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{"id":5780,"date":"2019-11-12T21:04:22","date_gmt":"2019-11-13T00:04:22","guid":{"rendered":"http:\/\/revistaberro.com\/?p=5780"},"modified":"2019-11-12T21:28:32","modified_gmt":"2019-11-13T00:28:32","slug":"os-poroes-de-supermercados-a-violencia-da-seguranca-privada-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaberro.com\/reportagem\/os-poroes-de-supermercados-a-violencia-da-seguranca-privada-no-brasil\/","title":{"rendered":"Os por\u00f5es de supermercados: a viol\u00eancia da seguran\u00e7a privada no Brasil"},"content":{"rendered":"
\"\"
(Ilustra\u00e7\u00e3o: Lara Albuquerque\/Revista Berro)<\/figcaption><\/figure>\n

Um garoto negro, despido, com pernas amarradas e a boca amorda\u00e7ada \u00e9 chicoteado, seu corpo se contrai de dor a cada gesto. Essa cena aconteceu no ano de 2019 e circulou pelas redes sociais, divulgada pelos pr\u00f3prios respons\u00e1veis – dois seguran\u00e7as do supermercado Ricoy, na Zona Sul de S\u00e3o Paulo. A v\u00edtima era um garoto de 17 anos que foi pego furtando quatro barras de chocolate; os seguran\u00e7as perseguiram o jovem e o levaram at\u00e9 o dep\u00f3sito de mercadoria da loja, onde ele foi chicoteado com fios de eletricidade durante 40 minutos.<\/span><\/p>\n

Este epis\u00f3dio foi mais um caso de tortura em supermercados que veio \u00e0 tona neste ano: em fevereiro, um rapaz de 19 anos morreu depois de ser sufocado por mais de sete minutos por um seguran\u00e7a no supermercado Extra, no Rio de Janeiro. Sete meses depois, outro<\/span> v\u00eddeo<\/a><\/strong><\/em> mostra um homem negro amorda\u00e7ado com as cal\u00e7as abaixadas enquanto recebe choques el\u00e9tricos na extremidade do corpo de um seguran\u00e7a do Extra, em uma unidade de S\u00e3o Paulo.<\/span><\/p>\n

O crime de tortura \u00e9 previsto na lei 9.455 de 1997 e \u00e9 entendido como o ato de constranger algu\u00e9m com emprego de viol\u00eancia ou grave amea\u00e7a, causando-lhe sofrimento f\u00edsico ou mental.\u00a0 A pena de reclus\u00e3o \u00e9 de 2 a 8 anos.<\/p><\/blockquote>\n

Dois dias depois do v\u00eddeo do supermercado Ricoy vir \u00e0 tona, um<\/span> outro v\u00eddeo<\/a><\/strong><\/em> mostra um seguran\u00e7a do mesmo estabelecimento torturando psicologicamente uma crian\u00e7a que supostamente tentava furtar a loja: “Voc\u00ea vai ficar l\u00e1 em uma cela cheio de moleques da sua idade, ou mais velho, t\u00eam uns l\u00e1 que gostam de abusar de outro moleque. Olha que legal. T\u00eam uns que v\u00e3o te dar uma surra bem dada. Olha que legal. \u00c9 bom que l\u00e1 voc\u00ea vai aprender a roubar, vai ser ‘daora’. Voc\u00ea n\u00e3o tem uma irm\u00e3zinha? Vai ficar sem ela. Voc\u00ea \u00e9 ladr\u00e3o”.<\/span><\/p>\n

A KRP Zeladoria Valente Patrimonial, empresa respons\u00e1vel pela seguran\u00e7a dos supermercados Ricoy, n\u00e3o possui autoriza\u00e7\u00e3o da Pol\u00edcia Federal, \u00f3rg\u00e3o que regulamenta e fiscaliza o setor. Seu s\u00f3cio \u00e9 um tenente-coronel aposentado, Cl\u00e1udio Geromim Valente.<\/span><\/p>\n

Em todos os casos, os seguran\u00e7as s\u00e3o contratados por uma empresa de seguran\u00e7a privada terceirizada – o que levanta quest\u00f5es sobre a responsabilidade das redes de supermercado e do treinamento desses funcion\u00e1rios.<\/span><\/p>\n

