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{"id":308,"date":"2014-03-08T16:43:42","date_gmt":"2014-03-08T19:43:42","guid":{"rendered":"http:\/\/revistaberro.com\/?p=308"},"modified":"2016-03-07T16:22:25","modified_gmt":"2016-03-07T19:22:25","slug":"as-donas-marias-anas-rosas-dandaras-olgas-e-pagus-que-vivem-em-cada-um-de-nos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaberro.com\/colunas\/impressoesmundanas\/as-donas-marias-anas-rosas-dandaras-olgas-e-pagus-que-vivem-em-cada-um-de-nos\/","title":{"rendered":"\u00c0s donas Marias, Anas, Rosas, Dandaras, Olgas e Pagus que vivem em cada um de n\u00f3s!"},"content":{"rendered":"

(Arte: Kl\u00e9visson Viana<\/em>)<\/p>\n

Hoje, 8 de mar\u00e7o, comemora-se o Dia da Mulher. Em 1917, no dia 8 de mar\u00e7o, milhares de mulheres russas sa\u00edram \u00e0s ruas para protestar contra a escassez e o alto pre\u00e7o dos alimentos. Os protestos foram se avolumando nos dias seguintes e hoje s\u00e3o considerados o estopim para o in\u00edcio da Revolu\u00e7\u00e3o Russa naquele mesmo ano. Quatro anos mais tarde, em 1921, o 8 de mar\u00e7o foi oficializado como o Dia da Mulher. Apenas em 1975, a Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) reconheceu a data oficialmente. \u00c0 parte este contexto hist\u00f3rico, o dia nos incita a refletir sobre as causas e os porqu\u00eas das muitas barreiras que ainda impedem a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens nas diversas esferas da sociedade.<\/p>\n

No caso brasileiro, a cultura machista, que impera desde a forma\u00e7\u00e3o do pa\u00eds enquanto na\u00e7\u00e3o\/povo, foi a grande respons\u00e1vel pela manuten\u00e7\u00e3o da ordem social sexista e mis\u00f3gina por todos esses s\u00e9culos. Infelizmente, o machismo ainda hoje continua no imagin\u00e1rio e na psique coletiva do nosso tecido social.<\/p>\n

Devido a essa contamina\u00e7\u00e3o at\u00e1vica na \u201calma\u201d do povo brasileiro, homens e tamb\u00e9m mulheres reproduzem (pr\u00e9)-conceitos e comportamentos sexistas, discriminat\u00f3rios. A cultura machista\u00a0no Brasil, amparada por uma sociedade historicamente patriarcal, legitimou ao longo dos s\u00e9culos – e legitima ainda hoje – a opress\u00e3o contra as mulheres em nome da imposi\u00e7\u00e3o de uma cultura sexista danosa e\u00a0tacanha, que resulta em\u00a0\u00faltima inst\u00e2ncia\u00a0no alt\u00edssimo n\u00famero de feminic\u00eddios no pa\u00eds. \u00c9 comum lermos nos notici\u00e1rios casos de homic\u00eddios “passionais” (jornalistas, “passionais”\u00e9 um adjetivo que n\u00e3o cabe para caracterizar esse tipo de crime!). Infelizmente, a abordagem desses casos na m\u00eddia empresarial \u00e9 fortemente dotada de sensacionalismo, n\u00e3o se propondo minimamente a discutir o machismo hist\u00f3rico que impera na estrutura psicossocial e institucional do povo brasileiro, o que explicaria o comportamento violento dos agressores.<\/p>\n

De acordo com a Secretaria de Pol\u00edticas para as Mulheres (SPM), \u00f3rg\u00e3o do Governo Federal, uma em cada cinco brasileiras j\u00e1 sofreu algum tipo de viol\u00eancia por parte de um homem. Ademais, estat\u00edsticas da mesma Secretaria mostram que, a cada 15 segundos, uma mulher \u00e9 espancada no Brasil, o que representa cerca de 2 milh\u00f5es de casos por ano. N\u00fameros absurdos e revoltantes!<\/p>\n

