobre as condições atuais da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.
De antemão, é importante sublinhar que, dentro do atual modelo hegemônico de produção e consumo, a liberdade da classe trabalhadora torna-se, cada vez mais, um horizonte que sempre se distancia a cada aproximação, algo inalcançável dentro desse modo de operação puramente economicista do deus-mercado, deus-consumo.
Com a mais recente crise capitalista, que se arrasta e se aprofunda desde 2008, até o atual momento de colapso econômico europeu, a situação da classe trabalhadora vem se precarizando aceleradamente. Menos direitos e mais deveres, menores salários, mais horas trabalhadas, mais exploração, mais desemprego!
A lógica é extremamente perversa e, por consequência, inversa: os senhores do capital (governantes e empresários das potências capitalistas), que se julgam donos do mundo, salvam bancos e outras multinacionais da bancarrota – os maiores responsáveis, juntos com os governos de plantão, pela atual crise do capitalismo financeiro – e condenam à indignidade, ao arrocho salarial, à redução de direitos históricos e ao desemprego milhões de pessoas no mundo todo. Óbvio: para o modo de produção baseado no dinheiro e na exploração do trabalhador, bancos e multinacionais são mais importantes do que gente!
Na maioria das vezes sem dar-se conta, os trabalhadores do mundo todo estão atrelados a um modus vivendi cíclico, exaustivamente repetitivo e alienante, profundamente nocivo à essência humana livre: trabalhar, consumir, assistir à televisão (que reproduz as representações sociais, os valores e os padrões dessa sociedade do espetáculo, da abundância, do deus-dinheiro) e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir. Trabalhar, consumir, assistir à televisão e dormir… Num círculo hipnotizante e vicioso! Bilhões (sim, bilhões!) de cidadãos em todo o mundo, hoje, repetem esse “modo de vida” diariamente.
Essa é a “liberdade” que a sociedade do consumo tem a oferecer para os trabalhadores, para as pessoas. A liberdade de escolher entre que produto comprar dentro da abundância de mercadorias em um shopping center e a liberdade de escolher o canal que se quer assistir na televisão (quando, majoritariamente, todos têm o mesmo discurso padronizado). No atual sistema de produção e consumo, o ser humano não está condenado à liberdade, como disse Sartre, mas à falta dela. A liberdade existencial, intrínseca a cada um, é rotineiramente saqueada pelos ditames do deus-dinheiro, com seus jogos de sedução e fetichismo.
Corroboro com o que disse Bakunin, no ensaio O Sistema Capitalista: “a liberdade do trabalhador, tão exaltada pelos economistas, juristas e economistas burgueses, é apenas uma liberdade teórica, sem quaisquer meios de realizar-se, e, consequentemente, é apenas uma liberdade fictícia, uma absoluta mentira. A verdade é que toda a vida do trabalhador é simplesmente uma sucessão contínua e horrível de períodos de servidão – voluntária do ponto de vista jurídico, mas compulsória pela lógica econômica – interrompida por momentâneos e breves intervalos de liberdade acompanhados de fome; em outras palavras, é a verdadeira escravidão”.
Diante desse quadro, de inversão completa dos valores para uma sociedade justa, humana, de homens e mulheres livres, cabe-nos tomar a dianteira, ser vanguarda nesse processo emancipatório de desconstrução do modelo político-econômico que está (im)posto. Esperar que esse movimento surja de quem está com o osso nas mãos é ingenuidade e resignação. À elite econômica, interessa tão-somente aprisionar os trabalhadores nessa jaula invisível, mas muito real, do consumismo de frivolidades, de aparências – acompanhado sempre pela ilusão publicitária, que vende a felicidade em prestações, embrulhada e dissipada ao longo do ano nos dias das mães, dos pais, das crianças, dos namorados, páscoa, natal, etc.
Busquemos a plena liberdade, que verdadeiramente não está na sociedade do consumo!