Talita Nogueira<\/strong><\/em><\/p>\n

Depois de um sufoco trancada num quarto, estudando para uma prova e, por achar que sufoco \u00e9 sempre pouco (mentira!), lancei-me no sufoco de A menina que n\u00e3o sabia ler<\/em>\u00a0(no original em ingl\u00eas, Florence and Giles<\/em>), de John Harding. Numa leitura desesperada, trancada entre 282 p\u00e1ginas aceleradas, cinematogr\u00e1ficas, asfixiantes… A menina n\u00e3o sabia ler, eu sabia ( o que dessa vez n\u00e3o me pareceu vantagem, juro) e me pareceu, nestes 4 dias desesperados, que o pre\u00e7o da leitura era a asma. Conclu\u00ed a leitura ofegante e tr\u00eamula. O enredo puro do livro n\u00e3o \u00e9 l\u00e1 grande coisa, nada in\u00e9dito e improv\u00e1vel, mas o desenrolar das p\u00e1ginas \u00e9 fascinante.<\/p>\n

N\u00e3o tomarei meu tempo contando a hist\u00f3ria em tr\u00eas linhas, mas assegurando que A menina que n\u00e3o sabia ler<\/em>\u00a0\u00e9 quase um lutador de esgrima te empurrando com a ponta da espada \u00e0 beira de um lago gelado. O livro me deu alguns belisc\u00f5es… \u00e9 disso que eu t\u00f4 falando, de provoca\u00e7\u00f5es, de hematomas p\u00f3s-livro, de inc\u00f4modos, de prender o dedo na \u00faltima p\u00e1gina pra n\u00e3o deixar a hist\u00f3ria acabar. Meio febril, meio tr\u00eamula, com medo de observar longamente o espelho, tive vontade de coisas nunca pensadas antes como: devorar Shakespeare, ter um cavalo, ler Macbeth, passar uma semana sem eletricidade, conviver com as velas, contar a passagem do tempo pelos pios da coruja, fugir dos espelhos.<\/p>\n

Eu nem sei ao certo quais as impress\u00f5es finais sobre este livro, e, diga-se de passagem, isto n\u00e3o \u00e9 uma resenha. \u00c9 apenas o primeiro suspiro de quem acabou de emergir de um longo mergulho a prender o ar. Eu nem devia estar tra\u00e7ando estas linhas, porque, afinal, ningu\u00e9m imagina que eu saiba ler ou escrever. As ordens de meu tio foram claras sobre eu n\u00e3o ser alfabetizada. N\u00e3o contem nada para ele, por favor. Eu sequer conhe\u00e7o o caminho at\u00e9 a biblioteca e, se perguntarem por mim, estarei c\u00e1 com meus bordados ao colo, estagnados, num desenho nunca terminado, porque, caso n\u00e3o saibam (esse segredo \u00e9 nosso), eu nem sei bordar.<\/p>\n

P.s: John Harding, meu amor, deixe as crian\u00e7as dormirem….<\/p>\n

Talita Nogueira \u00e9 poetisa com alma extraterrestre, autora do dinozes.blogspot.com<\/a>, menina, nasceu por acaso e, por acaso, escreve e berra<\/strong><\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Talita Nogueira Depois de um sufoco trancada num quarto, estudando para uma prova e, por achar que sufoco \u00e9 sempre pouco (mentira!), lancei-me no sufoco de A menina que n\u00e3o sabia ler\u00a0(no original em ingl\u00eas, Florence and Giles), de John Harding. Numa leitura desesperada, trancada entre 282 p\u00e1ginas aceleradas, cinematogr\u00e1ficas, asfixiantes… A menina n\u00e3o sabia […]<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":1529,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_mi_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[19],"tags":[],"yoast_head":"\n