Em meio a essa realidade alarmante, percebe-se que o estado brasileiro vem a passos de tartaruga tentando enfrentar essa situa\u00e7\u00e3o, com servi\u00e7os e atendimentos ainda muito aqu\u00e9ns do necess\u00e1rio. Atualmente, segundo a SPM, existem 889 servi\u00e7os especializados para atender mulheres v\u00edtima de viol\u00eancia, sendo 464 delegacias, 165 Centros de Refer\u00eancia, 89 juizados especializados em viol\u00eancia dom\u00e9stica e familiar, 72 Casas-Abrigo, 58 defensorias e 21 promotorias especializadas, al\u00e9m de 12 servi\u00e7os de responsabiliza\u00e7\u00e3o e educa\u00e7\u00e3o do agressor. Se voc\u00ea pensar que o Brasil tem 200 milh\u00f5es de habitantes, dos quais mais de 100 milh\u00f5es s\u00e3o mulheres, percebe-se que a quantidade de servi\u00e7os especializados oferecida pelo estado brasileiro \u00e9 ainda irris\u00f3ria \u2013 n\u00e3o faz nem cosquinha na estrutura machista que legitima toda essa viol\u00eancia! A Lei Maria da Penha, que se aproxima de uma d\u00e9cada de vida, capenga na falta de uma converg\u00eancia de decis\u00f5es judiciais favor\u00e1veis. H\u00e1 magistrados machistas relativizando demais os termos da lei\u2026<\/p>\n

Al\u00e9m desse \u00edndice alarmante de viol\u00eancia a que s\u00e3o submetidas, as mulheres ainda possuem uma representa\u00e7\u00e3o bem abaixo dos homens nas inst\u00e2ncias pol\u00edticas de poder e decis\u00e3o, seja no Legislativo, no Judici\u00e1rio ou no Executivo.<\/p>\n

\"marcha-das-vadias-cabo-frio-2013\"<\/a>
(Charge: Latuff)<\/figcaption><\/figure>\n

Em 2016, completaram-se 84 anos que as mulheres tiveram direito a voto no Brasil. Sim, porque \u2013 pasmem! – a tarefa de eleger os nossos representantes nas inst\u00e2ncias pol\u00edticas j\u00e1 foi exclusividade masculina. No entanto, a comemora\u00e7\u00e3o precisa ser feita com ressalvas. Porque 8 d\u00e9cadas ap\u00f3s conquistarem o direito ao voto, apesar de representarem 52% do eleitorado brasileiro (mais da metade, portanto), apenas 46 dos 513 deputados da C\u00e2mara s\u00e3o mulheres, algo em torno de 9%; somente 12 dos 81 senadores s\u00e3o do g\u00eanero feminino, o que representa cerca de 15%. Na Assembleia Legislativa do Cear\u00e1, dos 46 parlamentares, apenas 9 s\u00e3o mulheres, 19% do total; e na C\u00e2mara Municipal de Fortaleza, dos 41 vereadores, somente 4 s\u00e3o mulheres, nem 10% da Casa (obs: dados de mar\u00e7o de 2013).<\/p>\n

A desigualdade e a discrimina\u00e7\u00e3o n\u00e3o param por a\u00ed. No mercado de trabalho, salta \u00e0 vista a diferen\u00e7a de sal\u00e1rio entre os g\u00eaneros, mesmo quando exercem a mesma fun\u00e7\u00e3o. Para citar um exemplo, na Regi\u00e3o Metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo levantamento da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em 2011, as mulheres ganhavam em m\u00e9dia 72% da remunera\u00e7\u00e3o mensal masculina. O rendimento m\u00e9dio dos homens da RMF era de R$ 1.056 ao passo que o das mulheres era de R$ 761. Ainda na RMF, o desemprego feminino alcan\u00e7a \u00edndices maiores que o dos homens. Ademais, para cada mulher com carteira assinada, h\u00e1 tr\u00eas sem qualquer v\u00ednculo contratual. Essa situa\u00e7\u00e3o se repete em todo o Brasil, em maior ou menor escala.<\/p>\n

Em resumo, a realidade para as mulheres, no Brasil – e, por extens\u00e3o, em todo o mundo -, n\u00e3o obstante o avan\u00e7o vis\u00edvel das conquistas do movimento feminista nas \u00faltimas d\u00e9cadas, ainda \u00e9 eivada de muito preconceito e opress\u00e3o. Ser\u00e1 preciso, portanto, que gera\u00e7\u00f5es e mais gera\u00e7\u00f5es doravante combatam a raiz podre dessa sociedade machista, mis\u00f3gina e patriarcal que impera na estrutura psicossocial do povo brasileiro e historicamente nas institui\u00e7\u00f5es, e que foi atavicamente determinante para excluir as mulheres dos processos pol\u00edticos e s\u00f3cio-econ\u00f4micos. Pensemos nisso!<\/p>\n

PS: Ah, vai aqui uma diquinha do dia: hoje (e em qualquer momento) n\u00e3o caiamos nos clich\u00eas e nas frases f\u00e1ceis como \u201csexo fr\u00e1gil\u201d, \u201cdelicadas\u201d, \u201cmeigas\u201d\u2026 N\u00e3o! Esses lugares-comuns que colocam mulheres como fragilizadas e impass\u00edveis de subvers\u00e3o foram criados e repetidos como mantras historicamente para legitimar a explora\u00e7\u00e3o e a opress\u00e3o machista!<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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