Para o soci\u00f3logo Andr\u00e9 Zanetic, do N\u00facleo de Estudos da Viol\u00eancia da USP, o maior problema do setor est\u00e1 nas m\u00e3os de empresas clandestinas, que n\u00e3o contemplam nem o m\u00ednimo previsto em lei quanto ao treinamento de seus vigilantes.\u00a0<\/span><\/p>\n

A Pol\u00edcia Federal estima que\u00a0 essas empresas somam um n\u00famero maior do que as regularizadas – para cada profissional autorizado, existem tr\u00eas que trabalham no setor clandestino da seguran\u00e7a privada.<\/span><\/p>\n

Para obter a Carteira Nacional de Vigilante (CNV), emitida pela Pol\u00edcia Federal, \u00e9 preciso passar por um treinamento obrigat\u00f3rio em um curso de forma\u00e7\u00e3o para vigilantes e seguran\u00e7as patrimoniais, que incluem aulas sobre direitos humanos e uma grade de mais de 200 horas. Al\u00e9m disso, os requisitos para atuar no setor incluem ser brasileiro, maior de 21 anos e n\u00e3o possuir antecedentes criminais.<\/span><\/p>\n

\u201cO curso, apesar de ainda insuficiente para garantir uma boa forma\u00e7\u00e3o para esses agentes, ao menos permite a exist\u00eancia de um m\u00ednimo de aprendizado que objetiva proteger o cidad\u00e3o. O maior problema do setor est\u00e1 na exist\u00eancia do setor clandestino, que n\u00e3o contempla nem este m\u00ednimo que \u00e9 previsto em lei. H\u00e1 menor ou nenhum controle em outros pontos, como nas contrata\u00e7\u00f5es, o que inclui a inexist\u00eancia de testes cruciais como a aptid\u00e3o psicol\u00f3gica\u201d, comenta Zanetic.<\/span><\/p>\n

Panorama da seguran\u00e7a privada no Brasil<\/b><\/h3>\n

Segundo dados do<\/span> Estudo do Setor da Seguran\u00e7a Privada<\/a><\/em><\/strong> elaborado pela Federa\u00e7\u00e3o Nacional das Empresas de Seguran\u00e7a e Transporte de Valores (Fenavist), o n\u00famero de empresas de seguran\u00e7a privada no Brasil saltou de 1.491 em 2010 para 2.694 em 2018 – um aumento de 80,6%. O faturamento do setor no ano passado foi de R$ 33,7 bilh\u00f5es. <\/span><\/p>\n

Atualmente, o Brasil tem mais seguran\u00e7as privados – 553 mil trabalhadores – do que policiais militares – 480 mil. 90,3% dos trabalhadores do setor s\u00e3o homens, 69,9% com ensino m\u00e9dio completo e com a faixa salarial m\u00e9dia de R$ 2.139. Muitos s\u00e3o policiais exonerados ou policiais que atuam no setor privado para complementar a renda.<\/span><\/p><\/blockquote>\n

Por lei, seguran\u00e7as privados t\u00eam tanta prerrogativa para coibir um delito quanto outros cidad\u00e3os – portanto, se houver algum flagrante, a pol\u00edcia deve ser acionada.\u00a0<\/span>Estes casos n\u00e3o s\u00e3o isolados e nos revelam a perpetua\u00e7\u00e3o da viol\u00eancia na seguran\u00e7a privada no Brasil, permeada por um senso de punitivismo arraigado no hist\u00f3rico brasileiro.<\/span><\/p>\n

\u201cTem uma permissibilidade cultural, desde sempre, voltada para corpos negros. Toler\u00e2ncia zero, maltrata mesmo \u2018para dar exemplo\u2019, para que no bairro todo mundo saiba que naquele supermercado n\u00e3o se rouba. S\u00e3o policiais ou ex-policiais, \u00e0s vezes expulsos da For\u00e7a\u201d, comenta Henrique Apolin\u00e1rio, da ONG Conectas Direitos Humanos.<\/span><\/p>\n

\/\/\/<\/p>\n

Larah Camargo\u00a0 \u00e9 graduanda em Comunica\u00e7\u00e3o Social – Midialogia na UNICAMP e bolsista PIBIC – CNPq<\/em>.\u00a0<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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