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{"id":2574,"date":"2015-08-04T10:45:49","date_gmt":"2015-08-04T13:45:49","guid":{"rendered":"http:\/\/revistaberro.com\/?p=2574"},"modified":"2015-07-14T19:25:44","modified_gmt":"2015-07-14T22:25:44","slug":"para-alem-da-matrix-ou-ensaio-sobre-a-liberdade","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistaberro.com\/colunas\/impressoesmundanas\/para-alem-da-matrix-ou-ensaio-sobre-a-liberdade\/","title":{"rendered":"Para al\u00e9m da Matrix (ou Ensaio sobre a Liberdade)"},"content":{"rendered":"
\"berro_matrix\"<\/a>
(Ilustra\u00e7\u00e3o: Rafael Salvador<\/em>)<\/figcaption><\/figure>\n

Por Artur Pires<\/em><\/strong><\/p>\n

Infla\u00e7\u00e3o galopante (leia-se arroz e feij\u00e3o mais caro), ajuste fiscal (leia-se arrocho salarial, desemprego em massa e ataques aos direitos trabalhistas), energia el\u00e9trica em n\u00edveis estratosf\u00e9ricos, super\u00e1vit <\/em>prim\u00e1rio e altas taxas de juros (entenda-se aperfei\u00e7oar os lucros \u00e0s grandes corpora\u00e7\u00f5es, principalmente bancos e demais organiza\u00e7\u00f5es financeiras), pagamento da d\u00edvida p\u00fablica (leia-se \u201cum mega esquema de corrup\u00e7\u00e3o institucionalizado\u201d, de acordo com Maria L\u00facia Fatorelli, fundadora do movimento Auditoria Cidad\u00e3 da D\u00edvida), \u201cMinha Casa Minha Vida\u201d (entenda-se otimizar as benesses financeiras ao capital imobili\u00e1rio, remover comunidades pobres de \u00e1reas nobres e atir\u00e1-las em regi\u00f5es distantes das cidades, sem infraestrutura sequer razo\u00e1vel de sa\u00fade, educa\u00e7\u00e3o, mobilidade, lazer etc.), reforma pol\u00edtica (leia-se \u201cpalha\u00e7ada!\u201d), entre outras, s\u00e3o apenas uma ilus\u00f3ria apar\u00eancia, a pontinha do iceberg<\/em> que salta para fora d\u2019\u00e1gua. O sistema pol\u00edtico usa nomes pomposos \u2013 outros marqueteiros – para cortinar o seu totalitarismo. E consegue seu objetivo. As pessoas em geral esquecem-no, apegando-se \u00e0s apar\u00eancias, discutindo-as nas redes sociais, nos sindicatos, nos partidos, nos debates acad\u00eamicos, nas mesas de bar, dando de ombros \u00e0 parte submersa (o maior peda\u00e7o, aquilo que o sustenta cada vez mais forte para manter sua domina\u00e7\u00e3o).<\/p>\n

A presidenta Dilma \u00e9 mais um fantoche, assim como Eduardo Cunha, A\u00e9cio Neves, Renan Calheiros, Cid Gomes, Camilo Santana, Roberto Cl\u00e1udio; tamb\u00e9m Obama, Angela Merkel, Sarkozy, Xi Jinping, Cameron e quase todos que t\u00eam mandato, seja este legislativo ou executivo, bem como aqueles dos altos escal\u00f5es do judici\u00e1rio. Todos c\u00famplices e pe\u00e7as da engrenagem de um modelo pol\u00edtico totalit\u00e1rio, de in\u00fameros tent\u00e1culos, que consegue viajar fronteiras e penetrar gabinetes como nenhum outro jamais conseguiu. Obedecem ao sistema sem question\u00e1-lo, cumprindo com todas as suas obriga\u00e7\u00f5es. Trabalhadores fieis. Mudam de cor nas elei\u00e7\u00f5es, dizem ser diferentes. Balela! Antes de chegarem ao poder, j\u00e1 coadunaram com as estruturas hegem\u00f4nicas, est\u00e3o comprometidos at\u00e9 o pesco\u00e7o, por vontade e escolha, \u00e0s articula\u00e7\u00f5es da m\u00e1quina totalit\u00e1ria. Se locupletam com as m\u00e1fias imobili\u00e1ria, de armas, de drogas, dos transportes, dos alimentos, farmac\u00eautica, banc\u00e1ria, financeira e fiscal, entre outras. Na Sociedade do Espet\u00e1culo<\/em>, Estado e m\u00e1fia s\u00e3o uma coisa s\u00f3, um emaranhado de interesses sedento por poder autorit\u00e1rio, uma rede complexa e altamente estruturada de controle social. Para a hipnose sobre o oprimido funcionar a contento \u2013 e este n\u00e3o perceber a gaiola onde est\u00e1 preso -, contam decisivamente com a ind\u00fastria do entretenimento (cinema e m\u00fasica) e da comunica\u00e7\u00e3o em massa (principalmente televisiva) com suas doses cavalares de programa\u00e7\u00e3o majoritariamente bestializante, al\u00e9m da ilus\u00e3o publicit\u00e1ria e seu consequente est\u00edmulo ao consumo.<\/p>\n

