(Ilustra\u00e7\u00e3o: Levi Noli\/Revista Berro)<\/figcaption><\/figure>\nNota da reda\u00e7\u00e3o: A autora das poesias abaixo tem 15 anos e a publica\u00e7\u00e3o destes textos foi autorizada por sua respons\u00e1vel legal.<\/em><\/p>\n<\/h4>\nCaracol na m\u00e3o<\/b><\/h4>\n
caracol \u00e9 bicho devagar<\/span><\/p>\ne ao colocar os olhos<\/span><\/p>\n\u00e9 preciso saber ter calma<\/span><\/p>\nentender que caracol tem seus processos<\/span><\/p>\ne seu eu n\u00e3o se importa com o ritmo dos outros<\/span><\/p>\ne sim com o seu pr\u00f3prio<\/span><\/p>\nquando machucado ou pensa que pode ser<\/span><\/p>\n\u00e9 r\u00e1pido<\/span><\/p>\nporque ferir \u00e9 mais r\u00e1pido<\/span><\/p>\nmais r\u00e1pido do que seguir andando<\/span><\/p>\nmachucar<\/span><\/p>\narrancar<\/span><\/p>\n\u00e9 mais r\u00e1pido do que<\/span><\/p>\ncurar<\/span><\/p>\n\u00a0<\/span><\/p>\nO tecido fr\u00e1gil e fino que \u00e9 a vida<\/b><\/h4>\n
Rilke me inspirou em v\u00e1rios de seus poemas e cita\u00e7\u00f5es<\/span><\/p>\nquando fala sobre o destino e suas tramas<\/span><\/p>\ns\u00e3o tramas finas e t\u00e3o fr\u00e1geis<\/span><\/p>\nque podem rasgar a qualquer momento<\/span><\/p>\npodem ser rasgadas naturalmente<\/span><\/p>\npela morte<\/span><\/p>\npor t\u00e9rminos e desencontros<\/span><\/p>\ndecep\u00e7\u00f5es<\/span><\/p>\ntudo isso se rasga em um processo lento e entrelinhas<\/span><\/p>\nn\u00e3o \u00e9 expl\u00edcito<\/span><\/p>\nnem vis\u00edvel<\/span><\/p>\nacontece onde s\u00f3 a alma habita<\/span><\/p>\no fio da trama da vida<\/span><\/p>\nfio esse que pode ser remendado<\/span><\/p>\nmas assim como um vaso quebrado<\/span><\/p>\nquando quebrado em peda\u00e7os nunca volta a ser o mesmo<\/span><\/p>\na trama da vida tamb\u00e9m n\u00e3o<\/span><\/p>\numa vez perdida, ou rasgada<\/span><\/p>\nn\u00e3o se h\u00e1 reparo<\/span><\/p>\nque fa\u00e7a voltar a ser o que era antes<\/span><\/p>\na vida \u00e9 assim<\/span><\/p>\nao longo dela vamos sendo remendados<\/span><\/p>\npara poder continuar<\/span><\/p>\nmas nunca como nascemos<\/span><\/p>\n\u00a0<\/span><\/p>\nOlhar para dentro<\/b><\/h4>\n
r<\/span>espiro fundo<\/span><\/p>\nolho para o meu eu<\/span><\/p>\npara minha alma<\/span><\/p>\nalma essa que se separa do corpo quando olho pra mim<\/span><\/p>\nolho com olhos minuciosos<\/span><\/p>\nmuitas vezes, olhos que julgam<\/span><\/p>\nj\u00e1 percebeu que \u00e9 mais dif\u00edcil olhar pra dentro sem apontar defeitos?<\/span><\/p>\nprocurar defeitos em si mesmo \u00e9 o pior erro que se pode cometer na busca<\/span><\/p>\nna busca do eu<\/span><\/p>\nna hora que o eu \u00e9 encontrado<\/span><\/p>\ns\u00f3 nesse momento<\/span><\/p>\nn\u00e3o julgamento e sim acolhimento<\/span><\/p>\nacolher para transbordar<\/span><\/p>\ntransbordar para compartilhar<\/span><\/p>\ncompartilhar em palavras<\/span><\/p>\ncompartilhar em a\u00e7\u00f5es<\/span><\/p>\ncompartilhar de verdade<\/span><\/p>\ns\u00f3 se pode faz\u00ea-lo quando se encontra consigo mesmo<\/span><\/p>\npor isso olhe para si<\/span><\/p>\nn\u00e3o desvie o olhar<\/span><\/p>\nmesmo que cause espanto<\/span><\/p>\nn\u00e3o desista de si<\/span><\/p>\nn\u00e3o olhe em volta<\/span><\/p>\ns\u00f3 a si mesmo<\/span><\/p>\n\u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\nGritar sem vazio<\/b><\/h4>\n
