Espa\u00e7o “Galp\u00e3o dos Sonhos”, em Olinda-PE<\/em>\u00a0(Foto: NEXTO<\/em>)<\/p>\n

“Se a arte salva, eu n\u00e3o sei. Mas tenho certeza que ela liberta<\/em>.” A Est\u00e9tica do Oprimido permite que “oprimidos e oprimidas tenham acesso \u00e0 descoberta da sua pr\u00f3pria arte. E a partir dessa experi\u00eancia, possam conhecer a si mesmos<\/em>.” As falas do ator Wagner Montenegro e da atriz Andr\u00e9a Veruska refletem um pouco da responsabilidade que a arte carrega consigo: a de possibilitar autoconhecimento e transforma\u00e7\u00e3o de pessoas. Trabalhando com esse desafio, eles experimentaram de 29 de julho e 29 de agosto o desafio de fazer um curso de forma\u00e7\u00e3o nos Estados Unidos, em interc\u00e2mbio com o\u00a0Phoenix Players Theatre Group<\/em><\/a>, grupo de teatro formado por detentos da Pris\u00e3o de Seguran\u00e7a M\u00e1xima de Auburn, Nova Iorque.<\/p>\n

A pesquisa, o estudo e o comprometimento de Wagner e Veruska no N\u00facleo de Experimenta\u00e7\u00f5es em Teatro do Oprimido – NEXTO levaram ao contato com Bruce Levitt (Mestre em Ci\u00eancias Humanas e Diretor de teatro, Professor de interpreta\u00e7\u00e3o, performance, an\u00e1lise de texto, dire\u00e7\u00e3o), do Departamento\u00a0de Artes Perform\u00e1ticas e M\u00eddia, da Universidade de Cornell, Ithaca, Nova Iorque.\u00a0O professor Bruce Levitt \u00e9 o principal facilitador do grupo\u00a0Phoenix Players Theatre Group<\/em>\u00a0(PPTG), fundado em 2009 pelos detentos Michael Rhynes e Clifton Williamson. O grupo come\u00e7ou como um mecanismo alternativo para os presos passarem por uma transforma\u00e7\u00e3o e se reconectarem com a sociedade, suas comunidades e fam\u00edlias por meio das pr\u00e1ticas teatrais.<\/p>\n

Considerando a similaridade de m\u00e9todos, pesquisas e objetivos dos dois grupos, Levitt prop\u00f4s, ent\u00e3o, um interc\u00e2mbio de experi\u00eancias entre o NEXTO e o PPTG convidando os arte-educadores brasileiros para participar de oficina intitulada\u00a0Teatro na Pris\u00e3o<\/em>, que\u00a0abordou um conte\u00fado te\u00f3rico-pr\u00e1tico para que os integrantes do NEXTO vivenciassem o projeto de teatro no\u00a0PPTG\u00a0com os detentos e aprendessem sobre esse trabalho. Eles veem essa experi\u00eancia como a primeira de outros interc\u00e2mbios, como pontua Veruska:\u00a0<\/em>“j\u00e1 fizemos contatos com outros grupos para os pr\u00f3ximos anos, pois essas trocas nos permitem estimular a continuidade dos estudos e pesquisas do NEXTO e promover uma visibilidade internacional ao nosso trabalho”.\u00a0<\/em><\/p>\n

O trabalho no\u00a0Phoenix Players Theatre Group<\/em>\u00a0(PPTG)<\/strong><\/p>\n

Atualmente,\u00a0professores de teatro\u00a0do programa Cornell Prison Education Program <\/em>(CPEP), da Univesidade de Cornell,\u00a0realizam um trabalho\u00a0de teatro\u00a0com os detentos\u00a0uma vez por semana. Levitt descreve o programa como uma oportunidade para os presos “desenvolverem um processo de autoconhecimento e criarem oportunidades de se conhecer e crescer” \u2014 sobretudo, ajud\u00e1-los a lidar com os conflitos dentro e fora da pris\u00e3o.<\/p>\n

A Pris\u00e3o de Seguran\u00e7a M\u00e1xima de Auburn passou, ao longo dos anos, por diversas reformula\u00e7\u00f5es na forma de tratamento dos confinados. O mais cruel deles sem d\u00favida foi o que ficou conhecido como sistema auburiano<\/em>, ou\u00a0sistema silencioso<\/em>, em que uma r\u00edgida disciplina impedia que os prisioneiros se comunicassem entre si at\u00e9 mesmo quando estavam em grupos. Esse tipo de confinamento levou diversos presos \u00e0 morte e \u00e0 loucura. Ap\u00f3s muitas cr\u00edticas e o reconhecimento de que isso trazia mais malef\u00edcios do que benef\u00edcios, a Pris\u00e3o de Auburn abandonou o sistema e passou a investir em novas formas de ressocializa\u00e7\u00e3o do indiv\u00edduo. Uma das estrat\u00e9gias adotadas e que vem provando sua efici\u00eancia s\u00e3o justamente as aulas de teatro ministradas pelo grupo PPTG, que leva aos presos a oportunidade de vivenciarem os processos de cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica e de express\u00e3o est\u00e9tica.<\/p>\n

Para Levitt, o programa \u00e9 a oportunidade para romper os estere\u00f3tipos e demonstrar que os prisioneiros podem e s\u00e3o capazes de se transformar e transformar aqueles que est\u00e3o \u00e0 sua volta.<\/p>\n

Teatro do Oprimido nas Pris\u00f5es<\/strong><\/p>\n

Enxergando a problem\u00e1tica da exclus\u00e3o dos sujeitos apenados, o dramaturgo, encenador e teatr\u00f3logo brasileiro Augusto Boal (1931-2009) desenvolveu o projeto\u00a0Teatro do Oprimido nas Pris\u00f5es<\/em>\u00a0(1998-2006), que capacitava os servidores do sistema prisional como Multiplicadores do Teatro do Oprimido para promover discuss\u00f5es dos problemas enfrentados no ambiente das pris\u00f5es atrav\u00e9s da linguagem teatral. Essa experi\u00eancia brasileira foi bastante positiva e serve de incentivo para suscitar discuss\u00f5es sobre a incorpora\u00e7\u00e3o da arte no Sistema Penitenci\u00e1rio Brasileiro, buscando torn\u00e1-lo mais humano e menos destrutivo.<\/p>\n

Adotada em mais de 70 pa\u00edses, mas ainda pouco explorada no Brasil, o Teatro do Oprimido tal como concebido por Boal \u00e9 uma metodologia que busca aliar teatro e a\u00e7\u00e3o social e, assim, tornar a linguagem teatral acess\u00edvel a todas as pessoas, com o est\u00edmulo ao di\u00e1logo e \u00e0 transforma\u00e7\u00e3o da realidade social. Esse m\u00e9todo re\u00fane jogos, exerc\u00edcios e t\u00e9cnicas teatrais que objetivam a desmecaniza\u00e7\u00e3o f\u00edsica e intelectual de seus praticantes e a democratiza\u00e7\u00e3o do teatro, oportunizando a todas as pessoas a possibilidade da livre express\u00e3o est\u00e9tica.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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