Vivemos a Oce\u00e2nia, de Orwell, retratada no cl\u00e1ssico 1984<\/em>, vigiados pelo \u201cGrande Irm\u00e3o\u201d; ou o Admir\u00e1vel Mundo Novo<\/em>, de Huxley. Estamos t\u00e3o enredados nessa teia que muitas vezes turvamos o olhar, n\u00e3o conseguimos enxergar alternativas de autorregula\u00e7\u00e3o e autodetermina\u00e7\u00e3o fora da Matrix<\/em>; \u00e9 justamente nesse ponto que discutir quem \u00e9 menos ruim (se Dilma ou A\u00e9cio, PT ou PSDB, para ficar no exemplo-mor brasileiro) s\u00f3 interessa \u00e0s estruturas poderosas \u00e0 qual todos estes baixam a cabe\u00e7a em subservi\u00eancia. Debater essas quest\u00f5es falseadamente dicot\u00f4micas \u00e9 cada vez mais in\u00f3cuo, porque n\u00e3o muda nada. Esse pluralismo de escolha entre partidos (esquerda x direita) \u00e9 ilus\u00f3rio e amplia as condi\u00e7\u00f5es objetivas para o controle total dos corpos e dos povos. O saudoso Eduardo Galeano estava certo: \u201cA liberdade de elei\u00e7\u00f5es permite que voc\u00ea escolha o molho com o qual ser\u00e1 devorado\u201d.<\/p>\n

Uma coisa precisa estar clara (tiremos a venda que nos cobre a vista!): n\u00e3o h\u00e1 sa\u00edda para a liberdade, para a justi\u00e7a, para o amor, para a vida dentro dos marcos do sistema pol\u00edtico, esse circo que a cada dois anos transforma dezenas de milh\u00f5es de pessoas no Brasil em torcedores apaixonados e com viseiras laterais que lhe tapam parte da vista (iguais \u00e0quelas utilizadas pelos jumentos no sert\u00e3o), esquecendo-se que para isso – torcer fan\u00e1tica e\/ou sectariamente – j\u00e1 h\u00e1 o futebol, ou qualquer outra atividade de competi\u00e7\u00e3o l\u00fadico-desportiva.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 solu\u00e7\u00e3o dentro da urna eleitoral. \u00c9 s\u00f3 mais uma engrenagem de controle e um desnecess\u00e1rio apego \u00e0s velhas t\u00e9cnicas de representa\u00e7\u00e3o pol\u00edtico-social. \u00c9 preciso lembrar que as formas de pr\u00e1xis e a\u00e7\u00e3o hist\u00f3ricas n\u00e3o s\u00e3o imut\u00e1veis; pelo contr\u00e1rio, s\u00e3o din\u00e2micas e impermanentes. A ilus\u00e3o de que o voto e o atual sistema pol\u00edtico mundial mudam alguma coisa \u00e9 a mais bem engendrada mitifica\u00e7\u00e3o da mentira em toda a Hist\u00f3ria. Em verdade, n\u00e3o transformam a realidade social, mas t\u00e3o-somente encobrem sua domina\u00e7\u00e3o, travestindo-se de democr\u00e1ticos: \u201cprecisamos aperfei\u00e7oar nossa democracia, fazer leis que aprimorem a participa\u00e7\u00e3o popular\u201d; \u201cna pr\u00f3xima elei\u00e7\u00e3o, a gente muda esse Congresso\u201d; \u201cvamos conseguir eleger algu\u00e9m que nos represente l\u00e1 dentro\u201d; \u201ceba! Conseguimos eleger um deputado (entre dezenas)\u201d. Muitos movimentos sociais, partidos e militantes de esquerda caem nesse discurso que, trocando em mi\u00fados, n\u00e3o muda na-di-ca de nada! Quem faz as leis? Quem executa as leis? A quem serve o judici\u00e1rio? \u201cA ditadura perfeita ter\u00e1 apar\u00eancia de democracia: uma pris\u00e3o sem muros na qual os prisioneiros n\u00e3o sonhar\u00e3o sequer com a fuga. Um sistema de escravid\u00e3o onde, gra\u00e7as ao consumo e ao divertimento, os escravos ter\u00e3o amor \u00e0 escravid\u00e3o do trabalho\u201d (Aldous Huxley, Admir\u00e1vel Mundo Novo<\/em>).<\/p>\n