\u00e9 preciso entender que o ato de gritar<\/span><\/p>\no ato de chamar n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil<\/span><\/p>\nassim como aceitar e olhar com mais intimidade a si mesmo<\/span><\/p>\nmas o grito \u00e9 um ato vazio<\/span><\/p>\nse n\u00e3o vem acompanhado da aceita\u00e7\u00e3o<\/span><\/p>\naceitar e falar \u00e9 um grito com significado<\/span><\/p>\naceitar o lado mais escuro do seu eu<\/span><\/p>\naceitar seus erros<\/span><\/p>\naceitar seu passado<\/span><\/p>\naceitar suas emendas<\/span><\/p>\naceitar e olhar de outro \u00e2ngulo<\/span><\/p>\ntudo aquilo que n\u00e3o deveria ser aceito pela sociedade<\/span><\/p>\npois ent\u00e3o fa\u00e7a esse papel por si s\u00f3<\/span><\/p>\naceite-se<\/span><\/p>\ndepois grite<\/span><\/p>\ne quando gritar<\/span><\/p>\noutros v\u00e3o te escutar<\/span><\/p>\n\u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\nMorte<\/b><\/h4>\n
morte \u00e9 o qu\u00ea?<\/span><\/p>\neu t\u00f4 descobrindo essa tal de morte<\/span><\/p>\nela \u00e9 sombria, gera tabu por onde passa<\/span><\/p>\nmas n\u00e3o representa o fim<\/span><\/p>\nrepresenta uma das fases da vida<\/span><\/p>\ne n\u00e3o o fim<\/span><\/p>\nporque enquanto vida<\/span><\/p>\nse plantadas sementes<\/span><\/p>\nelas germinar\u00e3o na morte<\/span><\/p>\nquando menos se espera<\/span><\/p>\nela sai do sono e acorda<\/span><\/p>\nessa semente que germina dentro de mim<\/span><\/p>\nforma ra\u00edzes, se bem cuidada<\/span><\/p>\na semente \u00e9 a mania de procurar m\u00fasicas loucamente como meu pai<\/span><\/p>\na semente \u00e9 cuidar de plantas e usar met\u00e1foras da natureza<\/span><\/p>\na semente \u00e9 ser um pouco do que meu pai foi<\/span><\/p>\na semente germina em mim, e em todos que amam meu pai e minha av\u00f3<\/span><\/p>\na semente germina cresce e vira \u00e1rvore<\/span><\/p>\na morte \u00e9 a quebra dessa raiz, que com tempo<\/span><\/p>\ngermina, com tempo<\/span><\/p>\ne grande fica at\u00e9 que n\u00e3o cabe mais no corpo<\/span><\/p>\npassa pra parede<\/span><\/p>\npassa pro ch\u00e3o<\/span><\/p>\npassa pra tela<\/span><\/p>\npassa pro mundo<\/span><\/p>\npor isso escrevo<\/span><\/p>\npara tirar o peso de dentro<\/span><\/p>\ne jogar pra fora<\/span><\/p>\n\u00e9 por isso que eu escrevo o que sinto<\/span><\/p>\n\u00e9 com sentimento<\/span><\/p>\n\u00e9 como se eu moldasse algo conforme eu escrevo<\/span><\/p>\nalgo tang\u00edvel<\/span><\/p>\nque eu possa pegar de fora e levar comigo se eu quiser<\/span><\/p>\n\u00a0<\/span><\/p>\nCampo Minado<\/b><\/h4>\n
uma bomba caiu<\/span><\/p>\ncaiu, se jogou na minha vida<\/span><\/p>\nou ainda no meu ser<\/span><\/p>\ndepois disso nada ser\u00e1 como antes<\/span><\/p>\nnada ser\u00e1 igual<\/span><\/p>\nnada<\/span><\/p>\na bomba foi a morte<\/span><\/p>\n