N\u00e3o! N\u00e3o e n\u00e3o! Estamos abrindo m\u00e3o de nossa liberdade, de nosso pr\u00f3prio agir. Ao delegarmos poder a algu\u00e9m por procura\u00e7\u00e3o eleitoral, acontece que, ao inv\u00e9s de exercer o poder por<\/em> n\u00f3s, esse representante exercer\u00e1 o poder sobre<\/em> n\u00f3s. Ousemos. A vida acontece hoje, na nossa cara. Todo dia. As algemas do sistema pol\u00edtico s\u00e3o grossas, mas podem ser rompidas. Galguemos nossa liberdade. A alforria arrancada \u00e0 for\u00e7a est\u00e1 ao alcance: na gente, na rua e nos sonhos mais elevados. Pensemos em fazer a revolu\u00e7\u00e3o primeiramente dentro de n\u00f3s, nos libertando das amarras invis\u00edveis que nos aprisionam, que nos mant\u00eam encarcerados ao modo de vida do n\u00e3o-vivo, do superficial, do aparente; que nos engaiola no ego\u00edsmo mais mesquinho. Depois, que a fa\u00e7amos em casa, nas nossas rela\u00e7\u00f5es cotidianas, fraternas e amistosas, sem impor nada ao outro, sem autoritarismo ou chantagem emocional. \u00c9 hipocrisia das grandes dizer-se revolucion\u00e1rio e manter alguma rela\u00e7\u00e3o de poder autorit\u00e1rio (seja com esposa(o), pai, m\u00e3e, filha(o), amiga(o), aluna(o), animal de estima\u00e7\u00e3o, etc.). Por fim, que a fa\u00e7amos nas ruas (ahh, a rua!), esse lugar t\u00e3o vibrante, que \u00e9 nosso, muito nosso.<\/p>\n

Fa\u00e7amos por n\u00f3s mesmos. Com nossas almas e esfor\u00e7os. A\u00e7\u00f5es diretas, coletivas. Sem recorrer a presidente, governador, prefeito, deputado, senador, vereador. Fa\u00e7amos por n\u00f3s mesmos! Eu, voc\u00ea. N\u00f3s. Eles. A humanidade \u00e9, sim!, capaz de criar novas maneiras de sociabilidade, de participa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica, de conv\u00edvio, intera\u00e7\u00e3o e mobiliza\u00e7\u00e3o sociais. A revolu\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 um evento est\u00e1tico, \u00e9 um processo cheio de dinamismo, certas vezes permeado pelas pequenas contradi\u00e7\u00f5es da pr\u00e1tica, \u00e9 verdade, mas \u00e9 tamb\u00e9m grandiosa porque coletiva, soma an\u00e1rquica das revolu\u00e7\u00f5es internas e externas de cada um. Revolucionar-se de maneira plena, end\u00f3gena e exogenamente. Porque ela, essa energia vivente chamada revolu\u00e7\u00e3o, n\u00e3o est\u00e1 s\u00f3 fora de n\u00f3s, mas dentro tamb\u00e9m. Nem somente dentro de n\u00f3s, mas \u00e0 parte, no outro, naquilo que pulsa, que tem vida.<\/p>\n

Se par\u00e1ssemos hoje mesmo de delegar nossa representatividade a outros, e viv\u00eassemos dia a dia para legitimarmos a nossa exist\u00eancia, que \u00e9, em resumo, sonhar, aprender, fazer\/agir e se doar \u00e0 coletividade, estar\u00edamos noutro patamar de humaniza\u00e7\u00e3o, libertar\u00edamo-nos desse modelo inanimado do capital, que nos priva, em ess\u00eancia, da grandeza existencial da vida. A liberdade \u00e9 um processo, n\u00e3o uma circunst\u00e2ncia que lhe apresentam, n\u00e3o um direito que lhe d\u00e3o. Ela n\u00e3o \u00e9 dada por ningu\u00e9m, \u00e9 arrancada \u00e0 for\u00e7a! A liberdade j\u00e1 come\u00e7a quando sonhamos em ser livres.<\/p>\n

*Artigo publicado <\/em>na<\/em><\/strong>\u00a0Revista Berro \u2013 Ano 02 \u2013 Edi\u00e7\u00e3o 04 \u2013 Julho\/Agosto 2015<\/strong><\/em><\/a>\u00a0(a seguir<\/em>,<\/strong>\u00a0vers\u00e3o PDF<\/strong><\/em><\/a>).<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Por Artur Pires Infla\u00e7\u00e3o galopante (leia-se arroz e feij\u00e3o mais caro), ajuste fiscal (leia-se arrocho salarial, desemprego em massa e ataques aos direitos trabalhistas), energia el\u00e9trica em n\u00edveis estratosf\u00e9ricos, super\u00e1vit prim\u00e1rio e altas taxas de juros (entenda-se aperfei\u00e7oar os lucros \u00e0s grandes corpora\u00e7\u00f5es, principalmente bancos e demais organiza\u00e7\u00f5es financeiras), pagamento da d\u00edvida p\u00fablica (leia-se \u201cum […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_mi_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[5],"tags":[],"yoast_head":"\nPara al\u00e9m da Matrix (ou Ensaio sobre a Liberdade) | Revista Berro<\/title>\n<meta name=\"robots\" content=\"index, follow, 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